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DesastresTurquia

Sismo na Turquia: O que falhou por parte do Estado?

Karin Senz | af
14 de fevereiro de 2023

O número de vítimas do terramoto na Turquia deverá ainda aumentar. Em 1999, houve quase 18.000 mortos. Na altura, pensava-se que nada semelhante voltaria a acontecer. Agora, o Estado é criticado por falhas na prevenção.

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Foto: Serdar Ozsoy/IMAGO

Há mais de uma semana, a Turquia era atingida pelo mais mortífero sismo na história do país e um dos 10 maiores sismos já registados no mundo.

O fenómenoque abalou o sudoeste do país e o noroeste da Síria já provocou até ao momento a morte de pelo menos 33 mil pessoas.

As Nações Unidas já estimam que mais de 50 mil pessoas morreram no terramoto na Turquia. Um novo recorde no país, que ultrapassa as 18 mil mortes registadas no sismo de 1999.

Vinte e quatro anos depois, o que terá falhado em termos preventivos? Cemal Gökce, antigo presidente da Câmara Turca de Engenheiros Civis, diz que o grande problema foi a construção de edifícios não resilientes a terramotos.

"Os edifícios construídos de acordo com os regulamentos não colapsam. Para nós, engenheiros, um edifício pode ter danos, mas não deve ruir. Não deve haver mortes", diz.

Apesar da devastação, houve edifícios que resistiram ao fenómeno. "Os edifícios em que não morrem pessoas foram construídos de acordo com os regulamentos. Estes são então edifícios controlados.", explica Gökce.

ONU calcula que mais de 50 mil pessoas tenham morrido na Turquia
ONU calcula que mais de 50 mil pessoas tenham morrido na TurquiaFoto: Murat Kocabas/ZUMA/IMAGO

Críticas a construtoras

Uma semana depois da tragédia, várias equipas de resgate continuam à procura de sobreviventes e corpos nos escombros dos edifícios colapsados.

Cemal Gökce critica a falta de seriedade de algumas empresas de construção civil, para a realização de testes anti-sismo dos edifícios alegando ser caro.

Oya Özarslan, da organização Transparência Internacional na Turquia, concorda que há uma certa promiscuidade na construção dos edifícios públicos, dando como exemplo o aeroporto de Hatay que foi erguido num local impróprio, apesar dos alertas de peritos.

"O aeroporto de Hatay foi construído num local onde havia um lago. Secaram-no e depois construíram lá o aeroporto. Isso foi um erro desde o início. E agora comprovou-se", afirma.

Hatay é uma das regiões onde o último terramoto causou muitos danos. Várias infraestruturas públicas e privadas foram deitadas abaixo.

Equipas de resgate continuam à procura de sobreviventes
Equipas de resgate continuam à procura de sobreviventes Foto: Murat Kocabas/ZUMA/IMAGO

Regras não são respeitadas

Segundo Cemal Gökce, "há um problema básico na Turquia: a construção de novos andares em cima de edifícios antigos, sem prestar atenção às regras. O peso destes novos andares exerce pressão sobre as estruturas, de modo a que caiam mesmo sem um terramoto."

Após o terramoto de 1999, o governo turco introduziu um imposto sísmico. O dinheiro dos impostos serviria para reforçar ou demolir edifícios que não eram à prova de terramotos e construir novos edifícios.

No entanto, este fundo acabou por ser utilizado para a construção de estradas e não de edifícios resistentes aos terramotos, afirma Cemal Gökce.

Entretanto, a justiça turca instaurou vários processos contra construtoras, engenheiros civis e fiscais de vários edifícios que ruíram devido ao último sismo.

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