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PAIGC quer ganhar legislativas para destituir PR

24 de janeiro de 2022

Muniro Conté, secretário do PAIGC, afirma que Simões Pereira tem o apoio da esmagadora maioria do partido e vai vencer as próximas eleições. "Os desafios são grandes e precisamos de um líder à altura", salienta.

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Guinea-Bissau PAIGC-Anhänger feiern den Sieg bei den Parlamentswahlen
Foto: DW/B. Darame

O presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, deverá avançar para um terceiro mandato à frente do partido que é líder da oposição guineense. Apesar de receber o aval dos órgãos superiores da legenda, vários dirigentes, mesmo no seio do próprio PAIGC, insurgem-se contra a intenção de Simões Pereira.

Por sua vez, o Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, já avisou que nunca nomearia Simões Pereira primeiro-ministro, mesmo caso ele e o seu PAIGC vencessem as próximas legislativas, invocando como razão o facto de Domingos Simões Pereira não o reconhecer como Presidente da República.

Entretanto, o comité central do PAIGC apelou aos subscritores de uma carta aberta, na qual criticam os mandatos de Simões Pereira à frente do partido, para reconsiderarem a sua posição e passarem a apoiar um terceiro mandato.

O congresso do PAIGC realiza-se, em Bissau, entre 17 e 20 de fevereiro. Domingos Simões Pereira ainda não anunciou a sua recandidatura a um terceiro mandato.

Em entrevista à DW, o secretário para a comunicação e informação do PAIGC, Muniro Conté, comenta o conflito interno no seu partido,  mas não deixa de contra-atacar o Presidente da República, afirmando que o PAIGC vai iniciar um processo de destituição de Umaro Sissoco Embaló, caso vencer as próximas legislativas com maioria qualificada.

Guinea Bissau  PAIGC Domingos Simões Pereira
Domingos Simões Pereira goza do apoio dos militantes do PAIGC para o próximo congresso, afirma secretário do PAIGCFoto: Joao Carlos/DW

 

DW África: Os estatutos do PAIGC determinam algum limite para número de mandatos do seu presidente?

Muniro Conté (MC): Não há nada nos estatutos que estabeleça um limite de mandatos à frente do partido.

DW África: Domingos Simões Pereira vai então avançar para um terceiro mandato?

MC: Todos os presidentes das comissões políticas regionais expressaram de forma sistemática a sua vontade de continuar a ver Domingos Simões Pereira à frente do partido. Isso quer dizer que querem que ele concorra a um terceiro mandato.

DW África: Isso não criaria mais divergências internas no partido?

MC: O facto de haver diferentes alas no partido, em princípio, não impede que o partido ganhe as eleições. É importante que os órgãos do partido, e os militantes também, respeitem os estatutos. E neste momento o PAIGC está a caminhar, a passos largos, para um grande desafio. E é preciso ter uma liderança forte à altura desse grande desafio…

DW África: Uma liderança que passaria pela manutenção de Domingos Simoes Pereira à frente do partido?

MC: A manutenção de Domingos Simões Pereira foi pedida por militantes, através de uma moção de confiança que foi aprovada por unanimidade na última reunião do comité central…

DW África: Muniro Conté, como explica as declarações do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, que nunca nomearia Domingos Simões Pereira primeiro-ministro, mesmo que ganhasse o congresso e as legislativas?

MC: Sissoco não é o dono do Estado da Guiné-Bissau. O Estado da Guiné-Bissau rege-se pelos seus instrumentos jurídicos, nomeadamente pela Constituição da República da Guiné-Bissau, que consagra o princípio da independência e separação de poderes.

Paris | Guinea-Bissau's Präsident Umaro Sissoco Embalo
Presidente Umaro Sissoco Embaló não pretende nomear Domingos Simões Pereira primeiro-ministro, mesmo que ele vença as eleições legislativasFoto: AFP

DW África: Também o antecessor de Sissoco, José Mário Vaz não nomeou Domingos Simões Pereira. Corremos o risco de repetirmos uma história…

MC: Desta vez o PAIGC, para acabar com essa barbaridade constitucional, fixa, como fasquia, ganhar as eleições parlamentares com maioria qualificada, portanto dois terços dos assentos. A maioria qualificada de dois terços permitiria ao PAIGC, sozinho ou aliado a outros partidos, iniciar um processo de destituição do Presidente da República. É esta a fasquia que o PAIGC fixa para as próximas eleições e eu acho que estamos em condições de obter esse mesmo resultado. Nós sentimos as movimentações nas bases. Há muitas pessoas que se sentem arrependidas, vítimas de promessas falsas de que a governação do país iria ser um mar de rosas, e hoje estão a ver uma governação que nos está a conduzir para o caos.

DW África: O PAIGC aceitaria que um Governo se fosse empossado por um Presidente que o partido não reconhece?

MC: Temos que usar estas prerrogativas. Quando o PAIGC ganhar as legislativas abrir-se-á um novo quadro. Se o Presidente, ao empossar o Governo do PAIGC, se limitar ao seu papel constitucional, não haverá problemas…

DW África: Falta democracia interna no PAIGC, nesta fase que antecede o congresso, como afirmam as vozes mais críticas?

MC: Já vamos em seis reuniões do comité central desde que Domingos Simões Pereira voltou, sem contar com os outros órgãos políticos e de orientação do partido, nomeadamente a comissão permanente e o Bureau Político, e nessas reuniões todas as vozes que surgem para prestar declarações e que deveriam falar apenas três minutos, falaram  mais de 27 minutos. Se isto não se chama democracia interna, então estamos conversados. Não sei qual o tipo de democracia interna as pessoas querem.

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