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Poetry Slam, a poesia de todos para todos

Mil-Homens, Francisca12 de abril de 2013

Tudo gira à volta de um microfone aberto. A leitura da poesia está disponível a qualquer um que queira participar nesta competição. A DW África colocou o foco sobre as competições em Moçambique e em Coimbra (Portugal).

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É ao som de "3, 2, 1, SLAM!", que a poesia e a avaliação começa nos eventos de Poetry Slam. Com poemas autorais e regras rigídas, este conceito consiste numa competição de poesia, aberta à participação de qualquer poeta ou entusiasta das palavras. Está a tornar-se um fenómeno global e em Portugal, cada vez mais organizações da palavra dita nascem no país. Lisboa, Almada, Porto Braga, Coimbra são algumas das organizaçoes que mensalmente veem poesia a acontecer em sítios diferentes da cidade.

Bruno Ministro, um dos elementos do colectivo de poesia Aranhiças e Elefantes e um dos organizadores do Poetry Slam Coimbra, que comemorou recentemente o seu primeiro ano de existência, explica com maior detalhe o conceito. Este "nasceu em 1984 em Chicago num bar chamado Get Me High Lounge, pela mão do poeta e performer Mark Smith e o conceito consiste basicamente numa competição de poesia onde há inscrições abertas e gratuitas para quem se quiser inscrever para vir ler os seus poemas."

Apesar de tudo ser possível nestas sessões poéticas, também nelas há regras a cumprir, e Bruno conta que os participantes "não podem usar qualquer género de adereços, objetos, vestimentas fora do normal, só podendo o poeta usar a sua voz e o seu corpo".

As performances de cada participante não podem ultrapassar um máximo de 3 minutos e "há um júri que é constituído por elementos de entre o público, escolhidos ao acaso, que atribuem uma pontuação no fim de cada leitura", explica Bruno.

A classificação é atribuída de 0 a 10 e os poetas que atingem as pontuações mais elevadas, vão evoluindo nas diversas rondas, "até chegar à final" para se encontrar um vencedor em cada sessão, explica o organizador de Coimbra.

A palavra partilhada no mundo

Mas não é só em Portugal que este evento se realiza, e em Moçambique o conceito está presente na vida cultural da capital, Maputo. Tudo começou há cerca de nove anos, com o movimento Noites de Poesia, no Instituto Cultural Moçambique-Alemanha, conhecido pela sigla ICMA.

A ideia principal é emancipar as artes e as letras e dar mais espaço aos jovens que gostam de literatura. À terceira sexta-feira de cada mês, as Noites de Poesia realizam-se na capital do país. Em Moçambique, o conceito não é propriamente uma novidade e quem o afirma é Féling Capela, o mentor deste movimento.

"Nós temos jovens que na verdade já faziam Poetry Slam muito antes da palavra 'slam' (arremessar ou jogar, no contexto das competições de poesia) existir. As pessoas já o faziam de maneira espontânea. Os americanos, os europeus que trabalham estes conceitos de maneira técnica, criam conceitos e mandam os conceitos para aqui e nós passámos a fazer isto com regras", elucida Capela.

Nas Noites de Poesia há o "open mic", ou seja, um microfone aberto a qualquer poeta ou apaixonado pelas palavras. Os participantes podem dar a conhecer a sua poesia e exprimi-la sem correrem o risco de censura, como conta Féling Capela.

"As pessoas dizem o que acham que podem dizer. Nós temos liberdade de expressão aqui, por enquanto, tomara que seja sempre assim. Quem tem coragem, diz aquilo que quer dizer." Para Capela, os poetas não fazem nem partilham a sua poesia "com intenção de atingir alguém ou perseguir alguém. Fazemos isto como antenas da sociedade, nós somos poetas e gostamos de expressar aquilo que vemos no nosso dia-a-dia", sintetiza o organizador moçambicano.

A subjetividade na avaliação

Já em Coimbra, é no primeiro sábado de cada mês que os poetas ou os slammers, vulgarmente assim referidos dentro do ambiente da competição, partilham os seus poemas com o público. Mas afinal, como é que se avalia a poesia?

"A poesia não se avalia e avalia-se ao mesmo tempo. Parece um contrasenso mas o facto do júri ser escolhido entre o público e não ser pedido qualquer género de justificação ao público para dizer porque é que atribui um 10 ou um 4 a determinado poema, é uma democratização da poesia" explica o português Bruno Ministro.

Para a organização do Poetry Slam Coimbra, "a democratização existe não só no facto de estarmos a dar voz aos poetas, como no facto de o júri não ser constituído por críticos, como costumam ser em todos os eventos relacionados com a poesia, o que implica um julgamento severo. Aqui não há esse tipo de julgamento", explica Bruno.

Para o organizador, a abertura do evento vive deste processo de avaliação em que o que conta é a opinião pessoal de cada elemento do júri, não constituindo isso "nenhum juízo de valor vinculativo, no sentido em que se num evento ganha o slammer X, poderia ganhar qualquer outro se o júri fosse outro, porque o que estamos aqui a falar é de facto de uma apreciação relativa, como toda a apreciação estética é", resume o organizador português.

Os slammers sentem-se motivados a participar no Poetry Slam pelo momento de partilha que é criado, mas para a organização do Poetry Slam de Coimbra, o facto de o público avaliar o seu trabalho também os incentiva a participar. Bruno Ministro afirma que, "enquanto tenho os meus poemas na gaveta, eu não sei o que as pessoas pensam sobre isso, e quando eu os partilho posso ter um feedback, e isso pode-me incentivar a participar cada vez mais nessas sessões."

E, segundo Bruno Ministro, é isso que se tem notado, pois desde o início alguns slammers têm participado regularmente e a organização nota "que é um estímulo haver este espaço."

Enriquecimento através da literatura
 
Em Moçambique, Féling Capela, que está à frente do movimento Noites de Poesia, conta que o Poetry Slam tem bastante aceitação em Moçambique e que são os jovens quem mais marcam presença nestas iniciativas.

Capela arrisca a dizer que o Poetry Slam enriquece a vida de um jovem porque "as pessoas vão aplaudindo a partir do elogio e assim a pessoa sente que tem que se cultivar mais, que tem que ler mais, investigar mais".

Para o organizador de Maputo, os jovens que vivem na grande cidade ou os que vivem no grande subúrbio não são medidos pelo que têm, mas são sim "muito observadas pela sua capacidade intelectual." Capela afirma que é importante os jovens se envolverem na literatura porque ela "abre muitas portas na vida".

A organização do PoetrySlam Coimbra opta por realizar estas sessões em espaços públicos nocturnos, evitando instituiçoes formais. Bruno Ministro, explica que "o facto de estarmos em bares nao é ao acaso, é pensado." A organização conimbricense acredita que "a poesia tem estado confinada a academias e a centros culturais, mais ou menos formais," e o facto de trazer a palavra de novo para espaços públicos "é um pouco como trazer a palavra para a rua." Com a retirada da palavra de insituiçoes expectáveis de se encontrar poesia, Bruno diz que se ganha "a dimensão de trazer a palavra para o espaço público, de trazer a voz dos poetas para o espaço público e agir nesse espaço público".

E em Moçambique, o que será que a sociedade nacional pensa deste tipo de movimentos e do Noites de Poesia em particular? Féling Capela frisa que não são um grupo de rebeldes e que "os artistas normalmente expressam aquilo que veem", concordando que por vezes podem "ofender certas sensabilidades e podemos ser censurados".

Para o poeta, é importante lembrar que a poesia foi determinante para o país que "foi libertado também pela poesia de combate."