São Tomé e Príncipe aposta em casas amigas do ambiente
10 de outubro de 2012
Máquinas removem barro, os trabalhadores martelam, em Lobata, no norte da ilha de S. Tomé, criando o ambiente empoeirado de uma área em construção. Mas há diferenças peculiares nesta obra: o barro é utilizado para produzir blocos de adobe, que incluem serradura para dar maior consistência às paredes das futuras casas; a pedra serve para as fundações; o bambu para forrar o teto; e os barrotes para sustentar a cobertura e portas de madeira.
Na verdade, trata-se de uma técnica milenar no arquipélago lusófono que tem agora um conceito inovador: “edificação sustentável”, diz o arquiteto Márcio Holanda que, explica, consiste no “uso nobre dos materiais”.
O que não significa que se “vai extinguir o uso de madeira e de areia, não”, aponta Márcio Holanda, para esclarecer que a sua equipa vai antes “reduzir [o seu uso] a um ponto sustentável. Porque a terra em si é o material mais abundante no planeta inteiro. Em São Tomé, especificamente, pedra é um outro material muito abundante. Dividimos a obra em partes e, para cada parte funcional, escolhemos a tecnologia mais simples, mais acessível e de menor impacto ambiental, que usa os materiais locais”.
Habitações favoráveis à saúde
Além de vantagens para o meio ambiente, o arquiteto defende que as casas inovadoras que nascerão, em breve, em São Tomé e Príncipe trarão também benefícios de saúde para os seus moradores, devido à sua particularidade “bioclimática”.
Este desenho arquitetónico “proporciona conforto natural dispensando assim energia, como ar condicionado, por exemplo, [pois a casa] tem ventilação natural. E isso além de manter uma temperatura interessante dentro, [a terra] retira a humidade. Então, além de ser uma casa mais ecológica, é mais saudável também”, constata Márcio Holanda.
O bairro de casas sociais ficará concluído no final deste ano. Quanto à sua resistência, o responsável aponta que “500 anos é o período de garantia, desde que se tenham alguns cuidados”.
Iniciativas ecológicas para travar a savana
O diretor-geral do Ambiente, Arlindo Carvalho, justifica que, no país, “mais de 90% das casas são feitas em madeira, então decidimos tentar uma tecnologia que pudesse construir casas com materiais alternativos à madeira e à areia”.
Por isso, foi lançado um concurso internacional e, entre as várias ideias, esclarece Arlindo Carvalho, “achamos mais pertinente esta apresentada pela equipa brasileira que é feita com materiais como terra, que nós temos bastante no país, e blocos de adobe feitos de terra".
A iniciativa enquadra-se no Projeto de Adaptação às Mudanças Climáticas, com o objetivo de reduzir a pressão sobre inertes como areia, assim como o abate indiscriminado de árvores para a construção de casas e a produção de carvão. Algumas práticas "insustentáveis" têm destruído praias e nota-se tendência para a seca.
O projeto que está a ser testado no distrito de Lobata tem quatro componentes: água para o abastecimento da população e irrigação, pois o clima é semiárido; agricultura com espécies resistentes à seca; reflorestação para travar a o avanço da savana na região; introdução de energias renováveis, como a fotovoltaica; e a construção de casas com materiais alternativos.
Ela inclui ainda a componente formação para membros da comunidade e representantes de empresas locais de construção.
Autor: Juvenal Rodrigues (São Tomé)
Edução: Glória Sousa/Renate Krieger