Síria: EUA prontos para agir e Rússia contra agressão
14 de abril de 2018A Rússia não conseguiu obter apoio junto das Nações Unidas para uma condenação aos ataques lançados pelos Estados Unidos, Reino Unido e França na Síria, este sábado, em resposta a um alegado ataque com armas químicas, na semana passada.
A proposta de resolução da Rússia obteve apenas três votos no Conselho de Segurança, abaixo dos nove necessários para adotar a resolução. Oito países votaram contra e quatro abstiveram-se.
Pouco antes desta reunião, a Rússia distribuiu o projeto de resolução pedindo "a todos os seus membros e a todos os países responsáveis da comunidade internacional para fazerem uma avaliação adequada do ocorrido para excluir a repetição de ações agressivas irracionais, que ameaçam a paz e segurança na região".
O projeto de resolução de cinco parágrafos refere uma "grande preocupação" perante a "agressão" contra um Estado soberano que viola, segundo Moscovo, "o Direito Internacional e a Carta das Nações Unidas".
No início da reunião no Conselho de Segurança, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu que se evite uma situação "fora de controlo" na Síria, mas também que se evite um agravamento do sofrimento do povo sírio.
Na mesma intervenção, o secretário-geral da ONU afirmou que a Síria é atualmente a ameaça mais séria à paz e à segurança internacionais, defendendo que os acontecimentos no território sírio exigem uma solução política e não militar.
EUA preparados
A votação teve lugar pouco depois de os Estados Unidos terem avisado que estão "prontos" a agir novamente caso exista um novo ataque químico na Síria. "Se o regime sírio usar gás venenoso outra vez, os Estados Unidos estão prontos a agir", disse a embaixadora norte-americana junto da ONU, Nikki Haley.
O Reino Unido argumentou que os ataques foram "certos e legais" para aliviar o sofrimento humanitário causado pelo uso repetido de gás venenoso em ataques na guerra síria, que já dura há sete anos.
Os EUA, a França e o Reino Unido realizaram esta madrugada uma série de ataques com mísseis contra três alvos associados à produção e armazenamento de armas químicas na Síria, em resposta a um alegado ataque com armas químicas na cidade rebelde de Douma, em Ghouta Oriental, nos arredores de Damasco.
O presumível ataque químico foi realizado há uma semana e terá provocado mais de 40 mortos e afetado cerca de 500 pessoas.
A reunião de emergência deste sábado, a quinta deste órgão de decisão máximo das Nações Unidas num período de uma semana, foi pedida pela Rússia, aliado tradicional do regime sírio liderado por Bashar al-Assad, horas depois da realização dos ataques.
O embaixador russo, Vassily Nebenzia, acusou o Ocidente de "hooliganismo" e exigiu que "ponha imediatamente fim às suas ações na Síria". "Não estão apenas a colocar-se acima do Direito Internacional, estão a tentar reescrevê-lo", disse Nebenzia após a votação.
Entretanto, o Presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou hoje que, depois dos ataques dos EUA, Reino Unido e França na Síria, o Conselho de Segurança da ONU deve "retomar a iniciativa" política, humanitária e relativa às armas químicas
Exército sírio pronto para proteger o país
O exército sírio afirmou hoje que "continuará a defender a Síria e a proteger os seus cidadãos", após o ataque efetuado pelos Estados Unidos, Reino Unido e França contra posições do regime de Damasco onde alegadamente estavam armas químicas.
Horas depois dos bombardeamentos, o porta-voz do Comando-Geral das Forças Armadas Sírias, Ali Maihub, afirmou num discurso televisivo que estas "agressões não vão deter o exército sírio de continuar a eliminar os grupos terroristas armados".
De acordo com a versão de Maihub, a defesa antiaérea síria destruiu a maioria dos 110 misseis lançados no ataque, que, segundo o Pentágono, visou três objetivos situados perto de Damasco e na província central de Homs.
"Sucesso", diz Trump
O resultado dos ataques "não poderia ter sido melhor", escreveu o Presidente norte-americano, Donald Trump, na rede social Twitter. "Missão cumprida", disse o chefe de Estado norte-americano, frisando que o ataque foi "perfeitamente executado".
Trump também fez questão de agradecer o apoio dos aliados ingleses e franceses. "Obrigado à França e ao Reino Unido pela sua sabedoria e pela capacidade dos seus excelentes exércitos", salientou.
O Pentágono também confirmou o "sucesso” da operação. Numa conferência de imprensa, a porta-voz do Departamento de Defesa norte-americano, Dana White, afirmou que os Estados Unidos atingiram todos os alvos sírios que estavam previstos na ação militar realizada por Washington, Paris e Londres em resposta ao alegado ataque químico na cidade síria de Douma.
"Não tencionamos intervir no conflito na Síria, mas não podemos permitir tais violações das leis internacionais", disse White.
NATO unida
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse que todos os 29 membros da Aliança apoiaram os ataques dos EUA, Reino Unido e França na Síria, na reunião do Conselho do Atlântico Norte que se realizou hoje em Bruxelas.
Stoltenberg acusou a Rússia de ter deixado os países ocidentais sem alternativa, com a persistente obstrução das iniciativas tomadas no Conselho de Segurança da ONU.
"Não digo que os ataques resolveram todos os problemas, mas comparado com a alternativa, não fazer nada, acho que foi a decisão certa", acrescentou.
Stoltenberg apelou à Rússia para demonstrar responsabilidade e frisou que "os aliados manifestaram pleno apoio à ação destinada a danificar a capacidade química do regime e a impedir futuros ataques químicos contra o povo da Síria”.