Sissoco: "A Guiné-Bissau mudou claramente pela positiva"
16 de novembro de 2023As comemorações dos 50 anos da independência da Guiné-Bissau decorreram nesta quinta-feira (16.11), Dia das Forças Armadas, data escolhida pelo Presidente do país, Umaro Sissoco Embaló, general na reserva, dividindo opiniões.
A celebração oficial do dia da independência não ocorreu na data que marca a declaração unilateral da independência pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo-Verde (PAIGC), em 24 de setembro de 1973.
As cerimónias desta quarta-feira decorreram na remodelada Avenida Amílcar Cabral, no centro da capital guineense, na presença de cerca de uma dezena de chefes de Estado e mais de vinte delegações estrangeiras. O ato contou com desfiles e demonstrações de vários ramos das Forças Armadas e de segurança da Guiné-Bissau.
No seu discurso, o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, enalteceu as conquistas do país no cenário internacional desde que assumiu o poder em 2020.
"Nos últimos pouco mais de três anos, a Guiné-Bissau conseguiu ganhar, de novo, uma visibilidade internacional positiva, reposicionando-se no concerto das Nações. Diante desta nova realidade, uma conclusão impõe-se: a Guiné-Bissau realmente mudou claramente pela positiva", declarou.
O chefe de Estado destacou como período negro os acontecimentos de 2022, referentes à alegada tentativa de golpe de Estado, e apelou à realização da justiça sobre o caso. Sissoco Embaló firmou que, apesar dos avanços, o país ainda apresenta problemas na área da defesa e segurança, passados 50 anos da independência.
"Aquele ataque armado de 01 de fevereiro de 2022, visou diretamente a pessoa do Presidente da República e provocou uma irreparável perda de vidas. Hoje, o caso está entregue à justiça e aguarda o seu julgamento. Espero que se faça justiça e que ponha um ponto final à impunidade e que afirme a autoridade do Estado de Direito Democrático."
"Acabou o Estado da Guiné-Bissau"
O Presidente guineense destacou o papel das Forças Armadas para a estabilização do país e é no dia delas que decidiu comemorar os 50 anos da independência, autoproclamada em 24 de setembro de 1973, nas matas das colinas de Boé.
No dia dos 59 anos das Forças Armadas Revolucionárias do Povo (FARP), o analista político Rui Landim expressou preocupação, afirmando que o sonho dos que lutaram para a independência está em desaparecimento. "Infelizmente, podemos dizer hoje que toda esta conquista está em perigo e em desaparecimento, porque, sobretudo nos últimos cinco anos, acabou o Estado da Guiné-Bissau e foi destruído."
Em 16 de novembro, celebra-se o Dia das Forças Armadas, criadas nesse dia, em 1964, durante a luta de libertação nacional. As celebrações deste ano coincidiram com as do quinquagésimo aniversário da Guiné-Bissau, realizadas em 24 de setembro pela Assembleia Nacional Popular (ANP), em Lugadjol, local onde o Estado foi proclamado em 1973.
A mudança na data das celebrações gerou desentendimento entre o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, e o presidente do Parlamento Domingos, Domingos Simões Pereira.
"Celebrámos o dia das Forças Armadas"
Após as cerimónias nesta quinta-feira, Simões Pereira esclareceu à DW África que o que se celebrou foi o Dia das Forças Armadas. "A celebração do Dia das Forças Armadas, é isso que me está a perguntar? Nós celebramos a independência no dia 24 de setembro."
O Presidente do Parlamento espera que as celebrações de 16 de novembro signifiquem a unidade dos guineenses. "Esperemos que isso signifique a unidade e possa criar as condições para o futuro ser de paz", afirmou o líder do PAIGC, partido libertador guineense.
O Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, condecorou várias personalidades, incluindo o primeiro-ministro português demissionário, António Costa, com a "Ordem Nacional de Colinas de Boé". Embaló inaugurou também uma rua em Bissau, batizada com "Presidente Marcelo Rebelo de Sousa".
No entanto, o analista político Rui Landim criticou a presença de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, questionando a relevância dada aos eventos na Guiné-Bissau.
"Se Marcelo e outros quisessem a boa imagem da Guiné-Bissau, não vinham cá, com o problema que têm lá [em Portugal], de corrupção que está a ser investigado. Marcelo, se alguém assaltar o Supremo Tribunal ou se você fizer isso ou espancar um deputado, você conta com o apoio de quem? Aquilo que acontece neste país não é importante", questiona ainda o politólogo guineense, Rui Landim.