Projeto alemão quer proteger das mudanças climáticas o rio Cubango
O rio Cubango é a fonte de vida para cerca de um milhão de pessoas. Ele nasce na zona húmida dos planaltos centrais de Angola, corre através da floresta de Miombo e, na Namíbia, atravessa uma região semiárida até chegar ao deserto de Kalahari, no nordeste do Botsuana, onde forma o maior delta interior do mundo.
Os ecossistemas do Cubango encontram-se, ainda, num estado quase intocado. Porém, alterações climáticas e demográficas estão a colocar em perigo a rica biodiversidade. Este facto tem chamado a atenção de pesquisadores internacionais, explica a bióloga Fernanda Lages do Instituto Superior de Ciências de Educação de Lubango, Angola.
"A saúde ecológica desta região é considerada indicador global de mudanças climáticas", diz. "Alterações a nível climático, a nível da utilização dos solos, de intervenções das bacias dos rios que servem à bacia hidrográfica vão ter reflexos não só em Angola, mas em todas as regiões. No caso de Angola, nos podemos dizer que a intervenção do homem não causou alterações significativas, mas nos sabemos que a situação está a mudar."
Mudanças climáticas e demográficas exigem utilização sustentável
Até 2020, a população que vive perto do rio nos três países vai aumentar em cerca de 30 por cento, segundo análises da OKACOM, a Comissão Permanente das Águas da Bacia Hidrográfica do Rio Okavango. Combinado com o aumento da temperatura global, este desenvolvimento pode levar a escassez de água, de solos férteis ou à perda de biodiversidade.
Para saber como se pode reagir frente a estes desafios, o Ministério da Educação e Pesquisa da Alemanha iniciou, em 2010, o projeto "The Future Okavango". Nos últimos dois anos, os membros e investigadores de 30 universidades, organizações e instituições dos três países ribeirinhos do Cubango e da Alemanha, do Brasil e de Portugal, têm levantado dados sobre as características do clima, da água, das plantas, dos microorganismos e da produtividade dos solos na região.
O objetivo deste trabalho é encontrar métodos de utilização dos recursos naturais que permitam proteger os ecossistemas do Cubango e, ao mesmo tempo, utilizá-los para melhorar o bem-estar da população local, esclarece o biólogo Manfred Finckh da Universidade de Hamburgo, Alemanha. "Através dos dados, vamos saber, como se pode adaptar melhor às mudanças climáticas. Além disso, está a aumentar a exploração dos recursos naturais do rio no território angolano. Durante a guerra civil, a região foi muito pouco utilizada. Agora, depois de dez anos de paz, estão planeados projetos de infra-estrutura, agricultura, de barragens. Mas antes de realizá-los, é importante analisar o seu impacto ambiental nos territórios da Namíbia e do Botsuana."
Comunidades locais e investigadores colaboram na procura de soluções
Quem conhece melhor a flora e fauna da região, são as pessoas das comunidades locais. Por isso, elas, também, colaboram com os cientistas. No entanto, numa região, onde se falam várias línguas como o Umbundu, N'Nanguela ou o Tchokwé, a comunicação nem sempre é fácil. Miguel Hilário é um dos chamados para-ecologistas, que facilitam o contato entre os investigadores e a população local, uma tarefa que abrange várias atividades. "Aprendemos o manejamento de computadores, a informação científica em relação às plantas, aos ecossistemas e aprendemos como é que se pode organizar um seminário dentro de uma comunidade. Como é que nos podemos expandir a melhor comunicação entre os cientistas e a comunidade. Por último, aprendemos como é que se pode organizar um orçamento", conta Miguel Hilário.
Até 2015, a ministério alemão financia o projeto com 7,5 milhões de Euros. Neste período, a equipe vai aprofundar a pesquisa e tratar de encontrar métodos de utilização sustentável, porque "nos não podemos esgotar os recursos todos porque temos que pensar, também, nas gerações do futuro", como opina Manuel Quintino, Diretor Nacional para Recursos Hídricos do Ministério da Energia e Águas de Angola.
Autora: Anne-Kathrin Gläser
Edição: Helena Ferro de Gouveia