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Presidente de Moçambique e população do país defendem diálogo com RENAMO

Da Silva,Romeu22 de outubro de 2013

Em Moçambique, o medo toma conta dos cidadãos a cada momento que passa, enquanto o Presidente Armando Guebuza continua a insistir na necessidade do diálogo com a RENAMO.

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O Presidente moçambicano, Armando Guebuza, defendeu esta terça-feira (22.10) a necessidade de se manter o diálogo com a RENAMO, um dia depois de tropas governamentais terem tomado a principal base militar do maior partido da oposição. Para Guebuza, o tempo "não é apropriado para inimizades, pois quem perde é o povo moçambicano".

Mas, apesar desse apelo do Presidente moçambicano, o medo toma conta dos cidadãos a cada momento que passa. É que os ataques das Forças Armadas de Moçambique à base de Satunjira, no centro de Moçambique, estão a ser classificados como sendo uma declaração de guerra.

Em julho deste ano, o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, falou em não regressar à guerra, a menos que seja atacado. Nesta segunda feira, a base de Satunjira, no centro do país, foi atacada.

"Esta situação é uma vergonha para Moçambique"

Os moçambicanos, de diversos círculos sociais, afirmam que esta situação que o país está a viver "é uma vergonha para o mundo", como diz Don Diniz Segunlane, do Observatório Eleitoral. "É um sentimento mesmo de vergonha que os moçambicanos não sejam capazes de solucionar os seus problemas através do diálogo".

A razão é esta: Moçambique, por diversas vezes foi elogiado como exemplo a seguir na preservação de paz e democracia. De um dia para o outro, o país entrou no corrupio dos outros países africanos.

Um cenário preocupante é que ninguém sabe o que irá acontecer daqui em diante, pois a Renamo "rasgou" o Acordo Geral de Paz .

Para Dom Diniz Sengulane, esta atitude "seria, de facto, aplaudir o ataque, porque o Acordo Geral de Paz (AGP) diz não às armas. Se alguém utilizar hoje as armas é afirmar que o AGP foi um erro. Não, nunca foi um erro".

O líder da Renamo está em parte incerta. O que preocupa Sengulane é a causa desta tensão político-militar: a paridade na composição de membros na Comissão Nacional de Eleições.

"Será que a paridade é uma coisa tão pesada? Será que se trata de algo tão sério que não seja possível um diálogo e como alternativa procurar a possibilidade de derramamento de sangue por causa disso?", pergunta.

Afastado o cenário de guerra?

Numa entrevista recente ao canal televisivo STV, o escritor moçambicano Mia Couto, diz que houve uma falha ao permitir a existência de dois exércitos e armamentos, desde 1992, "e ficamos reféns do medo de alguém que reiteradamente veio anunciar que 'agora sim vou voltar à guerra, vou incendiar o país'… Ele escolheu vários tipos de discursos que são realmente ameaças".

Apesar de reconhecer que esta situação é perigosa, o analista Constâncio Ngunja afasta um cenário de uma guerra civil.

"Para se fazer uma guerra civil tem que haver uma potência que fabrique armamento e tem que haver alguém que financie essa guerra", diz. "E não estou a ver o estrangeiro com alguma apetência para financiar alguns grupos para fazerem a guerra".


População defende o diálogo entre as duas partes

Ao ouvir o discurso de alguns políticos, há quem note uma aparente contradição. Aqueles que, contra a vontade popular, instigam a troca de tiros, afirmam que conhecem os requisitos necessários para a construção da paz efetiva, sem no entanto desenvolverem esforços para que isso aconteça na prática.

Para alguns cidadãos ouvidos pela DW África, os políticos aparecem com estes discursos mas no fundo querem apenas defender os seus interesses.

"Gostaria que houvesse mais diálogo para que os dois lados não ultrapassem os limites". Um outro moçambicano afirma: "Penso que deveria existir mais oportunidades para as pessoas dialogarem e ultrapassarem assim as divergências". Outro cidadão acha que "ainda existem possibilidades para vivermos em paz e resgatarmos aquela vontade de viver em paz em Moçambique".