Segunda volta das legislativas no Mali
13 de dezembro de 2013
Neste momento, não parece haver solução para o conflito no norte do Mali. No final de novembro, os rebeldes tuaregue separatistas do Movimento Nacional para a Libertação de Azawad, MNLA na sigla francesa, rescindiram o acordo de cessar-fogo com o Governo, na sequência de confrontos sangrentos com o exército maliano. Tratou-se de um revés importante para o presidente Ibrahim Boubacar Keita (IBK), no cargo desde 4 de setembro, ou seja, há cem dias. O balanço destes cem dias é magro.
Para além do conflito no norte, IBK tem três grandes desafios pela frente: após ano e meio de crise política, a economia está de rastos. Só a corrupção e o crime organizado crescem. O Governo é ainda acusado de colocar entraves à liberdade de imprensa.
Primeira volta sem maioria absoluta
Agora depende do resultado das eleições legislativas de domingo (15.12) se o Presidente vai enfrentar uma oposição forte. Na primeira volta, na qual nenhum partido obteve a maioria absoluta, apenas 38,5% dos seis milhões e meio de eleitores foram votar.
Julia Leininger, coordenadora para a África do Instituto Alemão de Política de Desenvolvimento (DIE), diz que o desinteresse se deve à falta de um combate sério contra a corrupção: “A luta contra a corrupção marcou a democratização desde 1992. Foi uma promessa na campanha do primeiro Presidente livremente eleito, que a cumpriu de uma forma relativamente consequente. Esta luta esmoreceu no mandato de Amadou Toumani Touré. A corrupção voltou a aumentar. Para a população parece evidente que a elite política é corrupta. O que contribuiu para a perda de confiança”.
Muitos políticos malianos enriqueceram com negócios ilícitos
Os países doadores insistem no combate contra a criminalidade organizada. Mas há muitos políticos no país que enriqueceram com o tráfico de armas, drogas, seres humanos e viaturas. Por isso o Presidente “tem pouco interesse em combater o mal”, diz Leininger.
Também o processo de paz no norte está num impasse. Georg Klute, especialista em política africana na Universidade alemã de Bayreuth, diz que o facto se deve ao procedimento “pouco construtivo” de IBK: “O Presidente adoptou uma estratégia de esperar para ver. Nem Boubacar Keita nem outras forças políticas no sul apresentaram propostas para alterar a estrutura política do Mali. O Presidente disse claramente estar na disposição de negociar tudo menos a autonomia e a independência”. Esta é a reivindicação central dos tuaregues há décadas. Por isso aproveitaram a queda do Presidente Touré num golpe de Estado (2012) para desencadear uma rebelião, juntamente com grupos islamistas fundamentalistas. Só a intervenção militar da França impediu a secessão. Mas os novos dirigentes não agarraram a oportunidade, diz George Klute: “Não parece, e Keita já o disse, que Bamaco queira proceder a uma descentralização das estruturas políticas ou negociar uma estrutura federal”.
Berlim promete continuar a apoiar o Mali
Na passada quarta-feira (11.12), o Presidente maliano, Ibrahim Boubacar Keita, visitou Berlim. Na ocasião, a chanceler alemã, Angela Merkel, considerou que o Mali está no bom caminho e que o país fez grandes progressos: "Nós estamos muito interessados em ver no êxito do desenvolvimento do Mali".
A chanceler alemã prometeu a continuação da estreita cooperação e assistência para a reconstrução daquele país da África ocidental. Recentemente, a Alemanha prometeu ao Mali 100 milhões de euros de ajuda. E em Berlim, o Presidente do Mali disse prometeu que "a gestão desta soma requer da equipa responsável competência, rigor, probidade e integridade. Ela prestará contas por cada cêntimo de assistência ao Mali. Esta é para nós uma questão de honra, mas também de dignidade" sublinhou IBK.
Tanto Keita como Merkel lembraram que a Alemanha foi o primeiro país a reconhecer a independência do Mali em 1960. Mas os agradecimentos de Keita visavam mais a assistência actual. O Presidente maliano salientou o apoio logístico prestado por Berlim, que contribuiu igualmente para a formação militar do exército do seu país.
Após um golpe de Estado militar em 2012 e a revolta no norte do país, a França intervira militarmente no Mali para restabelcer a ordem. A Alemanha apoiou a Operação “Serval” lançada por Paris com aviões de transporte, entre outros.
Desde então Berlim esforça-se por contribuir para a estabilidade e a segurança no Mali através de programas de formação militar.