Plano B - parte 4 - Espanha: Jovens espanhóis apostam no empreendedorismo contra crise
Duas rodas podem ser uma saída para a crise? Para os proprietários de uma oficina alternativa de bicicletas em Madri, capital da Espanha, a resposta é sim.
Porém, Aitor Gurucharri é um dos poucos fãs de bicicletas na capital espanhola, já que as bicicletas valem como meio de transporte para pobres. As ruas não têm estrutura para os veículos de duas rodas - ao contrário de países do norte da Europa. "Muitos pensam que a bicicleta é um problema e não uma solução. Mas é o contrário: as bicicletas não são o problema. São a solução", explica o jovem empreendedor. "Eu sempre gostei de bicicletas. Numa bicicleta, você sempre se sente tão livre!"
Com amigos, Aitor montou uma oficina alternativa para bicicletas num centro cultural. Para ele, andar de bicicleta também é política: pelo meio ambiente e contra a crise.
Também Rebeca faz parte do projeto desde o início, há quatro anos. "Essa oficina aqui é o meu jeito de mudar o mundo em todos os aspectos. Com o projeto, quero criar uma função que seja política e socialmente justa."
A oficina no centro cultural La Tabacalera tudo gira em torno de fornecer bicicletas a pessoas que tenham pouco dinheiro. A ideia também é apoiar essas pessoas na manutenção da bicicleta. A solução mais efetiva é: não consertar as rodas a preços caros para os clientes, mas ensiná-los a fazer o conserto eles mesmos. O custo: 4 euros.
Para jovens ciclistas, como Maria, parece a solução ideal: "Os transportes públicos em Madri estão cada vez mais caros. A bicicleta é melhor porque é mais barata. E é um meio de transporte simplesmente genial", disse a jovem, em entrevista à DW.
Pagamento sem dinheiro
Cada vez mais jovens vêm à oficina. Aitor acha que um dos motivos é a crise econômica que abala o país. "Claro, acho que a crise influencia como e se as pessoas usam a bicicleta. É lógico que a crise influencia tudo em nossas vidas".
Longe dos bancos, de títulos de dívidas no mercado internacional ou de contas no vermelho, os mecânicos desenvolveram um conceito de pagamentos alternativo. Com uma característica especial para os mais pobres: quem não tem dinheiro, não paga. Não existem listas de preços nem regras estritas.
Em vez de pagar com dinheiro, os clientes remuneram a oficina trabalhando lá ou com mercadoria de troca - por exemplo, com bicicletas velhas. Estas são recicladas. O maior sonho do pessoal da oficina é se sustentar apenas com a oficina de bicicletas anti-crise. "Ainda não conseguimos viver da oficina, mesmo fingindo que conseguimos. Mas, devagarinho, estamos avançando para realizar esse sonho", explica Rebeca.
Se conseguirem, o projeto de Rebeca e Aitor poderá se tornar uma iniciativa exemplar para ajudar a eles mesmos, ao meio ambiente e a outras pessoas a saírem da crise. E tudo o que é preciso para isso são duas rodas.
Mercado jovem
À primeira vista, o Mercado de San Fernando em Madri parece um mercado como tantos outros no mundo. Os comerciantes nas barracas de legumes e frutas usam aventais coloridos e colocam produtos frescos em sacos plásticos.
À segunda vista, o que chama a atenção é que muitos dos vendedores do mercado são muito jovens. Eles abriram os próprios estandes no mercado - abrindo perspectivas de futuro em plena crise econômica.
Alba Sánchez coloca um pão fresco numa sacola e entrega o produto a uma cliente. A mulher de 31 anos de idade levantou cedo para colocar pães e bolos no forno . Com um amigo, Sánchez abriu a própria barraca.
A jovem espanhola teve sorte. Muitos já tinham descartado o Mercado de San Fernando, no sul da capital espanhola. "Na verdade, algumas grandes redes de supermercados queriam se estabelecer aqui, como Eroski, Mercadona e Día. Quando chegou a crise, Eroski e Mercadona deram para trás e não construíram os supermercados. O mercado aqui ficou com metade dos postos de trabalho. Os outros lugares ficaram vazios", explicou Sánchez à DW.
Um mercado vazio era o que a Associação de Comerciantes queria evitar a qualquer custo. Por isso, começou a divulgar o antigo Mercado de San Fernando, que já existe há mais de 60 anos. Os cidadãos do bairro ficaram sabendo rapidamente que era necessário contratar novos comerciantes.
Um estande próprio - especialmente os jovens madrilenhos poderiam se interessar em trabalhar ali, em tempos de altas taxas de desemprego. "A associação de comerciantes decidiu alugar as barracas por muito pouco dinheiro, realmente muito pouco. Entre nós, existiam muitos que não tinham trabalho ou que estavam procurando emprego. Então decidimos construir algo aqui. A maior parte montou as barracas em grupos. Se trabalhasse cada um por si, ninguém teria conseguido", afirma Alba.
Disciplina e autogestão
Por isso, ao lado do caixa de Alba Sánchez, está pendurado um plano de trabalho. Esta manhã, ela abriu a loja e preparou a massa. Amanhã, será a vez do amigo e sócio de Alba. Os jovens comerciantes dividem as tarefas. A maior parte deles também têm outros trabalhos - como garçons em bares ou entregadores ciclistas.
Do outro lado do mercado, uma jovem de longos cabelos castanhos está posicionada atrás de um balcão, rodeada de plantas e flores coloridas. María Alonso abriu o estande de flores há poucos meses. Esfrega os olhos cansados. Desde que tem a própria loja, precisa levantar todos os dias de madrugada e comprar mercadoria fresca.
Mas María Alonso gosta do trabalho, porque ele deu à vida dela um novo sentido: "Fiquei muito tempo desempregada e vivia com a minha avó em Castellón. Mas não podia continuar daquele jeito. Por isso, decidi voltar a Madri para conseguir qualquer trabalho".
Tempos difíceis
María Alonso pega um buquê de rosas. A jovem de 23 anos pegou um empréstimo no banco para abrir o próprio negócio e precisa pagar 20.000 euros de volta - aos poucos. Uma soma considerável para a jovem empresária: "Em algumas noites, não durmo, porque meus pensamentos se concentram apenas na loja. Mas acho que é normal durante esses tempos difíceis. As pessoas não querem comprar flores. Preferem ter o que comer".
Para os jovens comerciantes, ficou claro rapidamente que, quem é seu próprio chefe precisa estar bem organizado: comprar mercadoria, emitir faturas e cumprir horários do plano. Uma experiência dolorosa para os empresários iniciantes parece ser a de que ainda não ganham dinheiro suficiente para se sustentar.
Mas, mesmo assim, María Alonso não perdeu as esperanças no próprio negócio: "É uma saída para muitas pessoas que estão desempregadas ou que não têm nenhum apoio financeiro. Eles precisam apostar tudo numa só chance. Não podes ficar parado em casa. Sua casa te consome. É preciso dar movimento às coisas", constata.
Autoras: Ruth Krause / Vera Freitag / Renate Krieger
Edição: Johannes Beck