Chissano classifica mudança no Zimbabué como "histórica"
22 de novembro de 2017Sucedem-se em Moçambique as reações a resignação ao cargo do Presidente do Zimbabué, Robert Mugabe.
Mugabe tem fortes ligações com Moçambique, um país onde esteve exilado, juntamente com vários outros guerrilheiros da União Nacional Africana do Zimbabué - Frente Patriótica (Zanu-PF), antes da independência do Zimbabué em 1980.
O ex-Presidente moçambicano, Joaquim Chissano, classificou a mudança política no Zimbabué como "um momento importante e histórico na história de África". Acrescentou que é um exemplo de que "os povos africanos devem saber confiar nas suas próprias forças e saber resolver os seus problemas". Chissano considerou ainda que "a democracia funcionou".
"Ele fez uma decisão certa neste momento. Podia tê-lo feito há mais tempo, mas a situação, aquela que eu conheço, não era tão fácil".O antigo estadista moçambicano diz estar confiante de que a segurança de Mugabe está salvaguardada uma vez que ele deixou o poder de forma amigável.
Solução interna dos problemas do país
Para o ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Oldemiro Balói, a atual mudança política é um sinal claro de que os zimbabueanos têm capacidade para resolver internamente as suas diferenças.
Segundo o chefe da diplomacia moçambicana "os zimbabueanos depararam com um problema e resolveram entre eles. Parecem satisfeitos com a solução. Isso é que nos interessa", acrescentou.Balói disse acreditar que a atual crise no Zimbabué não vai afetar a cooperação bilateral com Moçambique.
Ouvir a voz dos cidadãos
Reagindo igualmente à resignação de Robert Mugabe, o chefe da bancada parlamentar da FRELIMO, Edmundo Galiza Matos Júnior, considerou ser importante que os dirigentes respeitem sobretudo a Constituição e as demais leis. "Que os processos internos a nível das lideranças observem regras democráticas, mas que sobretudo ouça-se a voz dos cidadãos”.Por seu turno, o porta-voz da RENAMO, António Muchanga, afirmou a jornalistas que "espero que os zimbabueanos encontrem o melhor caminho na era pós-Mugabe para que efetivamente a democracia seja uma realidade naquele país. Estamos satisfeitos porque não houve derramamento de sangue".
Para o porta-voz da bancada parlamentar do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Fernando Bismarque "a ilação a tirar é que o povo é soberano, apesar da situação do Zimbabué ter tido uma particularidade de primeiro o movimento que pressionou Mugabe ter sido uma ala militar mas uma ala militar que sempre esteve dentro da Constituição e a seguir o povo apoiou esta ideia de destituir".
Mnangagwa regressa ao Zimbabué
O ex-vice-presidente do Zimbabué, Emmerson Mnangagwa, designado pelo partido no poder como sucessor de Robert Mugabe na presidência, retornou nesta quarta-feira (22.11.) ao país e está previsto que prestará seu juramento ao cargo como presidente provisório na próxima sexta-feira (24.11.).
O avião que levava Mnangagwa aterrissou numa base militar da capital Harare. Ali, Mnangagwa reuniu-se com os chefes do exército antes de se dirigir ao quartel-general de seu partido, ZANU-PF, para pronunciar um discurso a seus correligionários.
Dezenas de pessoas se amontoaram à saída do aeroporto para dar boas-vindas ao novo líder com cartazes de "você cumpriu sua palavra, seja bem-vindo", em referência ao comunicado emitido por ele há alguns dias, no qual prometeu que retornaria ao Zimbabué para controlar as "engrenagens" do partido governante e do país.Horas antes, a ZANU-PF confirmou que tinha designado oficialmente Mnangagwa para assumir a chefia do Estado com o título de Presidente interino
O "Crocodilo"
Conhecido como "Crocodilo", Mnangagwa deixou o ZimbabuéF poucos dias depois de ser destituído como o número 2 do Governo ,no passado dia 6 de novembro, alegando que tinha recebido ameaças de morte.