Paul Biya: O Presidente dos sete mandatos consecutivos
24 de outubro de 2018Paul Biya está no poder há 36 anos. Aos 85 anos, deverá tomar posse novamente como chefe de Estado deste país da África Ocidental. Na última segunda-feira (22.10), os resultados oficiais da votação de 7 de outubro começaram a ser divulgados pelo Tribunal Constitucional, que é dominado por partidários de Paul Biya, no Governo desde 1982.
Segundo estes resultados, Biya obteve 71,28% dos votos, consolidando-se, assim, como o segundo líder de África há mais tempo no poder, depois do Presidente Teodoro Obiang, da Guiné Equatorial. Os resultados das eleições deste ano são ligeiramente menores que os da última eleição, em 2011, quando Biya ganhou 78% dos votos.
Problemas
Mas o próximo Governo de Paul Biya não deverá estar livre problemas. Por sua vez, o antigo ministro da Justiça e advogado, Maurice Kamto, de 64 anos, e líder do Movimento para o Renascimento dos Camarões (MRC), da oposição, reivindicou a 8 de outubro a sua vitória sobre o Presidente cessante.
As divergências de opositores somadas à insatisfação popular dos camaroneses não deverão garantir a Biya um mandato de aceitação plena. "Biya é cego para a situação real do país. O poder não lhe permite ver a realidade", diz Jean-Pierre Bekolo, realizador camaronês que vive no exílio nos Estados Unidos.
O conflito no oeste do país revela quão explosivas são essas questões: os separatistas exigem a independência de duas regiões onde a esmagadora maioria da população anglófona vive. Ao todo, no país, cerca de um quinto dos camaroneses pertence à minoria anglófona, o restante dos habitantes à maioria francófona. A divisão linguística do país é um resquício da era colonial.
Campanha eleitoral
A aparição de Paul Biya no final de setembro em Maroua foi uma das raras aparições públicas do Presidente desde que ele anunciou em julho, via Twitter, que pretendia candidatar-se novamente à Presidência.
Em Maroua, ele casualmente disse: "Tenho certeza de que os camaroneses farão a escolha certa no dia 7 de outubro, para que continuem a ter o poder da experiência do lado deles!". Sua mensagem é clara: apenas ele é capaz de combater de forma eficaz os jihadistas do Boko Haram e os separatistas anglófonos. "Dizemos a todos os nossos cidadãos das regiões abaladas, que os protegeremos de seus 'autoproclamados' libertadores".
Governo por decreto
Ao longo dos anos, Paul Biya retirou-se cada vez mais da política cotidiana. Em vez de lidar com o Parlamento e outras instâncias políticas, ele governa cada vez mais por decretos. Os cargos públicos, como ministros e secretários de Estado, ou cargos executivos em empresas estatais, são designados a confidentes absolutamente leais a ele. Biya também se absteve de convocar um congresso do partido para que o partido governista, o Movimento Popular Democrático dos Camarões (CPDM), pudesse aprovar sua candidatura.
A gestão da campanha eleitoral ficou a cargo dos dirigentes de seu escritório. "Ele está ausente e pode ser representado", mencionavam oposicionistas e comentaristas face às suas ausências. Entretanto, Biya aparecia frequentemente no exterior, especialmente na Suíça, onde gozava regularmente de férias prolongadas.
"Trajetórias"
Acredita-se que Biya tenha passado um terço do seu tempo, ou mais, fora dos Camarões. Na Suíça, segundo a rede internacional OCCRP (Projeto do Relatório para Crime Organizado e Corrupção), ele teria se hospedado em um hotel cinco estrelas de Genebra, juntamente com sua esposa e até 50 funcionários. A conta total do hotel, bem como o custo do jato privado, especialmente fretado, são estimados em cerca de 156 milhões de euros.
Paul Biya vem de família humilde. Depois de estudar em Yaoundé, na década de 1940, mudou-se para Paris, nos anos 50, onde estudou em diversas universidades. Em 1962, o primeiro Presidente dos Camarões, Ahmadou Ahidjo, levou-o de volta para o país de origem e o designou ao cargo de ministro. Chegou à chefia do Estado em 6 de novembro de 1982, assumindo o cargo de Presidente dois dias depois da renúncia de Ahidjo.
"Ele começou o Governo com grandes reformas", lembra Hervé Emmanuel Nkom, membro partido CPDM, fundado em 1985, por Paul Biya. Nkom diz que a contribuição de Biya para a modernização do sistema político dos Camarões merece uma menção especial. "Ele introduziu inúmeras reformas democráticas no país, o sistema multipartidário, muitas liberdades democráticas e desenvolvimentos sociais".
Mas nem todos concordam, como o historiador e filósofo camaronês Achille Mbembe, que avalia de maneira negativa o Governo de Biya: "Fracassou em todos os aspetos. O país perdeu 36 anos valiosos com esse homem à frente do Estado".