Presidente guineense quer proposta de Governo reformulada
7 de outubro de 2015Na terça-feira (06.10), o chefe de Estado pediu ao novo primeiro-ministro, Carlos Correia, para "reformular as propostas, quer da estrutura orgânica, quer do elenco governamental", que apresentou na passada sexta-feira (02.10).
José Mário Vaz considera "surpreendente" e "estranho" o surgimento do nome do ex-primeiro-ministro Domingos Simões Pereira na proposta, bem como de "mais de 80% dos membros" do respetivo Executivo, demitido a 12 de agosto, lê-se num comunicado divulgado pela Presidência.
Após a reunião no Palácio Presidencial, Carlos Correia limitou-se a dizer que ainda está-se a trabalhar para a formação muito em breve do Governo.
Ao início da noite (06.10), o Presidente guineense esteve reunido com o Partido da Renovação Social (PRS), a segunda maior força política no Parlamento. O secretário nacional do partido, Florentino Pereira, não revelou aos jornalistas o que terá abordado com José Mário Vaz.
O representante residente da União Africana (UA) em Bissau, Ovídio Pequeno, considerou já que é "insustentável" a situação de impasse que se vive na Guiné-Bissau. Por isso, apela a todos os que têm capacidade de tomar decisões na vida política do país para que "se entendam e enveredem pela via do diálogo, uma questão extremamente importante".
Perante este cenário, vários observadores em Bissau acreditam que a formação de um Governo de iniciativa presidencial é uma opção a ter em conta nos próximos dias.
Silenciamento de "vozes incómodas"
A situação política guineense também ganha novos contornos com denúncias de tentativas de silenciar vozes incómodas ao processo, principalmente a do presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo-Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, segundo um alerta emitido por esta formação política.
Ufé Vieira, porta-voz da Aliança Nacional para Paz e Democracia - um grupo de organizações da sociedade civil criado para observar a crise política - também denunciou na segunda-feira (05.10) uma alegada tentativa de detenção de Domingos Simões Pereira, mas sem revelar os autores.
O líder do PAIGC diz que, até hoje, o Presidente José Mário Vaz não foi capaz de provar as justificações que alegou para demitir o seu Governo. "A mesma entidade que evocou corrupção e nepotismo para justificar a decisão de demissão do Governo, quando convidado pela Comissão Parlamentar de Inquérito a apresentar provas e evidências materiais da sua acusação, pede à Comissão que o elucide sobre quando e em que passagens" referia isso, disse Simões Pereira.
Bloqueio político
Numa reunião com a comunidade internacional na sede do PAIGC, o ex-primeiro-ministro responsabilizou José Mário Vaz pela situação vigente no país e acusa-o de tentar silenciar algumas vozes. "Nessa saga de justificações e de fuga para a frente, explora-se agora a possibilidade de envolver as Forças de Defesa e Segurança no imbróglio, recorrendo ao regresso ao país do contra-almirante Zamora Induta", afirmou Simões Pereira.
O antigo chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau encontra-se na prisão do quartel de Mansoa, no norte do país. Foi detido a 22 de setembro, por ordens do Tribunal Militar Superior, por suspeita de envolvimento numa tentativa de golpe de Estado ocorrida em outubro de 2014.
Segundo o líder do PAIGC, o Presidente da República criou uma situação de bloqueio político para que possa implementar os seus planos, ao ponto de impedir o PRS de participar na nova proposta de elenco governamental feita pelo seu partido. A Presidência da República ainda não reagiu oficialmente às acusações.