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Sudão do Sul tem novo movimento de oposição

Thiago Melo | Saumu Yusuf | AFP | AP | DPA | EBU
10 de abril de 2018

Ex-chefe militar acusado de massacre de rebeldes promete democracia, desenvolvimento e paz com a Frente Unida do Sudão do Sul. Mas analista ouvido pela DW África afirma que este discurso é contraditório.

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Salva Kiir (esq.) com o então chefe do Exército, Paul Malong (dir.), em 2015Foto: picture-alliance/AP Photo/J. Patinkin

O Sudão do Sul tem agora mais um movimento de oposição ao regime do Presidente Salva Kiir. Trata-se da Frente Unida do Sudão do Sul, anunciada esta segunda-feira (09.04) pelo ex-chefe do Exército sul-sudanês Paul Malong, que diz querer acabar com a "carnificina" e levar o país rumo à democracia e ao desenvolvimento. O movimento pretende participar das futuras negociações de paz.

Num comunicado, Paul Malong classifica o seu movimento como "um apelo justo e urgente, uma luta para, em primeiro lugar, interromper a carnificina da guerra civil e, em segundo lugar, conduzir o país à democracia e ao desenvolvimento".

O ex-chefe militar descreveu a Frente Unida do Sudão do Sul como um "exército" e apresentou-se como o "comandante supremo", ao mesmo tempo em que falava da promoção da paz e acusava o Presidente Salva Kiir de ser incapaz de pacificar o país.

Paul Malong também informou que o seu movimento irá juntar-se à Aliança de Oposição do Sudão do Sul – uma coligação de grupos armados formada em dezembro passado, depois de um acordo de cessar-fogo de curta duração celebrado com o Governo.

Sudão do Sul tem novo movimento de oposição ao regime de Salva Kiir

Contradição

Após o anúncio do ex-chefe do Exército sul-sudanês, a DW África ouviu em Nairobi, no Quénia, um analista político e antigo conselheiro do Parlamento do Sudão do Sul. Para Martin Oloo, é difícil distinguir os grupos de oposição dos rebeldes no Sudão do Sul.

"A diferença entre a oposição e a política rebelde em África é muito pequena e quando se olha para o contexto do Sudão do Sul, a oposição transforma-se em rebelião, em guerra", avalia. "Assim, o anúncio da formação de um movimento para se opor aos que estão no poder também quer dizer que estão prontos para usar a força. Por isso, é difícil separar a política de oposição e rebelião no Sudão do Sul", considera Martin Oloo.

Sobre os principais objetivos do novo movimento oposicionista anunciado por Paul Malong, o analista diz que "Paul Malong tem sido um grande obstáculo para a democracia do Sudão do Sul".

De acordo com Oloo, Malong foi governador de um dos Estados sul-sudaneses e general do Exército, el utou várias batalhas e foi usado pelo Presidente Salva Kiir para reprimir os membros do líder opositor Riek Machar. "Então, quando ele diz que está a buscar reformas constitucionais, isto faz pouco sentido, porque ele não é conhecido por ser um democrata, mas pela guerra e insurreição", considera.

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Campo de deslocados da guerra civil no Sudão do Sul (2016)Foto: Reuters/A. Ohanesian

Massacre de rebeldes

Paul Malong tornou-se chefe do Exército em janeiro de 2014 e foi o responsável pelo massacre do grupo rebelde do ex-vice-Presidente Riek Machar, da etnia nuer, depois de Salva Kiir acusar Machar de arquitetar um golpe de Estado.

O então chefe militar foi sancionado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela União Europeia (UE) devido à guerra civil provocada pelos embates contra os rebeldes, que deixaram dezenas de milhares de mortos e outros milhares de deslocados. Em setembro do ano passado, também os Estados Unidos acusaram Malong e outros altos funcionários de contribuírem para "desestabilizar o Sudão do Sul" e impuseram sanções contra eles.

Em maio, Paul Malong foi demitido pelo Presidente Salva Kiir e mantido em prisão domiciliar. Quando foi libertado, viajou ao Quénia para tratamento médico e nunca mais regressou ao Sudão do Sul. Desde então, é visto pelo regime de Salva Kiir como um rebelde. Os seus seguidores também são acusados de ataques contra o Governo.

Südsudan Juba - Riek Machar, Salva Kiir
Riek Machar (esq.) e Salva Kiir (2016)Foto: picture-alliance/AP Photo/J. Patinkin

Negociações de paz

Da etnia dinka, tal como o Presidente Salva Kiir, Paul Malong tem um apoio significativo dentro da sua comunidade. O ex-chefe militar disse que pretende participar das negociações de paz que devem ocorrer no final deste mês em Adis Abeba, na Etiópia.

Em entrevista à DW África, o investigador do instituto britânico Chatham House Ahmed Soliman afirmou que o novo movimento não deverá mudar o rumo das negociações de paz.

"Não tenho certeza se [este movimento] será incluído. Já há vários grupos de oposição envolvidos neste processo. Imagino que o Governo ainda não foi informado oficialmente sobre o movimento e acredito que deve estar bastante reticente quanto a Paul Malong", disse Ahmed Soliman.

Grupos humanitários continuam a denunciar que a violência da guerra civil ainda faz vítimas e causa destruição no Sudão do Sul. Em julho, o país deve realizar eleições gerais.

Thiago Melo da Silva
Thiago Melo Jornalista da DW África em Bona