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ONU assustada com aumento de refugiados do conflito no Sudão

20 de dezembro de 2011

Nações Unidas tentam abrigar 650 sudaneses que diariamente fogem dos confrontos entre governo de Cartum e rebeldes do MPLS-N, um braço nortista do agora partido político que governa o Sudão do Sul, independente.

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Soldado do movimento rebelde MPLS-N, que enfrenta forças do governo de Cartum desde junho
Soldado do movimento rebelde MPLS-N, que enfrenta forças do governo de Cartum desde junhoFoto: DW

O Sudão do Sul separou-se do Sudão do Norte em 09.07 para se tornar um estado independente. Quando o Sudão do Sul declarou a independência, o Movimento Popular de Libertação do Sudão (MPLS) acrescentou a palavra "Norte" ao seu nome e declarou-se um partido político, conhecido sob a sigla de MPLS-N. O MPLS-N é um braço do MPLS, que governa no Sudão do Sul e que agora também é uma formação partidária.

Mas o governo de Cartum proibiu o movimento MPLS-N e a guerra recomeçou, primeiro em junho, na província do Cordofão do Sul, que fica na fronteira entre o Sudão e o Sudão do Sul. Depois, em setembro, foi o estado de Blue Nile que se tornou palco de conflitos. Desde então, mais de 50 mil refugiados fugiram para o Sudão do Sul e as Nações Unidas têm dificuldades em acomodá-los em Doro, um acampamento no estado do Alto Nilo, no Sudão do Sul.

Em Doro, todos os recém-chegados têm de registar-se na agência de refugiados das Nações Unidas. Conseguiram cruzar a fronteira para o Sudão do Sul a partir do estado de Blue Nile, onde o governo do Sudão do Norte está em guerra contra o grupo rebelde "SPLA-Norte", o Movimento Popular de Libertação do Sudão-Norte.

Cartum acusado de lançar bombas contra civis

O governo de Cartum tem sido acusado de lançar bombas contra a população civil. E pessoas como Afia Jan contam que muitos civis partiram depois de terem sido alvejados por bombas lançadas por aviões Antonov, de origem ucraniana: "Existe uma zona chamada Nyele. A população foi lá buscar alguma comida, mas os Antonov apareceram e largaram as suas bombas. O medo levou-nos até Doro. Temos medo pelos nossos filhos", relata a mulher.

Perto do centro de registos, a agência de refugiados da ONU está a montar um acampamento. Aqui não há barracas. Por isso, as pessoas estão a construir os seus próprios abrigos. James Nagar está sentado debaixo de um pequeno abrigo que ainda precisa de duas paredes. Ele diz que a sua aldeia inteira fugiu depois de ter sido atacada por caças e bombardeiros Antonov. No meio da confusão, perdeu o contato com os seus dez  filhos e foi sozinho até Doro. "Quando os Antonov nos bombardearam, alguns morreram e outros conseguiram escapar. Até ao momento, não sei onde estão os meus filhos. Agora estamos com medo de voltar, porque se voltarmos agora talvez nos matem. Por isso, fico aqui à espera até ter uma oportunidade para voltar", explica.

Pode demorar algum tempo até que James e os outros refugiados consigam ir para casa. Os rebeldes nos estados de Blue Nile e do Cordofão do Sul não mostram nenhum sinal de recuo. E o governo de Cartum aumentou as suas operações militares.

Para abrigar refugiados, ONU prepara dois novos campos

Mireille Girard é a representante do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) no Sudão do Sul. "Seremos os primeiros a ajudar as pessoas a voltar no dia em que puderem regressar", espera. "E, quando estiverem dispostas a voltar, deverá ser em condições seguras. Realmente, não sabemos como será a situação em Blue Nile e no Cordofão do Sul num futuro próximo. Temos de continuar a observar a evolução dos acontecimentos e as intenções das pessoas. "Mas, ao mesmo tempo, temos de estar preparados para ajudar as pessoas a longo prazo", afirma Girard.

Os combates entre o governo de Cartum e os rebeldes começaram em junho passado, no Cordofão do Sul, mas estes refugiados encontram-se numa zona diferente. Os que chegam aqui vêm pela fronteira no estado de Blue Nile, onde a guerra começou em setembro.

"Não conseguimos prever a velocidade a que chegam os refugiados. Apanhou-nos de surpresa a rapidez com que as pessoas foram chegando, porque estamos na estação seca, e portanto a região aqui é mais acessível do que era alguns meses atrás", explica Mireille Girard, do ACNUR.

"Estamos a tentar repor rapidamente os stocks de alimentos e de outros bens que tínhamos para a população e que se esgotaram muito rapidamente. Agora estamos a reabastecê-los para as pessoas que estão a chegar agora e para os que vão chegar nas próximas semanas", esclarece a responsável da ONU.

Girard diz que todos os dias chegam cerca de 650 refugiados. O ACNUR já registou 23 mil pessoas neste acampamento. A agência está a preparar duas novas localizações para refugiados, que deverão continuar a cruzar a fronteira nos próximos meses.

Autores: Jared Ferrie (em Doro, Sudão do Sul) / Madalena Sampaio
Edição: Renate Krieger / António Rocha

População civil que teria sido deslocada por bombardeamento do exército sudanês
População civil que teria sido deslocada por bombardeamento do exército sudanêsFoto: DW
Em base do MPLS-N, bombas que os rebeldes dizem ter apreendido das Forças Armadas do Sudão
Em base do MPLS-N, bombas que os rebeldes dizem ter apreendido das Forças Armadas do SudãoFoto: DW