RENAMO "humilhada" quer destronar FRELIMO
19 de dezembro de 2012O encontro da cúpula e quadros do partido segue-se ao falhanço das negociações com o Governo na busca de soluções para as preocupações apresentadas pela RENAMO. Menos de 24 horas depois da última reunião com as forças governamentais, a formação política iniciou esta terça-feira (18.12) um encontro que reúne a cúpula do partido e outros quadros na Gorongosa, local que serviu da sua base central durante a guerra civil.
Uma fonte do partido confirmou à DW África que o encontro é dirigido pelo líder daquela formação política, Afonso Dlakhama, que se encontra instalado na Gorongosa há dois mêses (desde 17.10). António Muchanga, Membro do Conselho de Estado designado pela RENAMO revelou que o partido pretende acionar um mecanismo para levar a FRELIMO a sair do poder.
"Fazer tudo para que a FRELIMO saia do poder"
Muchanga diz que os membros do seu partido estão "a ser humilhados" no país que os viu nascer. E questiona: "Qual é a diferença entre os dirigentes da FRELIMO e os dirigentes do regime colonial português fascista? Não há nenhuma". Por isso, afirma, terão que "fazer tudo para que a FRELIMO saia do poder".
Para António Muchanga, "a FRELIMO perdeu uma oportunidade", já que foi convidada a conversar com a RENAMO de forma a "poder fazer parte do provável governo de transição que poderia eliminar essas sequelas todas" enumeradas pelo partido da oposição. "A FRELIMO negou, portanto terá que se sujeitar àquilo que está a ser sujeito o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) da Guiné-Bissau", conclui.
O analista político Salomão Moyana não acredita que as ameaças da RENAMO serão concretizadas. "Esse é um encontro de frustração. Tentou encontrar uma saída à mesa de conversações, não conseguiu", afirma o especialista, que acredita que os encontros de Gorongosa "vão terminar com uma ameaça de 'no dia X vamos fazer uma manifestação à escala nacional', depois, quando o dia se aproximar, vão dizer que adiam a manifestação para uma outra data". "Tem sido assim nos últimos 3 anos", diz Salomão Moyana.
António Muchanga, por sua vez, reafirmou que o seu partido vai realizar manifestações à escala nacional, uma vez que, com o falhanço das conversações, já não há espaço para diálogo.
Manifestações à vista, promete RENAMO
"Antes das eleições há-de haver transição, isso é uma coisa muito rápida", considera, explicando que as eleições "poderão ter lugar lá para setembro" e que "antes de se chegar aí, há coisas que devem acontecer e essas coisas é que vão determinar se há condições para se participar nas eleições ou não". À pergunta "que coisas são essas?", Muchanga não hesita: "são as manifestações".
Enquanto a RENAMO participava em conversações bilaterais com o Governo, nas quais manifestou a sua oposição ao pacote eleitoral para os próximos pleitos, que estava em debate no parlamento, o documento era aprovado neste órgão com o voto da maioria absoluta da FRELIMO e do partido MDM.
O comentarista Salomão Moyana lamenta que a RENAMO tente apresentar-se sempre como excluída nos processos eleitorais, afirmando que o partido o faz para "depois poder trabalhar a jusante, onde luta com duas posições". "Ou aceitam todas as suas exigências e assim participa nos pleitos eleitorais ou estrategicamente diz que não participa porque não está de acordo com a legislação eleitoral, mas, no fundo, não participa porque não está preparada", considera o analista.
Salomão Moyana defende que a RENAMO poderá mesmo sair penalizada com a sua postura de autoexclusão dos processos eleitorais e admite que, em consequência disso, poderão registar-se mais deserções do partido, tal como aconteceu no passado, com muitos dos militantes que viriam a filiar-se noutras formações políticas.
Autor: Leonel Matias (Maputo)
Edição: Maria João Pinto / António Rocha