Rebeldes independentistas evidenciam insatisfação com pobreza na RDC
A invasão da capital da província do Katanga, Lubumbashi, por cerca de 300 rebeldes no passado dia 23 de março foi chocante mas de pouca dura: após uma curta escaramuça, a maioria procurou refúgio no quartel-general da missão das Nações Undias no Congo Democrático, de onde partiram para a capital do país, Kinshasa, dois dias mais tarde.
O ataque resultou na morte de 26 pessoas, quase todas pertencentes ao grupo de rebeldes. Ulrike von Baggehufwudt, que trabalha para a organziação não governamental congolesa "Serviço de Apoio ao Desenvolvimento Regional Integrado", em Lubumbashi, diz que grande parte dos combatentes eram crianças. "Pareciam subnutridas e estavam num péssimo estado. Provavelmente também estavam mal armados. Há muita gente que diz que não representavam qualquer ameaça", descreve.
Insatisfação deve ser levada a sério
No Katanga há varios grupos dos chamados rebeldes Mai-Mai. As Nações Unidas partem de um total de 2 mil combatentes. Alguns exigem a independência, como os Kata Katanga, que significa, literalmente, "cortem o Katanga do resto do país".
Há políticos que os consideram criminosos. Mas a ativista alemã pela paz, von Baggehufwudt, realça que os rebeldes não foram impedidos de entrar na cidade e que foram recebidos com euforia por parte da população. Por isso a insatisfação deve ser levada a sério.
É uma opinião partilhada por Henri Muhiya, encarregado de questões de matérias-primas pelo Episcopado Nacional do Congo: "Estas pessoas sentem que não participam da riqueza gerada pelas matérias-primas aqui exploradas. Por exemplo, a estrada de Lubumbashi para Kolwezi ainda não está completamente alcatroada. E as pessoas acham isto muito injusto", explica.
Cobre, cobalto e urânio
A riqueza em matérias-primas desta província famosa pelos jazigos de cobre é lendária. Para além do cobre encontra-se aqui também cobalto e urânio.
Em 1960, poucos dias após a independência, o governador da província, Moise Tshombe, declarou o Katanga independente, mergulhando a região numa violenta e longa guerra civil.
Ainda hoje a província é considerada perigosa. Para alem dos Kata Katanga, um outro grupo de rebeldes Mai-Mai em torno de Gédéon Kyungu Mutanga, libertado da prisão em 2011, espalha o medo através de assaltos. A população chama à província o "Triângulo da Morte".
A situação preocupa o ministro do Interior da RDC, Muyej Mangez. O político propõe a descentralização como solução, tal como ancorada na Constituição de 2006. Esta garante que 40% dos rendimentos das matérias-primas permaneçam na região, o que é também uma das principais reivindicações dos rebeldes.
Mas o ministro pede paciência: "A República Democrática do Congo herdou um legado difícil: três décadas de ditadura. Vai ser necessária uma pequena revolução para conseguir mudanças a diversos níveis", afirma.
A descentralização daria uma maior autonomia ao Katanga. Este poderia ser um compromisso viável para as pessoas que continuam a sonhar com a independência, na condição da população beneficiar sensivelmente da instalação de um estado descentralizado.