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Pacientes de HIV-SIDA entreajudam-se no Lesoto

Peter Geoghegan / Marta Barroso 15 de maio de 2014

O Lesoto tem a terceira taxa de infeção de HIV mais alta do mundo. Mas o país africano adotou um esquema que permite aos pacientes assumirem um papel mais ativo na forma como lidam com a doença nas suas comunidades.

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Pacientes no exterior do Hospital de MamahouFoto: Peter Geoghegan

Bem no alto das montanhas do Lesoto fica o Hospital de Mamahou. Este é um dos poucos centros de saúde modernos do país da África Austral. O hospital luta para conseguir lidar com alguns pacientes infetados com HIV, diz o médico Paul Manka. "Os pacientes estão deitados no chão”, queixa-se, “porque não há quartos suficientes nem há espaço para eles lá”.

No Lesoto, há apenas 89 médicos para dois milhões de habitantes e isso é um verdadeiro problema, segundo o médico Constant Kaonga do hospital de Mamahou. "O número de enfermeiros e outro pessoal da área da saúde não é suficiente”. Um médico, acrescenta Kaonga, não tem capacidade para ver mais de 20 pacientes. Portanto, “se ele tiver de ver pelo menos 40, a qualidade do serviço prestado baixará definitivamente”.

Pacientes peritos

De forma a preencher as lacunas, o sistema de saúde integra agora não-profissionais, nomeadamente os chamados “pacientes peritos”. Eles mesmos estão infetados com HIV e ajudam os médicos a alcançar mais pacientes que, de outra forma, não receberiam tratamento.

Depois de ter sido um sucesso no Haiti, a ideia de usar pacientes para informar e ajudar outros pacientes foi introduzida no Lesoto em 2005. Hoje há 600 “pacientes peritos”, cada um ganha entre cerca de 40 e 60 euros por mês.

Mamokoena Malaka, uma mulher cheia de energia, foi uma das primeiras a tornar-se “paciente perita” no seu país. "Eu peço autorização para falar com os pacientes sobre HIV enquanto estão na sala de espera”, conta, “e então encorajo-os a abrir-se com o médico, a contar-lhe tudo o que aconteceu para que ele saiba o seu estado”. Quanto mais fala sobre HIV, diz Mamokoena, melhor se sente.

A paciente recebeu o diagnóstico positivo há quase dez anos, depois de o seu marido ficar doente. Agora, viúva, teve de aprender a viver com o vírus e sabe o quão importante é tomar o tratamento antiretroviral para sobreviver.

Ela diz que os pacientes a ouvem: "o médico ou o enfermeiro não vão saber a verdade sobre o que se está a passar, porque o paciente vai dizer que toma sempre os medicamentos. Mas a mim eles contam a verdade, dizem quando estão cansados de tomar os comprimidos e até que os deitam fora”.

Elementos de ligação entre pacientes e pessoal médico

Lillian Nalwoga, uma médica ugandesa na Baylor Clinic da capital do Lesoto, Maseru, trabalha regularmente com “pacientes peritos”. Na maioria das vezes em que trabalha em centros de saúde, “o paciente perito já pesou e mediu os outros pacientes, já contou os comprimidos e documentou o cumprimento da medicação” antes de a médica chegar. “A presença deles simplifica muito o meu trabalho”.

Os “pacientes peritos” são importantes nos centros urbanos, mas também, e muito mais, nas montanhas remotas do Lesoto. Para muitos que vivem nas aldeias nos topos das montanhas, o hospital mais próximo fica a um dia inteiro de caminhada.

O seu trabalho como “paciente perito” melhorou o seu prestígio na comunidade, afirma Malilamo Mafwa, que já ajudou a impedir que o HIV proliferasse na aldeia de onde vem. “Eu consegui trazer muitas pessoas para a clínica”, diz com orgulho.

“Isso significa que sou aceite pela comunidade. Sou visto como alguém que salva vidas”. Para os pacientes trata-se, de facto, de uma questão crucial para a vida, diz a “paciente perita” Elizabeth Mabothile. "Quando ajudamos as pessoas da comunidade, elas não morrem. Não há órfãos”.

Fundos em risco de terminar

No Lesoto, ainda há pessoas que morrem de doenças relacionadas com o HIV. Contudo, através do programa dos “pacientes peritos”, agora há mais pessoas em tratamento antiretroviral e, como dizem os médicos, têm uma vida mais longa.

Contudo, o esquema está agora em risco de terminar: cerca de metade dos “pacientes peritos” do Lesoto é financiada pela organização internacional Fundo Global de luta contra a SIDA, Tuberculose e Malária e o apoio ao programa está a escassear.

Em 2015, os fundos destinados aos “pacientes peritos” serão reduzidos em dois terços. Tanto eles como os médicos temem que este possa ser um golpe sério para a assistência a pessoas infetadas com HIV no Lesoto.

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Mamahou, Lesotho Patienten in Klinik
Os "pacientes-peritos" facilitam muitas vezes o trabalho dos médicos e ajudam outros doentesFoto: Peter Geoghegan
Mamahou, Lesotho Patienten in Klinik
O pessoal médico não chega para responder a todas as necessidades no LesotoFoto: Peter Geoghegan
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