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HistóriaAlemanha

Como a África Oriental combateu a repressão colonial

Cai Nebe
10 de janeiro de 2024

Na África Oriental e região dos Grandes Lagos, a ambição colonial alemã começou como um exercício anti-escravatura. Mas, em 1907, muitas terras estavam já sob domínio alemão, o que motivou uma corajosa resistência.

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A luta contra o colonialismo é uma história de resistência africana
Foto: Comic Republic

Porque é que a Alemanha reivindicou terras na África Oriental?  

Inicialmente, a presença alemã na África Oriental limitava-se à apropriação de terras por parte de empresários como Carl Peters. Na Conferência de Berlim de 1885, a Alemanha reivindicou territórios na atual Tanzânia, Ruanda e Burundi, o que lhe deu autoridade para estabelecer, controlar e proteger rotas comerciais. 

Como é que o colonialismo alemão se tornou tão violento?

Em 1888, as colónias alemãs na costa da África Oriental foram atacadas durante a Revolta Árabe ou Abushiri. A revolta foi levada a cabo por variados atores na costa suaíli ligados ao líder local Abushiri bin Salim al Harth, que não queriam que a Alemanha ameaçasse as suas lucrativas rotas de comércio de marfim e escravos. Ironicamente, a Alemanha justificou o uso de armas e munições como meio para acabar com o tráfico de escravos. Na realidade, porém, as armas e os soldados eram utilizados para proteger os interesses alemães. 

Soldados alemães na África Oriental Alemã, 1984
Soldados alemães na África Oriental Alemã, 1984Foto: Heinz-Dieter Falkenstein/Zoonar/IMAGO

A Alemanha tinha uma presença militar?

Inicialmente, a célebre Wissmann Truppe, precursora da Schutztruppe ou Força de Proteção, dirigida por Hermann von Wissmann, percorreu a África Oriental com armas modernas e de disparo rápido, como a nova metralhadora Maxim. Este grupo, embora servisse claramente interesses alemães ou privados, operava com pouca supervisão. Eles não eram uma milícia oficial alemã, uma vez que a maioria dos membros eram recrutas africanos - ou Askaris. Estes homens, sob a direção de alguns oficiais alemães, foram cruciais nas atrocidades que caracterizaram o domínio alemão na África Oriental. Seguiram-se enforcamentos, violações e pilhagens. Em 1890, a costa da África Oriental estava sob controlo alemão. 

Os colonos dirigiram-se então para o interior, em direção ao Lago Tanganica, onde encontraram forte resistência, com destaque para o líder WaHehe Mkwawa. 

Mkwawa, líder do povo Hehe
Mkwawa era o líder do povo HeheFoto: Carola Frentzen/dpa/picture alliance

Quem era o chefe Mkwawa?

Era o líder do povo Hehe, que vivia na região de Iringa, na atual Tanzânia. Mkwawa era um diplomata astuto e um grande estratega militar, o que ficou demonstrado no seu confronto com o comandante colonial alemão Emil Zelewski, que, segundo alguns historiadores, desencadeou a Revolta Árabe de 1888. Zelewski foi incumbido de destruir os Hehe e utilizou a "tática da terra queimada": incendiou quintas e matou gado.

Armados com lanças e algumas armas, os Hehe cercaram e mataram a maioria das forças de Zelewski, incluindo Zelewski, em 1891. Foi uma derrota embaraçosa que os colonialistas alemães não esqueceriam. No entanto, apesar de terem travado uma guerra de guerrilha, Mkwawa acabou por ser encurralado, optando por se suicidar na região de Iringa, em 1898. Mkwawa era tão odiado pelos colonialistas alemães que, após a sua morte, a sua cabeça foi levada para Berlim.

O que aconteceu a Mangi Meli?

Mangi Meli, um governante Chagga das encostas do monte Kilimanjaro, também foi atacado e obrigado a render-se. Juntamente com outros nobres Chagga, foi enforcado em 1900 por traição. Os assassinatos não só destruíram a liderança local, como foram exacerbados quando as autoridades coloniais alemãs decapitaram Mangi Meli e enviaram o seu crânio para Berlim, alegadamente para investigação antropológica e científica sobre racismo. Até hoje, o crânio de Mangi Meli não foi devolvido.

O que foi a rebelião Maji Maji?

Em 1905, o líder espiritual Kinjeketile Ngwale conseguiu reunir mais de 20 comunidades. Juntos, partiram para uma revolta contra o domínio alemão, os impostos e o trabalho forçado. Kinjekitile é uma figura algo controversa, pois para convencer os povos indígenas a combater os invasores alemães, prometeu-lhes proteção com água medicinal.

Kinjekitile, que se assumia como um médium espiritual, convenceu os povos a consumir uma poção de sorgo e água, que transformaria as balas dos colonizadores em água. Isto inspirou o que ficou conhecido como rebelião Maji Maji, embora alguns historiadores argumentem que a profecia de Kinjeketile surgiu numa altura em que a população local não tinha outra alternativa senão revoltar-se contra o domínio alemão. 

Kinjeketile Ngwale e a Rebelião Maji Maji

Embora nos confrontos iniciais tenham sido mortos alguns missionários e colonos alemães, a rebelião Maji Maji enfrentou uma série de medidas punitivas adotadas pelas autoridades coloniais. Kinjeketile foi executado em 1905. 

Mesmo após a sua morte, a Schutztruppe continuou com "táticas da terra queimada", execuções e terror na África Oriental.

A revolta durou até 1907 e custou a vida a mais de 120.000 pessoas, havendo estimativas que apontam para 300.000. Muitas destas pessoas morreram de fome e de doença.