Saxofonista Manu Dibango morre vítima de coronavírus
24 de março de 2020O saxofonista Manu Dibango, natural dos Camarões, morreu esta terça-feira (24.03) de madrugada num hospital da região de Paris.
O músico, conhecido como "Papy Groove", é uma das primeiras estrelas globais a morrer de Covid-19. Estava hospitalizado desde a semana passada.
"As cerimónias fúnebres vão decorrer de forma restrita, em ambiente familiar, mas vai ser realizada uma homenagem assim que seja possível", refere uma publicação na página oficial de Facebook do artista.
Reconhecido em vida
O músico ganhou fama com "Soul Makossa" de 1972, um dos primeiros temas de afro-jazz conhecido mundialmente.
A música era inicialmente o lado B de um single (45rpm) que continha um hino de homenagem à equipa de futebol dos Camarões, por ocasião da Copa Africana, em 1972. Logo após a edição do primeiro disco, também denominado de "Soul Makossa", a música de Manu Dibango foi notada pelas estações de rádio de Nova Iorque.
Sucederam-se êxitos como "Manu 76" e "Super Kumba", antes de atuar ao vivo no Olympia, em Paris, a consagração na capital francesa, que deu origem ao seu álbum de 1978.
"The World of Manu Dibango", "Afrovision", "Sun Explosion", "Ambassador", "Waka Juju" e "Mboa" firmaram o seu nome nos anos seguintes. "Wakafrika", a coletânea "African Soul" e "CubAfrica" são edições mais recentes que testemunham a capacidade de síntese de Manu Dibango, com raiz na música de tradição africana
A luta pelos direitos de autor
Nos anos 80, a música "Soul Makossa" voltou à ribalta, mas por motivos desagradáveis.
Manu Dibango acusou o norte-americano Michael Jackson (1958-2009) de plágio. Alegadamente, Jackson terá usado o refrão de "Soul Makossa" num dos seus êxitos do álbum "Thriller" (1983), "Wanna Be Startin 'Somethin". Os dois artistas chegaram a um acordo financeiro extrajudicial como forma de compensação pelos direitos de autor.
Em 2004, o músico camaronês foi nomeado Artista para a Paz pela UNESCO como "reconhecimento à sua excelente contribuição para o desenvolvimento das artes, da paz e do diálogo entre as culturas do mundo inteiro", pode ler-se no site da organização.
Uma das bandeiras de Manu Dibango, destacada pela UNESCO, era a da defesa "incansável pelos direitos de autor dos artistas, principalmente em África, e apoio na luta contra a pirataria de obras musicais".
Colaborações
O músico camaronês também deixou a sua marca no cinema. Compôs para o filme de 2002 "Nha Fala", do realizador guineense Flora Gomes.
Manu Dibango, que trabalhou com o músico e escritor cabo-verdiano Mário Lúcio, e o grupo Simenteira do ex-ministro da Cultura, foi presença regular em Cabo Verde, onde também participou no Kriol Jazz Festival, dedicado às "músicas do mundo".
Em 2018, atuou com o saxofonista moçambicano Moreira Chonguiça na 30.ª edição do Afrika Festival, em Würzburg, na Alemanha.