Corrupção abala a África do Sul
18 de março de 2016Não é a primeira vez que o Presidente sul-africano, Jacob Zuma, é atingido por um escândalo de corrupção. Mas este, que envolve a poderosa família dos Gupta, parece estar a assumir uma dimensão inusitada. Todos os dias são reveladas novas ligações entre Zuma e os Gupta, uma família originária da Índia, que alegadamente estaria a nomear indivíduos para cargos de topo no Estado.
Na quinta-feira, 17 de março, o partido da oposição Aliança Democrática (DA) apresentou queixa por corrupção contra a família numa esquadra da polícia da Cidade do Cabo. Zuma foi questionado no parlamento acerca da presumível influência política dos Gupta. O Presidente negou qualquer envolvimento e reiterou que apenas ele tem o poder e a competência de nomear os membros do seu gabinete.
Os Gupta têm numerosas ligações políticas com membros do partido no poder, o Congresso Nacional Africano (ANC), e especialmente com o próprio Presidente. Os irmãos Ajay, Atul e Rajesh Gupta, todos na casa dos 40 e oriundos do Estado federado indiano de Uttar Pradesh, instalaram-se na África do Sul em 1993, no fim do regime de apartheid.
Império de negócios indiano
O pai dos irmãos Gupta acreditava que a África do Sul iria transformar-se na “América do Mundo”. Por isso enviou os seus filhos para a África. Diz-se que Atul Gupta manifestou surpresa com a falta de burocracia quando chegou à África do Sul, que era então a maior economia do continente. Na Índia, os Gupta eram pequenos comerciantes. Em África, Atul Gupta fundou a empresa familiar Sahara Computers.
Os Gupta foram muito bem sucedidos no mundo empresarial sul-africano. Atualmente a empresa fatura o equivalente a onze milhões de euros por ano e tem cerca de 10.000 empregados. A família tem uma gigantesca mansão em Saxonwold, um dos subúrbios mais caros de Joanesburgo. Os irmãos construíram um verdadeiro império que engloba computadores, meios de comunicação social e minas. Aos Gupta pertence o jornal sul-africano The New Age, e um canal de televisão de notícias em Joanesburgo chamado African News Network (ANN). Além disso detêm participações nas indústrias de energia, viagem aéreas e tecnologia.
O início das turbulências
O escândalo que envolve a família rebentou em 2013, quando se tornou conhecimento público que um avião privado dos riquíssimos Gupta, que levava a bordo convidados para um casamento, aterrou na base aérea de Waterkloof, perto de Pretória. Normalmente a base aérea está reservada a chefes de Estado estrangeiros e delegações diplomáticas em visita oficial.
Os 200 convidados do casamento foram embarcados em luxuosas limusinas e escoltados pela polícia até à estância de veraneio de Sun City, em Rustenburg, na província de North West. Aqui celebrou-se o casamento entre uma sobrinha dos Gupta e um homem de negócios de Nova Deli. Atul Gupta esforçou-se por encenar uma festa de casamento memorável, com convidados célebres e poderosos, mas os sul-africanos queriam saber quem deu autorização ao avião para aterrar na base militar.
Abuso de poder
O partido no poder, ANC, concordou com a apreciação do DA na oposição que se tratava de um abuso de poder gritante por parte de uma família que tem uma relação íntima com a família do Presidente. Uma das mulheres de Zuma, Bongi Ngema-Zuma, trabalhou para uma empresa então controlada pelo grupo dos Gupta. Alegadamente os Gupta estavam a financiar a sua residência milionária em Pretória. Os Gupta negaram a acusação. Mas, na sequência, começaram a vir a lume mais ligações com a família Zuma.
A filha do Presidente, Duduzile Zuma, foi diretora da Sahara Computers. E um dos seus filhos, Duduzane Zuma, dirige algumas das empresas detidas pelos Gupta. Duduzile Zuma, que entretanto deixou o cargo, fora nomeada diretora em 2008, seis meses após a eleição do seu pai para líder do ANC.
Os Gupta oferecem ministérios
Segundo meios de comunicação social sul-africanos, Duduzane Zuma foi a primeira pessoa a contactar Mcebisi Jonas, para lhe oferecer o cargo de ministro das Finanças. O que ocorreu antes de seu pai ter despedido o então titular, Nhlanhla Nene, em dezembro de 2015. O mais recente capítulo na saga e escândalos dos Gupta rebentou quando o vice-ministro das Finanças, Mcebisi Jonas, disse, esta semana, que um membro da família se ofereceu para o promover a ministro. Também a ex-deputada do ANC, Vytjie Mentor, revelou que os Gupta a sondaram para uma posição de topo na administração.
A amizade entre Atul Gupta e Jacob Zuma é antiga. Gupta conta que conheceu o Presidente há mais de dez anos, como convidado de uma das “muitas funções anuais do Sahara”. Desde então, Zuma e os irmãos Gupta apareceram frequentemente juntos em público em banquetes de gala e eventos empresariais.
Zuma sob pressão
Perante as novas acusações de que os poderosos Gupta são os verdadeiros governantes do país, cresce a pressão sobre o Presidente Zuma para se distanciar publicamente da família. O ANC está dividido na sua análise da influência dos Gupta na política sul-africana. Mas alguns aliados de Zuma defendem a família, argumentando que os seus investimentos são importantes para a economia nacional.
A ex-líder da oposição Hellen Zille (DA) também foi convidada para a mansão dos Gupta e recebeu uma doação para o seu partido. O grupo de extrema esquerda Combatentes da Liberdade Económica (EFF) exige que os Gupta abandonem a África do Sul, porque o país não pode ser “refém de um cartel corrupto com tendências mafiosas”. E o presidente do DA, Mmusi Maimane, diz que os sul-africanos merecem saber se o Governo eleito permitiu à família tomar as rédeas do poder.