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Pessoas com lepra vivem dias difíceis em Cabo Delgado

Delfim Anacleto
31 de julho de 2023

Muitos doentes em Cabo Delgado não têm qualquer documento de identificação. A ALEMO, uma associação que cuida destes pacientes, considera haver tendência de isolamento social de pessoas com lepra.

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Mosambik | Lepra in Cabo Delgado
Foto: Delfim Anacleto/DW

Lepra é uma doença negligenciada que ataca o sistema nervoso e a pele. Quem a tem não somente sente o sofrimento causado pela doença, como também o estigma e discriminação por parte da sociedade.

Doença curável, mas deixa marcas

Aguacheiro Sadique é uma das pessoas atingidas pela lepra na província de Cabo Delgado. Curou-se da doença, mas as sequelas estão ainda patentes na sua vida. Por causa da lepra, viu-se obrigado a amputar um dos membros inferiores.

"Curei-me da lepra, mas fiquei com uma ferida. Foi necessário ser operado. Agora estou bem e consigo andar", refere o membro da Associação de Pessoas Atingidas pela Lepra (ALEMO). 

Mosambik | Lepra in Cabo Delgado
A lepra tem cura, mas pode deixar marcas irreversíveisFoto: Delfim Anacleto/DW

Por causa da lepra, Rosa Alberto chegou a perder sensibilidade nas pernas.

"Quando apanhei a doença, não sabia o que era. Andei por muitos curandeiros e tomei muita medicação tradicional, mas não surtia qualquer efeito", disse.

Rosa explicou que tudo mudou quando a sua família a trouxe à ALEMO e ficou curada. Depois, apenas duas palavras:

"Estou grata".

Hoje, diz ser uma mulher diferente, porque passou o pior, e agora trabalha como moleira numa moageira que ajuda no empoderamento social e económico na ALEMO.

Os factos e mitos do contágio

A Associação de Pessoas Atingidas pela Lepra em Cabo Delgado tem o seu centro no bairro de Cariacó em Pemba. Chegam no centro muitos doentes, alguns em estado grave. Mas depois do acompanhamento médico e reabilitação, as pessoas curam. Livram-se da doença, mas não do estigma e discriminação social.    

Mosambik | Lepra in Cabo Delgado
ALEMO, Associação de Pessoas Atingidas pela Lepra em Cabo DelgadoFoto: Delfim Anacleto/DW

O diretor da ALEMO, Manuel Maliquito, refere que o tratamento da lepra dura 12 meses, ao fim do qual o paciente fica totalmente curado.

"No atraso do diagnóstico e consequente tratamento, a doença pode complicar", esclarece. 

Sobre o medo que muitas pessoas têm de lidar com doentes com lepra, com o receio de se contagiar, o diretor da ALEMO separa as verdades dos mitos em torno do contágio.

"A partir das gotículas da fala e secreções nasais, de uma pessoa não tratada, aí podemos contrair lepra", disse, salientando ainda que se o "doente começar o tratamento, já não tem possibilidade de contagiar outras pessoas".

Discriminação social e institucional

Maior parte das pessoas atingidas pela lepra não têm qualquer tipo de documentos, seja civil ou fiscal e vivem praticamente à margem da sociedade. Uma situação que a ALEMO luta incansavelmente para mudar.

Ermelinda Paulino, que trabalha com as pessoas com lepra, diz que tem contactado as autoridades governamentais solicitando que se faça o registo e se atribua documentos de identificação aos pacientes. Até hoje, não houve qualquer resposta satisfatória.

"Algumas pessoas - com lepra - aqui na cidade e os que estão nos distritos, não têm registo, não têm cédulas, nem nenhum documento de identificação. Temos feito o exercício de solicitar as instituições para as pessoas que vivem com lepra tenham a cédula pessoal para a integração na sociedade, mas não tem sido fácil", afirmou.

No entanto, Ermelinda vai mais longe ao especificar quais as instituições onde já procurou apoio, sem resultados.

"Já andámos no registo civil, no Instituto Nacional de Ação Social e nas finanças para obter o NUIT (Número Único de Identificação Tributária), mas até agora sem sucesso", disse.

A cuidadora de pessoas atingidas pela Lepra reafirma que a lepra é uma doença curável e as pessoas afetadas, quando dadas oportunidades, podem contribuir para o desenvolvimento de Moçambique. Para isso, pede mais abertura das instituições governamentais e da sociedade.

Moçambique: Doentes de lepra queixam-se de discriminação