RENAMO reage a audições na PGR: "Quem não deve, não teme"
22 de janeiro de 2020Na terça-feira (21.01), o Ministério Público de Moçambique interrogou o deputado Elias Dhlakama sobre o seu alegado envolvimento no apoio à autoproclamada "Junta Militar" da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), acusada de ataques armados no centro do país. Também já foram ouvidos Ivone Soares, chefe da bancada do partido no Parlamento, o deputado António Muchanga e o próprio porta-voz do partido, José Manteigas.
Em entrevista à DW África, o porta-voz do maior partido da oposição diz esperar que a Procuradoria-Geral da República (PGR) de Moçambique conduza as suas investigações com "isenção e imparcialidade". José Manteigas também nega que sejam verídicas as informações que têm sido veiculadas a respeito do seu próprio envolvimento com a organização liderada por Mariano Nhongo e afirma ainda que a RENAMO quer que os factos sejam esclarecidos.
DW África: Elias Dhlakama foi ouvido como declarante. Além dele, a Procuradoria-Geral da República também já ouviu outros membros da RENAMO por alegado apoio à autoproclamada "Junta Militar". O que é que a RENAMO tem a dizer sobre estas audições dos últimos dias?
José Manteigas (JM): A RENAMO está a acompanhar atentamente o que está a acontecer. Como sabe, outros deputados também foram ouvidos. Mas em respeito às instituições do Estados e nós queremos crer que a Procuradoria-Geral da República, ao convocar os quadros da RENAMO, o faz no princípio da isenção e da imparcialidade, a RENAMO está a acompanhar para que, de facto, se faça o esclarecimento do que está a acontecer.
Por exemplo, em relação à minha pessoa, eu não tenho nada a ver com o que tem sido veiculado pelos órgãos de comunicação social. Mas eu opto, e o partido também opta, por não comentar este assunto, porque está nas mãos da Justiça.
DW África: A RENAMO concorda com estes interrogatórios ou considera, de certa forma, uma afronta ao partido?
JM: Nós não concordamos com isso. Como estou a dizer, a RENAMO respeita as instituições e a PGR é um órgão, uma instituição da Justiça. Se calhar, tem algum fundamento para estas convocações. Portanto, o que a RENAMO está a fazer é acompanhar atentamente e ver, de facto, o esclarecimento deste caso. Porque a questão da insegurança do país, do Estado, é uma preocupação para todos. Mas, esperamos que não sejam incriminadas as pessoas inocentes, não é?
DW África: Nos últimos dias foram ouvidos Elias Dhlakama, o próprio José Manteigas também já foi ouvido, Ivone Soares e António Muchanga. Por que motivo acha que terão chamado estes membros da RENAMO para interrogatório?
JM: Eu não sei responder porque fui chamado, porque não tenho nenhuma ligação com o senhor [Mariano] Nhongo, nunca falei com o senhor Nhongo. Então, não sei porque fui solicitado. Mas, como já disse, em respeito às instituições do Estado, fui prestar as declarações que me foram solicitadas.
DW África: Portanto, a RENAMO vai continuar a colaborar com a Justiça neste caso?
JM: Bom, o que queremos é que se faça esse esclarecimento. Esse é que é o nosso compromisso. Portanto, quem não deve, não teme.
DW África: Há tempos, o antigo secretário-geral da RENAMO, Manuel Bissopo, defendeu que a liderança da RENAMO devia "assumir esses guerrilheiros que são acusados de protagonizar os ataques armados no centro do país e ele diz ainda que a "solução para conter a violência deve ser interna". O que é que a RENAMO tem a dizer sobre isto?
JM: Esse é o ponto de vista dele, não é o ponto de vista do partido. Ele nunca colocou isso num órgão competente dentro do partido, foi aos órgãos de comunicação social dizer isso. Portanto, isso é da inteira responsabilidade dele.
DW África: Qual seria então a solução da RENAMO para o caso desses insurgentes?
JM: Eles são desertores. Então, que chamem a si a razão e prevejam as suas punições, porque eles desertaram da RENAMO e, uma vez sendo desertores, a RENAMO não tem nenhuma responsabilidade sobre eles.
DW África: O Presidente Filipe Nyusi disse ontem, em Londres, que quer conversar com a RENAMO para impulsionar o processo de reintegração dos guerrilheiros. Já houve contactos com o partido nesse sentido?
JM: Não sei dizer. Eu também acompanhei pelos órgãos de comunicação social ainda ontem. Portanto, não sei dizer. O que eu devo dizer é que, de facto, nós, como partido, estamos interessados em que este processo corra o mais rapidamente possível de modo a termos um desfecho do DDR [Desmilitarização, Desarmamento e Reintegração].
DW África: Porque é um processo que neste momento está parado, não é?
JM: Não sei dizer, porque não faço parte da comissão de recepção. Mas o que é certo, e é um facto que posso confirmar, é que estes estavam atentos para que este processo continue com a conclusão em 15 dias ou até acelerar para termos um desfecho o mais rapidamente possível.