Funcionários do Estado acusados de colaborar com terrorismo
24 de junho de 2022Segundo o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), há "fortes indícios" de os cinco detidos estarem ligados a cinco cidadãos estrangeiros, presos na terça-feira, acusados de envolvimento em terrorismo.
Os cinco detidos foram identificados como funcionários do Serviço Provincial de Migração em Sofala, estando afetos a diferentes setores de tramitação de documentos de entrada e saída no país.
O porta-voz do SERNIC na província, Alfeu Sitoi, confirmou que os funcionários são suspeitos de facilitarem a entrada de estrangeiros e foram detidos na sequência de um mandado de captura em conexão com a detenção dos outros cinco cidadãos.
"Confirmamos que há, sim, funcionários detidos envolvidos neste caso. Cinco funcionários da migração encontram-se sob custódia e há indícios de envolvimento no caso dos cidadãos estrangeiros, apresentados na terça-feira", esclareceu Sitoi.
Esquema de financiamento de terrorismo em Cabo Delgado?
Na terça-feira, a polícia moçambicana deteve na Beira quatro homens e uma mulher, suspeitos de recrutarem pessoas para o tráfico de drogas, que servirá como fonte de financiamento para o terrorismo no norte do país.
Em sua posse tinham catanas, drogas e documentos suspeitos, que foram apreendidos pela polícia. Foi também confiscada uma viatura ligeira com equipamento de comunicação de origem duvidosa.
O Serviço Nacional de Investigação Criminal assegura que estão em curso investigações que podem culminar na detenção de mais funcionários do Estado ligados à tramitação de documentos, tanto nos Serviços de Migração, como na Direção Nacional de Identificação Civil e Instituto Nacional de Apoio aos Refugiados.
Corrupção de funcionários públicos
O analista político Wilker Dias, ouvido pela DW África, olha com preocupação para a notícia da detenção dos funcionários do Serviço Provincial de Migração em Sofala. "Só pelo facto de termos moçambicanos envolvidos, semeia-se aquela teoria de que somos nós mesmos que acabamos abrindo as portas para o chamado 'crime organizado'", afirma.
Wilker Dias alerta que, a ser provada a ligação de funcionários do Estado ao financiamento do terrorismo, é preciso estancar o problema pela raiz: "A corrupção é um dos fatores que tem atrasado o desenvolvimento do Estado. Se temos funcionários de migração ou funcionários das Forças Armadas envolvidos, estes esquemas podem levar à fragilização da segurança, porque eles são o garante do controlo da segurança a nível nacional."
Os ataques dos insurgentes na província de Cabo Delgado já levaram à morte de 4.000 pessoas desde 2017. Estima-se que a violência provocou 784 mil deslocados internos.