Os coqueiros de Inhambane
O coqueiro é muito usado na província de Inhambane, no sul de Moçambique. Seja na construção de casas, salas de aulas, estâncias turísticas e até na gastronomia, esta palmeira garante o sustento de muitas famílias.
"A vida começa assim"
O coqueiro dá novos horizontes principalmente aos jovens que não têm oportunidades de emprego depois de formados. Eles dedicam-se à construção de barracas (casas típicas da região) suportadas pelas ripas de madeira proveniente do coqueiro, cujas folhas são aproveitadas também para vedação dos quintais. As pessoas que vivem nestas condições habitacionais dizem que "a vida começa assim".
Baixa produção
Inhambane chegou a transportar cerca de 1.500 toneladas de derivados de coco, mas nos últimos 10 anos as rendas baixaram e as plantações de coqueiro foram afetadas por pragas. Os cidadãos são prejudicados pelo encerramento de fábricas que tinham como matéria-prima aqueles derivados. O silêncio do Governo preocupa o conselho empresarial, que apela para o uso sustentável dos coqueiros.
Água de coco
É um cartão de visita na região. Composta por vitaminas e sais minerais ricos em benefícios para a saúde, que vão da hidratação à prevenção de doenças, a água de coco é comercializada nos centros das cidades por mulheres oriundas dos subúrbios. Nas praias, é um excelente negócio para adolescentes e jovens. Os vendedores dizem que conseguem um rendimento médio de 10 euros por dia.
De Inhambane a Maputo
José Alfredo, comerciante de coco desde a década 90 em Inhambane, mudou a rota do seu negócio ao Lourenço Marques, hoje Maputo (capital de Moçambique), para conseguir mais lucros. Conseguiu construir duas casas com material convencional e tem algumas cabeças de gado. E ele afirma que os seus filhos nunca deixaram de frequentar a escola.
Fábricas de sabão e óleo
A província de Inhambane tem fábricas para o beneficiamento do coco, empregando cidadãos locais e alguns estrangeiros. Mas, os agricultores reclamam do preço baixo para a venda dos derivados de coco, que são exportados para países da África Austral, Europa, América e Ásia. Nos últimos cinco anos, quatro fábricas já fecharam as portas por falta de matéria-prima.
"Vivo na casa de coqueiro"
Uma frase que todo visitante escuta dos residentes de Inhambane, principalmente os cidadãos com baixo poder aquisitivo. Essa casa alberga cinco pessoas num dos bairros suburbanos. Como forma de proteger a terra, tem-se emprestado o espaço para habitação, mas não se pode construir com material convencional.
"Não tive outra escolha"
Zaqueu Guiamba, jovem que trabalha numa das serrações de madeira na região sul de Moçambique, diz que não teve "outra escolha" depois de concluir o ensino médio. Casado e pai de dois filhos, com este trabalho ele tem rendimento médio de 3 euros por dia - o que dificulta o seu futuro. Zaqueu ainda está de olho em novas oportunidades.
Capela de coqueiro
Principalmente nas zonas rurais, onde muitos grupos religiosos professam cultos, as estacas, ripas, barrotes, madeira e macuti são usados para a construção. O custo do material é muito barato e os próprios fiéis são responsáveis nas reabilitações.
Sura, a bebida do coqueiro
Sura é um líquido extraído das palmeiras e que dá origem a uma bebida alcoólica tradicional na região. Ele também é o ingrediente de bolinhos e pães de sura, que são vendidos nas paragens dos auto-carros. Muitas pessoas, principalmente mulheres, sobrevivem com este negócio. Visitantes desta região sempre provam a iguaria. Uma tradição antiga preservada pelo povo.
Escassez de coco nos mercados
O preço do coco duplicou nos últimos anos e as vendedoras dizem que é devido ao abate constante dos coqueiros, que afeta a sua produção e, consequentemente, os negócios de quem vive desta palmeira. E os clientes reclamam da qualidade do coco, muito utilizado na gastronomia típica da região.
Atração turística
Os coqueiros também servem o tursimo de Inhambane. Várias estâncias turísticas são construídas com as matérias provenientes do coqueiro, principalmente os troncos e as folhas, que são usadas para forrar o telhado.
Bom negócio
Romao Wacela dedica-se ao negócio do tronco de coqueiro há mais de 10 anos na cidade de Maxixe. Ele vende tábuas para porta, barrotes, ripas e prancha. Por dia consegue arrecadar cerca de 10 euros e diz que "coqueiro dá bom negócio". O comerciante sustenta a sua família e ainda tem projetos em carteira para utilizar o coqueiro mesmo sabendo que não está fácil encontrá-lo para o abate.
Indústrias encerradas
A falta de políticas para a produção do coco e a sua reposição levou o encerramento de algumas fabricas que operavam apenas com o material fornecido pelo coqueiro. Esta indústria pertence a um grupo de investidores sul-africanos, mas não funciona há mais de um ano, deixando dezenas de cidadãos sem emprego.