Protestos em Angola só vão parar quando JLo deixar o poder
4 de abril de 2023A 4 de abril de 2002 os angolanos decidiram pôr fim a uma longa guerra civil (1975-2002) que ceifou milhares de vidas humanas. Nesta data foram assinados os acordos de paz entre o Governo do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), as duas formações políticas que mais influência tinham e continuam a ter no país.
E é precisamente para este dia que está agendado mais um protesto nacional pacífico, também em casa, mas agora com recurso a tachos e panelas, organizado por um grupo de jovens ativistas políticos.
Em entrevista à DW África, o ativista Nelson Adelono Dembo, mais conhecido por "Gangsta", afirma que os protestos são para continuar até que o Presidente de Angola, João Lourenço, saia do poder.
Gangsta diz ainda que são erradas as críticas que afirmam que os protestos são uma ameaça à paz no país, num dia cheio de simbolismo. "O regime que monta essa estrutura de propaganda é que é um atentado à própria paz", responde.
DW África: O que representa para si o dia 4 de abril? É o dia certo para organizar mais uma ação de protesto contra o governo?
Gangsta: O dia 04 de abril acaba por ser o dia que os angolanos celebram a paz efetiva, resultado do fim das hostilidades militares entre as forças beligerantes na altura, a UNITA e o Governo do MPLA. No entanto, 21 anos depois da celebração dos acordos de Luena, sentimos, como angolanos, com que não houve progressos no campo económico e social.
DW África: E neste dia 4 de abril, como será o protesto?
Gangsta: Queremos fazer um protesto nesta base do protesto silencioso e pacífico, por via das nossas habitações, as nossas zonas de residência, as nossas casas, em que vamos, a partir das 20 horas, bater com as tampas das panelas, para passar a mensagem de que não festejamos uma paz com a barriga vazia, uma paz em que não há inclusão, não há espírito de reconciliação nacional. Continuamos a assistir a assassinatos indiscriminados por parte da Polícia Nacional, ao atropelo sistemático do Estado de Direito democrático em Angola e um Presidente arrogante que está no poder, que não foi eleito, mas que assim se pôs no poder por via das Forças Armadas, das Forças de Segurança e Defesa, nomeadamente também a Polícia Nacional, os Serviços de Inteligência e o Conselho Nacional Eleitoral.
DW África: Há críticos que dizem que os protestos são uma ameaça à paz no país, precisamente neste dia de reconciliação nacional. O que é que responde a estes críticos?
Gangsta: O regime que monta essa estrutura de propaganda é que é um atentado à própria paz. Mas que paz? Essa paz precisa ser reflexiva. Que tipo de paz é essa? Estamos a assistir a um armistício e não uma paz efetiva, porque a fase efetiva tem de ser uma paz que realiza os anseios dos angolanos de uma maneira geral. Essa é a propaganda e a contrainformação do regime que está no poder, que diz que estamos a atentar contra a ordem social. Que ordem social, se a própria governação do MPLA é um atentado à própria ordem social? Tanto mais que o povo nem beneficia da própria paz agora.
DW África: Portanto, o protesto deste 4 de abril não é para provocar distúrbios nem violência?
Gangsta: O que nós estamos a fazer é nada mais, nada menos do que uma manifestação, ou seja, um protesto pacífico e silencioso, porque vamos nos manter dentro das nossas residências e vamos fazer barulho de descontentamento para refletirmos a paz. Que paz é essa que não assegura a minha estabilidade social? Que paz é essa que não me dá emprego? Que paz é essa?
DW África: Na sexta-feira (31.03) passada já houve um protesto sob o lema "Fica em casa", com bastante adesão. Para este protesto esperam também uma grande adesão?
Gangsta: Eu acredito que teremos uma adesão a nível da que tivemos de facto, no dia 31, quando conseguimos paralisar o país.
DW África: Portanto, os protestos estão para durar? E até quando?
Gangsta: Nós não temos uma data determinada, a nossa data é que João Lourenço tem de abandonar o poder. Ele não é legítimo. Enquanto ele estiver no poder, o combate será cerrado. O combate não tem espaço, não tem tempo.