ONG criticam ameaças da FLEC a cidadãos chineses em Cabinda
23 de setembro de 2015
Quatro meses depois das ameaças feitas em comunicado pela Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) aos cidadãos chineses que residem na província, e da exigência feita ao Governo chinês para que repatriasse urgentemente todos os seus nacionais, num prazo de 63 dias, é cada vez mais evidente a ausência de cidadãos chineses em Cabinda.
As ameaças do grupo armado que reivindica a independência do enclave angolano foram feitas a 15 de junho, depois de o Presidente José Eduardo dos Santos ter realizado uma visita oficial à China. Durante esta deslocação, foi celebrado um reforço financeiro chinês a Angola, sem que tenham sido anunciados oficialmente os detalhes deste acordo.
Não se sabe se a diminuição da presença chinesa no enclave angolano está relacionada com as frequentes ameaças da FLEC ou se é motivada pela crise económica que o país atravessa.
No entanto, os únicos cidadãos chineses que ainda se encontram na província de Cabinda trabalham nas grandes empresas chinesas responsáveis pelas grandes obras públicas nos municípios de Belize, Cancogo e Cabinda. Os trabalhadores estão sob proteção militar e os seus acampamentos são de difícil acesso.
Apelos ao diálogo
A situação preocupa várias organizações não-governamentais (ONG) angolanas, que condenam veementemente a atitude belicista do grupo rebelde que reivindica a independência do enclave de Cabinda há vários anos.
A associação OMUNGA, ONG sediada no Lobito, província de Benguela, considera inadmissíveis as declarações violentas da FLEC contra os civis. José Patrocínio, coordenador da organização, pede uma mudança de atitude ao grupo armado dirigido por Nzita Tiago, afirmando que “a FLEC deve rever imediatamente a sua posição”. Patrocínio salienta que a OMUNGA é “a favor da discussão da situação de Cabinda, mas sem o uso de violência”.
Também a Organização Humanitária Internacional (OHI) diz estar preocupada com as ameaças da FLEC. O diretor executivo da ONG, João Misselo da Silva, entende que é urgente encontrar uma plataforma de diálogo para a solução de Cabinda, em vez de se investir contra “cidadãos indefesos, quer sejam nacionais ou estrangeiros”.
“Queremos garantir a paz e a segurança no território de Cabinda, mas na via do diálogo e de forma permanente”, explica Misselo da Silva.
Ainda assim, o responsável da OHI entende que o Governo angolano deve explicar o teor dos acordos celebrados com a China durante a visita do Presidente José Eduardo dos Santos, no sentido de se evitar qualquer tipo de contestação e especulação.
Os detalhes, explica o diretor executivo da ONG, devem ser conhecidos para que “os cidadãos de Cabinda tenham uma informação que lhes permita agir de acordo com o pensamento de todos os habitantes da província que reivindicam a independência”.
"Isso não é vida"
A DW África ouviu também o secretário provincial do Fórum Cabindês para o Diálogo, Pedro Binda, que considera que é preciso que a FLEC compreenda que não é com ameaças que poderá trazer a paz e o desenvolvimento à província de Cabinda.
“Vamos desenvolver Cabinda participando e entendendo que o tempo da guerra já passou”, começa por dizer Pedro Binda. “Se os chineses vieram para resolver certos problemas que temos, sobretudo no domínio da construção civil, penso que não há necessidade de ameaçar aqueles que querem trazer algo importante”, explica.
O responsável do Fórum Cabindês para o Diálogo lançou ainda um conselho aos dirigentes da FLEC que insistem em continuar com a guerra em Cabinda, afirmando que “isso não é vida”.
“Vida é a instalação do poder, que protege a população, que permite a cada um contribuir para os alicerces, evoluir, preparar os seus filhos – que vão ser o futuro – e não permanecer no mal ou na mata, daí mandando comunicados. Penso que isso é um atraso”, conclui Pedro Binda.