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Tanzânia: Igrejas ameaçadas pelo Governo

Aarni Kuoppamäki | nn
5 de janeiro de 2018

As autoridades tanzanianas ameçam proibir as igrejas que interferirem na política depois que um pastor acusou o Governo de transformar o país num Estado de partido único.

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Igreja protestante em Dar es Salaam Foto: picture alliance/Bildagentur-online/Rossi

Na Tanzânia, o papel das igrejas está a ser questionado pelo Governo. Tudo começou com um sermão de Natal na maior cidade do país, Dar es Salaam. Zachary Kakobe, fundador de uma igreja alternativa, acusou o Governo de cingir o país à regra do partido único, ao restringir o espaço democrático da oposição.

A resposta do Governo não demorou: organizações religiosas que "misturam religião e política" podem ser privadas de registo. E, embora a liberdade de religião esteja consagrada na Constituição, as igrejas e comunidades religiosas só podem funcionar com a permissão do Ministério do Interior. Esse é o aviso do secretário de Estado, Projest Rwegasira.

De acordo com Rwegasira, "é difícil diferenciar entre o que é a política e o que é ser crítico em relação ao Governo". Ele alerta que "quando se começa a utilizar o púlpito para discutir as políticas governamentais, está a misturar-se a política com a religião, o que está fora dos seus deveres".

"Os seus deveres são pregar e ensinar a Bíblia e não interferir nos assuntos políticos. Quando saem do âmbito dos assuntos religiosos, estão a violar as condições de registo das suas instituições", afirma o secretário de Estado.

Tanzânia: Igrejas ameaçadas pelo Governo

Repressão

Apesar de o Presidente tanzaniano, John Magufuli, ser elogiado pela luta contra a corrupção e desperdício de recursos públicos, a oposição reclama que o clima político piorou desde a sua última vitória eleitoral, em 2015. Por exemplo, em junho de 2017, a polícia proibiu todos os protestos e manifestações políticas até nova ordem.

Rebekka Rumpel, do instituto britânico Chatham House, diz que "sempre que o Presidente se sentiu ameaçado nos seus dois anos no cargo, teve uma resposta bastante dura, como a detenção de um rapper que falou negativamente sobre ele nas letras das suas músicas, a acusação de pessoas que o insultaram no WhatsApp ou o encerramento de vários meios de comunicação".

Na base da atuação de John Magufuli estará o medo de o seu partido, o Partido da Revolução, perder o domínio eleitoral, já que nas últimas décadas a influência do movimento diminuiu. Dos esmagadores 80% nas eleições presidenciais de 2005, o partido de Magufuli passou para os 63% em 2010 e para os 58% em 2015.

John Magufuli Präsident Tansania
Presidente John Magufuli é acusado de reprimir a oposição e todos que criticam o seu GovernoFoto: Getty Images/AFP/S. Maina

Rebekka Rumpel explica que esta tendência clara mostra que estão a perder o apoio do povo. "A resposta a isso foi tentar intimidar o Chadema, um partido da oposição, e também atacar os membros da sociedade civil que questionam essa restrição à liberdade – por isso, repito, o que está a acontecer não é um incidente isolado", afirma a analista.

Quando as igrejas não são criticadas

Para o bispo Benson Bagonza, da Igreja Evangélica Luterana da Tanzânia, a política e a religião não são temas fáceis de separar. "Penso que temos políticos ingénuos, que realmente não entendem a demarcação entre política e religião. São coisas que não podem ser facilmente separadas".

O bispo também questiona o facto de a religião, muitas vezes, não ser criticada quando exerce funções que as autoridades deveriam assumir. "Quando as igrejas constroem hospitais, escolas, fornecem água, tratam pacientes, não lhes dizem que se estão a intrometer com a política. Mas quando questionam por que não há remédios nos hospitais, são acusados de intrometer-se com a política", pondera o religioso.

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