Reabertura do Teatro Nacional é símbolo de vida e paz na Somália
23 de março de 2012Há muito tempo não se via ou ouvia, no Teatro Nacional, músicas e danças tradicionais. A última cortina caiu há mais de 20 anos. Na capital assolada pela guerra, a população lutava apenas pela sobrevivência.
O teatro caiu em esquecimento, tanto mais que o seu palco era usado sobretudo como local de acampamento de senhores da guerra, que se preparavam aqui para os combates.
Mas há alguns meses regressou uma certa paz à capital somali. E o teatro foi solenemente reaberto no dia 19 de março. O presidente Sheikh Sharif Ahmed considerou, na altura, que a cultura é um dos pilares do processo de paz.
"Estou muito contente por poder estar aqui esta noite. Queremos dar às pessoas a possibilidade de olharem em frente e esquecerem, por uns momentos, os horrores que o nosso país atravessou. Que a violência termine enfim! Começa agora uma nova era de paz, crescimento e espírito de comunidade", declarou.
Paz é processo recente
O próprio teatro mostra que este é um processo muito recente. O edifício não tem telhado, as paredes estão marcadas por balas e obuses, os espectadores sentam-se em cadeiras de plástico.
O presidente da câmara de Mogadíscio, Ahmed Nur, afirma que embora o teatro esteja muito destruído, "é precisamente por isso que este acontecimento assume uma importância tão grande, porque prova que a Somália deixou para trás as guerras dos últimos 21 anos".
O governo de transição reassumiu quase completamente o controle da cidade, em agosto do ano passado. Graças ao apoio das tropas da União Africana (UA), foi possível expulsar a milícia radical-islâmica al-Shabab de Mogadíscio. Os fundamentalistas tinham proibido representações de dança ou música. Qualquer encenação de uma peça de teatro era severamente punida.
Muitos espectadores sentiram a estreia depois dessa opressão como uma verdadeira libertação. Alguns tinham lágrimas nos olhos."Estou profundamente comovida. Costumava frequentar assiduamente o teatro nos anos 70. Vinha ouvir todos os cantores famosos. Nem sei qual deles ainda vive hoje", afirma Salado Dirie Mohamed.
As décadas de guerra e terror foram o tema central do espectáculo de abertura. Um assunto muito sério, mas que, mesmo assim, deixou espaço para algumas gargalhadas. Entretanto, já estão a ser planeadas as próximas encenações.
Para além da renovação do edifício, para muitos somalis, como esta espectadora, a reabertura do Teatro Nacional simboliza o regresso à vida de Mogadíscio. "Quer dizer que temos um futuro melhor pela frente. Se o Teatro for reconstruído, também o resto da cidade recuperará", diz ela.
Autoras: Antje Diekhans/Cristina Krippahl
Edição: Cris Vieira/Marta Barroso