Serão enviadas mais tropas para defender capital da República Centro-Africana
Segundo o general Jean-Félix Akaga, comandante da força multinacional da África central (FOMAC), outros militares vão juntar-se para reforçar a missão de segurança no território centro-africano.
Criada em 2008, a FOMAC conta com 500 soldados oriundos do Gabão, da República Democrática do Congo, do Chade e dos Camarões. Porém, muitos observadores afirmam que esta força multinacional africana terá dificuldades em travar o avanço dos rebeldes que estão praticamente às portas de Bangui.
Depois de terem ocupado na passada terça-feira (18.12) Kaga Bandoro, uma cidade importante do centro-norte a 300 quilómetros da capital, a coligação Séléka continuou a avançar nas últimas horas e estaria apenas a 75 quilómetros de Bangui.
Em 15 dias, o avanço desta coligação, que reúne várias rebeliões, foi muito rápido, face a um exército centro-africano mal equipado, mal treinado e mal organizado, segundo várias fontes.
População de Bangui ansiosa e preocupada
Em Bangui, a população aguarda com muita ansiedade e preocupação o desenrolar dos acontecimentos. Existem, contudo, várias mensagens contraditórias difundidas pela própria coligação Séléka.
Embora a rebelião esteja a avançar com uma certa rapidez, os rebeldes insistem em afirmar que não vão entrar na capital Bangui e que o Presidente François Bozizé "já perdeu o controle do país".
No entanto, os habitantes de Bangui temem o que poderá acontecer a seguir, como explicou à DW África Gandao Gilbert, professor de economia na Universidade de Bangui: "Existe um clima preocupante. A capital Bangui está separada do interior do país e é precisamente essa região que abastece em viveres toda a população da capital."
Ainda de acordo com Gilbert "se a atual situação durar muito tempo, seremos privados de todos os alimentos que são produzidos no interior e será uma autentica catástrofe", alerta.
A Organização das Nações Unidas (ONU) e várias capitais ocidentais estão prudentes e seguem atentamente a situação, para além de já terem ordenado a "retirada temporária" de Bangui do pessoal não essencial das suas respetivas missões diplomáticas.
Bozizé pede ajuda a França e Estados Unidos
Na manhã desta quinta-feira (26.12.), e face ao avanço da rebelião, o Presidente da República Centro-Africana, François Bozizé, apelou à França e aos Estados Unidos da América para que o ajudem a travar o grupo rebelde Séléka.
Em resposta, o Presidente francês, François Hollande, declarou que a presença militar francesa na República Centro-Africana não serve para "proteger um regime" contra o avanço dos rebeldes, mas para proteger os cidadãos e interesses franceses.
Cerca de 250 militares franceses estão no país integrados numa missão internacional da Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC), contribuindo com a segurança geral do país e com a reconstrução das forças armadas.
A CEEAC já enviou para a República Centro-Africana uma delegação para tentar uma mediação entre a Séléka e o poder de Bangui, enquanto os rebeldes afirmam ter pegado em armas a 10 de dezembro apenas com a intenção de fazer respeitar os acordos de paz concluídos em 2007 e 2011.
"Os rebeldes exigem o dinheiro previsto para a reinserção civil dos ex-combatentes e que no âmbito desses acordos deveriam ser desarmados e desmobilizados", explica Thierry Vircoulon, da International Crisis Group.
O especialista acrescneta ainda que "isso não foi feito e também não foi cumprida uma outra exigência que deveria beneficiar os ex-combatentes num programa de reinserção na vida civil e que previa a criação de postos de trabalho".
Falta de diálogo dificulta situação
Para o professor Gandao Gilbert, existiu e existe até hoje falta de diálogo. "Creio que houve algum problema na aplicação das resoluções saídas de algumas negociações ou diálogos. Esta ausência, este défice de diálogo, fez com que chegássemos à situação em que se encontra hoje a República Centro-Africana", esclarece.
Gilbert espera que brevemente tenham lugar negociações entre os rebeldes e o poder. "A tomada do poder através da força preocupa-nos muito, porque existe o perigo do desencadear de atos de violência, violações, destruições, etc. Vivemos no passado este tipo de situação e ninguém quer que isso se repita", adverte o docente.
Desde 10 de dezembro, as organizações humanitárias presentes na República Centro-Africana estão preocupadas com a situação dos deslocados que fogem com medo dos combates, mesmo que o avanço dos rebeldes não pareça, por enquanto, ter provocado consequências humanitárias graves.
Pelo menos dois mil habitantes, na sua maioria mulheres e crianças, terão fugido para o norte da vizinha República Democrática do Congo.
Autores: Philipp Sandner/António Rocha/AFP
Edição: Madalena Sampaio/Nádia Issufo