Por que motivos quer a Rússia uma base naval no Sudão?
15 de junho de 2024Malik Agar, vice-presidente do Conselho de Transição do Sudão, dominado pelo exército, não deixou dúvidas quanto à posição do seu país: sim, estão interessados num acordo sobre a construção de um centro naval russo no Mar Vermelho, declarou ao jornal sudanês Sudan Tribune no início de junho, à margem do Fórum Económico Internacional de São Petersburgo (SPIEF).
Mas que benefícios procura a Rússia? "O Sudão é outra peça do quebra-cabeças, ou seja, da estratégia russa para África. Este acesso ao Mar Vermelho através da base militar, por exemplo, é um passo”, começa por explicar a politóloga Hager Ali.
"A abertura de mais território no Sudão é outro, especialmente entre os centros de comércio de armas, que são muito importantes entre outros centros do Grupo Wagner, onde a Rússia também pode, obviamente, beneficiar", acrescenta.
Há anos que o Sudão e a Rússia discutem um acordo nesse sentido. No entanto, devido à instabilidade política que se instalou no país africano, o parlamento não conseguiu ainda ratificar um contrato.
Agora, as conversações entre Rússia e Sudão foram retomadas - e ao que tudo indica com sucesso. Em troca da presença naval, a Rússia deverá fornecer apoio militar e de segurança ao exército das Forças Armadas Sudanesas (SAF).
Rússia diversifica apoio
O facto de Moscovo ter chegado agora a um acordo com os representantes do Estado do Sudão indica uma mudança significativa de rumo.
A Rússia parece querer agora diversificar o seu apoio no Sudão. Além disso, Porto Sudão está situado em território controlado pelo exército. Se a Rússia quiser estabelecer aí uma base naval, isso dependerá de conversações com as Forças Armadas Sudanesas (SAF).
E, nesse sentido, Hager Ali disse à DW que a Rússia tem geralmente boas cartas nas negociações. "Quanto mais tempo durar o conflito, mais armas as forças do exército vão precisar [...] e podem fazer uma boa utilização das armas russas".
Devido ao seu envolvimento na guerra da Síria ao lado do ditador Bashar al-Assad, a Rússia já tem uma base naval em Tartus, no sul da Síria. Já a utiliza como ponto de partida para as entregas logísticas em África - por exemplo, na Líbia, que também está dilacerada pela guerra civil. A Líbia, por sua vez, serve a Moscovo como ponte para reforços e fornecimentos aos países da África subsariaana.
Mas o politólogo Andreas Heinemann-Grüder explica que os objetivos russos também têm outras implicações.
"Os russos estão a utilizar o seu poder de caos em vários Estados africanos, não só no Sudão, também no apoio a golpistas, como no Mali, Chade, Burkina Faso e Níger", adverte.
"Nestes países, a cooperação com os golpistas não está a contribuir para a estabilização, mas, pelo contrário, para intensificar os conflitos internos", concluiu.