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Mudanças climáticas — Vamos perder esse jogo?

Ruby Russel | mb
10 de novembro de 2017

O aquecimento global não é apenas um problema ambiental - afetará todos os aspetos da vida humana. Especialistas dizem que o poder das pessoas ainda pode salvar o planeta.

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UN-Klimakonferenz 2017 in Bonn Proteste
Protestos em Bona na 23.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP23)Foto: DW/K. Wecker

O mundo está ficando mais quente. Isso está claro para os agricultores, cujos campos de colheita foram arrasados pelas ondas de calor que acometeram o sul da Europa, a Ásia e os Estados Unidos neste verão, está claro para as equipes médicas que lutaram para lidar com os efeitos físicos desse calor no corpo humano e também para aqueles que perderam seus lares nos incêndios das florestas ao longo do sul da Europa e dos Estados Unidos.

As mudanças climáticas e suas consequências deixaram de ser uma preocupação de nicho científico para destacarem-se diariamente nos noticiários. A situação levou a um esforço de cooperação sem precedentes entre as nações do mundo. Uma prova disso é a 23.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP23), que está a decorrer em Bona. Trata-se da última rodada de negociações que visam abrandar o aumento da temperatura e preparar-se para as possíveis consequências.

Dominica Hurrikan Maria
Maria causa estragos durante a devastadora temporada de furacões do CaribeFoto: Getty Images/AFP/Str

Inundações, secas, migração

O clima tornou-se uma força mortal. Basta lembrar-se das vítimas dos furacões que assolaram o Caribe e o Golfo do México, além das inundações causadas por temporais, que estão a aumentar significativamente e inundar as costas tropicais ao redor do mundo.

Ainda assim, em termos de custos humanos, esses eventos que acontecem de maneira inesperada e dramática perdem a força diante das secas que dizimam a África Oriental. Agências internacionais alertam que cerca de 800 mil crianças correm risco de morrer de fome por causa da seca.

Nessas secas, o aumento da temperatura global é um fator inquestionável. E isso pode desencadear uma série de consequências mortais – como a escassez de alimentos, que contribui para a migração de milhares de pessoas e gera conflitos de combustível.

Em outubro deste ano, o Instituto Potsdam de Pesquisas Climáticas organizou uma conferência sobre os impactos da alteração climática e alertou os participantes sobre uma verdade óbvia: se o clima for desestabilizado, a sociedade vai perder o rumo também. 

Clima/COP23 - MP3-Mono

Quando a teoria vira realidade

O cientista do clima Wallace Broecker cunhou o termo "aquecimento global” em 1975, com um artigo intitulado: Mudanças climáticas – estamos à beira de um aquecimento global anunciado?

A dimensão do impacto ainda não estava clara e foi debatida apenas por um círculo relativamente pequeno de cientistas e ativistas. Quatro décadas depois, o aquecimento global provou ser um problema ecológico muito real, assim como um problema de saúde, uma questão social, política e económica.

Já se vão dois anos desde que o Acordo de Paris foi aclamado como um avanço. Quase todas as nações do mundo comprometeram-se a reduzir as emissões. Um acordo como este é mais do que um sinal do quão longe chegamos até reconhecer que precisávamos agir. Mas ainda há muito a fazer. Até agora, as promessas feitas no âmbito do acordo global estão aquém de manter o aumento da temperatura abaixo do limite determinado de dois graus celsius.

Mas para evitar um desastre climático, conferências como a que está a acontecer em Bona, na Alemanha, são apenas uma parte da solução.     

Dale Jamieson, professor de estudos ambientais e filosofia da Universidade de Nova York, adverte contra as esperanças ingênuas do mundo sobre eventos como este em Bona. Para ele, o processo da COP é necessário, mas não é tão importante. "E não é para a maior parte das pessoas, onde as coisas realmente acontecem. Há muita confusão sobre isso. Várias comunidades ambientais tendem a colocar suas esperanças de algum avanço que possa resultar desses eventos. Essas pessoas querem resumir o mundo a um curso de ação alternativa, que, a propósito, eles nem têm poder para realizar”, salientou.

Ações locais

UN-Klimakonferenz 2017 in Bonn | Demonstration & Protest
Mais protestos em Bona, durante a COP23Foto: picture-alliance/dpa/R. Weihrauch

No caso dos Estados Unidos, o poder limitado de líderes mundiais pode ser encarado como um presente de Deus. Depois de o presidente Donald Trump retirar os EUA do acordo climático, cidades e estados ao longo do país comprometeram-se a atingir as metas indiferente do que Trump quer.

E eles não estão sozinhos. Governos locais e estaduais de todo o mundo estabeleceram suas próprias metas de redução de emissões e prazos para abrir mão do carvão. Atitudes muito mais progressistas do que a de muitos Governos nas esferas nacionais.

Recentemente, várias cidades como Londres, Los Angeles, Cidade do México, Copenhagen, Barcelona, Vancouver e Cidade do Cabo comprometeram-se em abolir o motor a combustão em pelo menos parte de suas estradas.

Robert Costanza, economista ecológico da Crawford Cchool of Public Policy, da Austrália, disse que é aí que várias ações devem acontecer, "porque iniciativas globais têm maiores vantagens”. Segundo o economista, eventos locais são bons porque, por um lado, eles acontecem nos lugares afetados, e, por outro, servem como exemplo a outros lugares, para mostrar a viabilidade e o desejo de realmente seguir o caminho de uma estratégia alternativa.

A partir de programas políticos que ocorrem nos estados, como o rápido avanço da Califórnia para a descarbonização, e as "cidades transitórias”, onde pequenas comunidades estão a experimentar o "resíduo zero” e a economia circular, outras localidades também podem testar uma ideia a ser replicada em outros lugares. 

No controle do futuroEnquanto muitos estão a experimentar outras maneiras de viver de forma mais radical, para muitos de nós parece difícil aceitar que ações normais, como comer um hamburguer ou levar o filho para ver um jogo de futebol de carro, podem contribuir para terríveis danos ambientais e perda de vidas humanas. E o problema parece ser grande demais para ser solucionado.

Deutschland Anti Rampal Protest in Bonn
Foto: DW/M. Rahman

Robert Costanza afirmou que a sociedade precisa de mudanças radicais. A começar por nos distanciarmos da obsessão por crescimento e consumo, para em seguida nos aproximarmos de uma consciência que vive num planeta com meios finitos. A boa notícia é que as coisas que precisamos desistir, como fábricas que poluem o ar e o acúmulo sem fim de bens e riquezas, não é aquilo que nos fazem felizes.

Coragem para agir

"Nos próximos 40 anos, a natureza vai dar suas cartas. E os sistemas políticos e culturais vão responder adequadamente ou não”, considerou Peter Timmerman, professor associado de estudos ambientais na Universidade York de Toronto.

Os cientistas apontam que embora ainda estejamos lidando com grandes incertezas, não é possível descartar cenários de catástrofes ambientais, como o aumento do nível do mar, doenças e guerras.

No entanto, Timmerman acredita que por mais terríveis que sejam nossas perspetivas, precisamos agir – mesmo que seja um ato de fé cega. Mas a motivação não pode ser movida pelo medo. "Este é um planeta tão maravilhoso e destruí-lo assim é tão deprimente. O que me motiva é que acho esse o melhor planeta do universo. Não vai haver outro tão bonito quanto este. E eu quero protegê-lo”, completou.