Pequenas empresas angolanas fecham por falta de crédito
2 de agosto de 2016Na província da Huíla, no sul de Angola, empresários queixam-se de sérias dificuldades no que diz respeito ao financiamento dos seus projetos. Um dos problemas é a aquisição de divisas para a importação de vários produtos, que o programa contempla.
O programa governamental "Angola Investe" foi criado em 2012 para financiar projetos de investimento de micro, pequenas e médias empresas. A iniciativa foi do Ministério da Economia, em parceria com o Fundo de Garantia de Crédito. Mas parece uma miragem.
Paulo Gaspar, presidente da Associação Agropecuária e Industrial da Huíla (APICIL), teme pelo futuro: "Muitas empresas na província da Huíla já fecharam e outras ainda vão fechar. Estamos com bastante medo e receio que, muito em breve, tenhamos mais de cinquenta mil funcionários desempregados no mercado. É preciso que se criem mecanismos para que esta classe empresarial, que já deu provas que é capaz e pode fazer mais, seja apoiada. Porque se não for, vamos falir e levar muita gente ao desemprego".
O que precisa acontecer?
Para que o programa "Angola Investe" tenha "pernas para andar" é necessário que as políticas implementadas sejam pragmáticas. É o que diz Álvaro Fernandes, presidente da Associação de Criadores de Gado do Sul de Angola.
"Tudo é importado de maneira que produzir carnes com estes custos de produção é mesmo muito complicado. E se os nossos empresários começam a não ter os apoios indispensáveis para valorizar os seus produtos, corremos realmente o risco de irmos abandonando a actividade, o que é preocupante".
O presidente da Associação Agropecuária e Industrial da Huíla denuncia ainda que os empresários estão a ser prejudicados com a escassez de divisas. Preocupação que, segundo Paulo Gaspar, já foi transmitida ao ministro da Economia de Angola, Abrão Gorgel.
"Grande parte das nossas empresas ainda não conseguiram comprar máquinas por causa da escassez de divisas, mas já nos estão a cobrar o valor total. Por outro lado, o dinheiro que eles têm no banco é desvalorizado já. Mas muito desvalorizado e muitas vezes a 100%".
Promessas do Governo
António Januário, empresário na área da construção civil na cidade do Lubango, também está preocupado: "Neste momento, temos 55 trabalhadores que ficarão desempregados. O Governo não tem trabalho para a construção civil. E se tem, é só para os filhos e não para os enteados", desabafa Januário.
Apesar das dificuldades, o ministro da Economia, Abrão Gorgel, prometeu rever as políticas de financiamento de apoio aos empresários. Ele assegurou que o projeto "Angola Investe" não vai terminar.
"O projeto vai continuar a financiar o setor privado mesmo neste período mais desafiante, em que os bancos têm menor propensão para conceder crédito. Nós pensamos que o projeto, pelas condições que tem, ainda continua a ser um dos grandes incentivos para que os bancos concedam créditos. O que não significa que os bancos vão dar crédito. Eles vão concedê-lo a quem der garantias de que vai haver retorno. Para quem não garantir retorno, não haverá concessão de crédito", esclarece Gorgel.