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População denuncia abusos das autoridades em Moçambique

Marcelino Mueia (Quelimane)22 de junho de 2016

Populares acusam tropas governamentais de incêndios e roubos. Polícia desconhece ocorrências. Estudo financiado pelo Fundo Europeu de Jornalismo de Investigação confirma testemunhos de abusos.

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Bereitschaftspolizei Mosambik
Foto: E. Valoi
As Forças de Intervenção Rápida de Moçambique (FIR) “estão a vandalizar, a saquear os bens da população, a matar inocentes”, disse à DW África um dos refugiados do conflito, na província da Zambézia, centro do país.

A população “não foge por causa da tropa da RENAMO, mas por causa da tropa da FRELIMO”, acrescentou o cidadão. A polícia diz não ter conhecimento destas ocorrências.

O testemunho dos populares vai, porém, ao encontro de uma recente investigação financiada pelo Fundo Europeu para Jornalismo de Investigação (FEJI). O estudo dá conta de que as forças de defesa e segurança moçambicanas cometem crimes e violações contra populações locais, o que contraria o discurso da FRELIMO, no poder, que responsabiliza única e exclusivamente os homens da RENAMO por ataques contra a população.

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No entanto, dizem os investigadores, a maioria dos testemunhos recolhidos no estudo levado a cabo em Sabe, Zimpinga, Muxúnguè, Gorongosa e Morrumbala “atribuiu a autoria da violência e dos crimes às forças de segurança e defesa de Moçambique – e não aos guerrilheiros da RENAMO”.

O jornal moçambicano “A Verdade”, parceiro da DW África, publica parte da investigação que teve início em 2015, com o objectivo de confirmar no terreno os relatos de crimes e violações de direitos humanos contra a população moçambicana – alegações de execuções sumárias, violações, tortura e outros abusos de poder.

Ambiente de pânico

Um dos refugiados do conflito armado na região de Pedreira, no distrito de Mopeia, na Zambézia, contou à DW África que se deslocou a Quelimane na semana passada, tendo ficado “muito triste” porque viu a sua palhota e as dos seus vizinhos serem queimadas pela polícia porque é ali que alegadamente se escondem os guerrilheiros da RENAMO.

“O que a FIR está a fazer é uma vergonha. Incendeiam casas, levam os cabritos, milho e outros bens das pessoas e depois vão embora”, afirma o refugiado, descrevendo um ambiente de “pânico” para as famílias que vivem ao longo da estrada número 1, em Mopeia, quando há presença policial.

“Duvido que o diálogo entre o Governo e a RENAMO tenha sucesso. O Governo devia, em primeiro lugar, retirar as suas tropas que estão distribuídas nas matas e parar de atacar a população e os inocentes que não têm nada a ver com a RENAMO”, considera. A RENAMO, acrescenta o entrevistado, “faria o mesmo”.

“O líder da RENAMO não sai das matas e eu penso que é uma boa opção. Tem medo de morrer”, conclui.

Regresso às escolas

Entretanto, as autoridades de Educação no distrito de Morrumbala levam a cabo campanhas para o regresso de alunos e professores que, desde o ano passado, fugiram das escolas na localidade de Sabe por causa dos confrontos entre a polícia e homens armados da RENAMO.

Mosambik Grundschule in Sabe
Sala de aulas de uma escola primária em Sabe, distrito de Morrumbala no sul da ZambéziaFoto: DW/M. Mueia
No total são 17 as escolas encerradas, 101 professores e 11 mil alunos que abandonaram as aulas, segundo Farias Noé Alberto, director de Educação em Morrumbala.

“A situação continua, mas temos reunir esforços para o regresso dos alunos às salas de aulas paulatinamente”, diz Noé Alberto. “Temos que considerar que a situação do Sabe não é como a das outras regiões da província da Zambézia”.
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