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Primeiro-ministro chinês chega à Angola após queda na relação comercial entre os dois países

Thais Fascina8 de maio de 2014

China é o país que mais consome petróleo de Angola, chegando a cota de mercado de 45% em 2013. O registro de queda nas trocas comerciais, porém, pode indicar a abertura do mercado para outros países.

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Primeiro-ministro chinês Li KeqiangFoto: Reuters

Começa nesta quinta-feira (08.05) a agenda de visitas do primeiro-ministro chinês Li Keqiang em Angola. O objetivo da agenda é de estreitar ainda mais as relações comerciais entre os dois países. O governo chinês traçou também um roteiro em outros três países do continente africano - Etiópia, Nigéria e Quênia.

A viagem acontece após o registro de queda de 4,51por cento no comércio entre os dois países em 2013 na comparação com 2012. No ano passado, os dois países movimentaram cerca de 26 mil milhões de euros em negócios. Em 2012, as relação comercial entre os dois países teve aquecimento recorde, chegando a 27 mil milhões de euros, de acordo com informações da agência Lusa.

O arrefecimento pode ter ligado o botão de alarme na China, que estava acostumada a ter bons resultados em Angola, como nos últimos 4 anos quando as trocas comerciais aumentaram 110 por cento. Esse alarme pode ter contribuído para a visita do primeiro-ministro chinês ao país.

Para a especialista em política africana contemporânea e pesquisadora do Chatham House, Elisabete Azevedo Harman, o esfriamento não deve ser encarado como uma ameaça ao comércio angolano com China.

“Penso que foi considerada, mas não penso que seja um sinal de alarme de que a relação está a reduzir e perder importância. Foi uma mudança mais contextual e de conjuntura do que uma mudança radical na política de Angola em relação à China”, explica.

Ölproduktion in Angola
Chineses atraídos pelo petróleo angolanoFoto: AP

Qualidade em questão

O presidente da Associação de Indústrias de Angola, José Severino, pensa o contrário. Ele afirma que o mercado de Angola está aberto a inúmeros países, principalmente os europeus. Severino acha que um dos motivos para a nova visão é a falta de qualidade dos produtos chineses.

Além disso, outro ponto negativo prejudica a relação comercial da China em Angola: as empresas que se instalam no país africano contratam, na maioria das vezes, somente chineses - o que “eleva os índices de desemprego entre os angolanos, que já é alto.”

Severino considera relevante hoje os padrões de qualidade. “Antes [tais padrões] não existiam e ninguém quer desembolsar para o mau produto chinês. O país vai sentir que terá que mudar a política em Angola. Nós vemos hoje na construção civil uma maior integração de mão de obra angolana quando as empresas são portuguesas ou nacionais”.

Balança desfavorável

O comércio entre China e Angola é antigo e forte.

Para 2014, de acordo com dados do Fórum para Cooperação Econômica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, as trocas comerciais até abril já chegam a quase 7 mil milhões de euros.

Nesta corrida, Angola é o país que desponta com a balança comercial favorável – ou seja, exporta mais do que importa produtos chineses.

Tal resultado só é possível devido ao petróleo angolano. O país asiático é o maior consumidor deste produto, atingindo cota de mercado de 45 por cento em 2013.

Angola chinesa

Os frutos da relação comercial são fáceis de serem identificados pelas ruas de Angola. Há inúmeras empresas da China espalhadas pelo país e a comunidade de imigrantes chineses é a mais populosa. Não há um número exato, mas fontes estimam que cerca de 260 mil cidadãos da China residam no país angolano.

O motivo principal é justamente a principal crítica: as empresas exportam os próprios trabalhadores ao invés de consumir a mão de obra angolana.

A presença dos imigrantes no país forçou a Câmara de Comércio Chinesa em Angola a criar, no início do ano passado, um centro de serviços para a assistência legal e apoio logístico às empresas e aos cidadãos em África.

Infografik Afrikas Rohstoffe Angola Portugiesisch
Principal parceiro

Para a especialista Elisabete Azevedo Harman esse é um dos pontos negativos, mas o mercado chinês pode se ajustar a essa nova realidade e continuar sendo presente na economia angolana.

O início da parceria

A troca comercial entre China e Angola começou em 2002, com o fim da guerra civil angolana e o início da vontade de reconstruir o país.

Após quase 40 anos de conflito armado que matou inúmeras pessoas e trouxe incontáveis prejuízos, os líderes angolanos buscaram recursos através de doações internacionais, mas sem sucesso. Na ocasião, a China foi quem abriu as portas para a ajuda financeira.

Harman destaca que o país asiático foi o único que se dispôs a financiar a renovação de Angola, mas claro que tudo é uma troca.

“É a China que vai fazer a grande linha de crédito que vai impulsionar o desenvolvimento de infra-estruturas. Angola, por outro lado, é um dos maiores fornecedores de petróleo para a China. Essa linha de crédito também em 2004 favoreceu muito a entrada de empresas”, explica.

Cidade do Kilamba - Kilamba Kiaxi Übersicht
Cidade de Kilamba foi construída por empresa chinesa ao sul de LuandaFoto: cc by sa Santa Martha

Recordes

O grande salto para a relação entre os dois países, porém, ocorreu em 2010 quando teve início a estratégia “oil for money”. Ou seja, as linhas de crédito chinesas corresponderiam à exportação do petróleo angolano.

A cooperação foi evoluindo e a China ganhou um dos mercados em maior desenvolvimento em África. Os chineses se tornaram parceiros no investimento, principalmente no setor da construção civil, com obras de estradas, escolas, hospitais, entre outros.

Angola se tornou um dos países lusófonos mais importantes comercialmente para a China e o resultado foi um aumento de mais de dois mil por cento entre 2002 e 2012. A queda de 4,51 por cento em 2013 aparece como uma taxa negativa em uma história de recordes.

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