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Quem são os combatentes russos que atacaram Belgorod?

Sergey Satanovskiy
24 de maio de 2023

Segundo a imprensa, centenas de cidadãos russos voluntariaram-se para combater do lado ucraniano contra o Kremlin. Quem são e o que pensam sobre o futuro da Rússia?

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Foto: Russian Volunteer Corps/Handout via REUTERS

"Um sonho tornado realidade. Agora faço parte da Legião da Liberdade para a Rússia", diz Igor Volobuev, antigo diretor-adjunto do banco estatal russo Gazprombank. No canal da Legião na rede social Telegram há pormenores sobre vários militares russos que desertaram para a Ucrânia, revelando até os seus nomes.

Assim, não só ucranianos, mas também russos, estão a lutar ao lado de Kiev e contra a Rússia no Corpo de Voluntários Russos e na Legião da Liberdade para a Rússia.

Esta segunda-feira (22.05), combatentes destas unidades atacaram a região russa de Belgorod. Em declarações à emissora pública Suspilne, Andriy Yuzov, dos serviços secretos ucranianos, disse tratar-se de uma "operação para libertar áreas da região de Belgorod do regime de Putin".

Unidades exclusivamente russas

Sabe-se que a Legião da Liberdade para a Rússia existe, no mínimo, desde o início de abril de 2022. E que, alegadamente, foi formada por soldados russos capturados que passaram para o lado ucraniano e por voluntários com passaportes russos.

"São cerca de 500 homens", diz Ilya Ponomarev, ex-deputado da Duma (câmara baixa do Parlamento da Rússia), que vive no exílio e representa a unidade. Em 2014, Ponomarev foi o único deputado russo a votar contra a anexação da Crimeia.

Já o Corpo de Voluntários Russos foi criado em agosto de 2022. A unidade não revela quantos membros a compõem, mas um dos seus combatentes, conhecido como "Cardeal", e cuja identificação militar foi apresentada à DW, diz que esta desempenha as tarefas de uma companhia - que tem entre 30 e 150 homens.

Kämpfer des Russischen Freiwilligen-Korps
"Cardeal" diz que Corpo de Voluntários Russos quer construir "verdadeiro Estado-nação russo"Foto: Sergey Satanovsky/DW

Um dos co-fundadores da unidade, o empresário Denis Kapustin, um membro conhecido da extrema direita russa e que usa o pseudónimo Denis Nikitin, informou no final do ano passado que o Corpo de Voluntários Russos já estava a colaborar com o Exército ucraniano desde o segundo semestre de 2022.

"Verdadeiro Estado-nação"

Nas redes sociais, o Corpo de Voluntários Russos afirma que todos os seus membros têm opiniões conservadoras de direita. "Cardeal", por exemplo, vê o futuro da Rússia como um "verdadeiro Estado-nação dos russos nos seus territórios originais - salvaguardando a integridade territorial da Ucrânia, da Bielorrússia e dos países vizinhos".

"Queremos construir um Estado para os russos que queira viver em paz com todas as nações vizinhas", disse o membro do Corpo de Voluntários Russos.

Já os membros da Legião da Liberdade da Rússia não exprimem publicamente as suas opiniões políticas. Ilya Ponomarev explica que não existe uma ideologia dominante na unidade, que, segundo ele, seria um protótipo do futuro exército da Federação Russa, com a vantagem de não ser nem de esquerda nem de direita, nem liberal nem conservador. Os seus membros estariam unidos pela oposição à agressão da Rússia, diz.

Dissolver ou preservar a Federação?

O Corpo de Voluntários Russos faz parte do Conselho Civil, uma nova associação de emigrantes russos fundada em Varsóvia.

O Conselho, que também inclui ativistas das repúblicas que pertencem à Federação Russa, apoia o direito à autodeterminação dos seus povos, diz Anastasia Sergeyeva, que até há pouco tempo dirigia a associação polaca "Por uma Rússia Livre".

Russland Belgorod | Kämpfe | Schäden in der Region Belgorod
Edifícios destruídos na região russa de BelgorodFoto: Governor of Russia's Belgorod Region Vyacheslav Gladkov via Telegram/ via REUTERS

O Conselho Civil publicou, no Youtube, mensagens de vídeo dirigidas aos chechenos e circassianos, exortando-os a lutar pela Ucrânia e a defender a independência das suas repúblicas. Para financiar o trabalho do Conselho Civil e a formação de novos combatentes, Sergeyeva procura donativos privados.

Numa entrevista à DW, no ano passado, Ilya Ponomarev, da Legião da Liberdade para a Rússia, disse que estava em negociações de cooperação com representantes de vários países e meios de comunicação social.

Ao contrário do Corpo de Voluntários Russos, que não impede que as regiões se separem da Federação Russa, a Legião diz que o seu objetivo é "preservar uma Rússia unida e indivisível dentro das fronteiras de 1991".

A Legião defende, no entanto, que as regiões teriam de ser dotadas de poderes alargados e a sua identidade étnica deveria ser preservada. A unidade também recebe donativos - em criptomoeda.

Recrutamento de combatentes

Antes do Corpo de Voluntários Russos iniciar a cooperação com o Conselho Civil, só aceitava russos que já se encontravam no estrangeiro. Segundo a unidade, muitos deles lutavam no Donbass ao lado da Ucrânia, no Batalhão Azov, desde 2014.

Atualmente, o Conselho Civil é uma espécie de centro de recrutamento. E de acordo com Anastasia Sergeyeva, já são aceites combatentes vindos diretamente da Rússia.

Anastasia Sergeeva | Zivilrat der russischen Opposition
Anastasia Sergeyeva, responsável do Conselho CivilFoto: Zivilrat der russischen Opposition

No site do Conselho, os potenciais voluntários podem preencher um questionário ou escrever um e-mail para uma caixa de correio encriptada.

"A comunicação ocorre depois através de sistemas seguros", explica Sergeyeva, sem entrar em detalhes.

Segundo Oleksiy Arestovych, um ex-conselheiro do gabinete do Presidente ucraniano, inicialmente, a Legião da Liberdade para a Rússia recrutava apenas prisioneiros de guerra russos que haviam mudado de opinião. No entanto, hoje já aceita combatentes que ainda estejam na Rússia.

Também neste caso, os interessados devem enviar o seu CV e cópias de uma série de documentos, incluindo o bilhete de identidade, para uma caixa de correio encriptada.

Desde uma tentativa falhada de fusão, em agosto de 2022, o Corpo de Voluntários Russos e a Legião da Liberdade da Rússia têm-se criticado mutuamente. No entanto, evitam mostrá-lo em público.