Ondjaki apresenta "Uma Escuridão Bonita" em Lisboa
"Uma Escuridão Bonita", o novo livro do angolano Ondjaki, é apresentado publicamente em Portugal no dia 21 deste mês. Ilustrado por António Jorge Gonçalves, o romance já se encontra nas livrarias e é dirigido sobretudo às novas gerações. "São dois jovens que estão numa varanda em Luanda e falta luz. As pessoas pensam que é uma escuridão metafórica, mas não, é uma escuridão de verdade. E todo o livro é uma conversa durante essa escuridão. É um livro de afetos, de ternuras e tem uma ilustração muito bonita", afirma Ondjaki.
O escritor inspira-se num dos problemas sociais - a falta de luz -, com que ainda se confrontam muitos angolanos. A história passa-se nos anos 1980, quando a falta de luz era muito mais constante e gerava brincadeiras entre os jovens. Por isso, descreve Ondjaki, "o livro é uma homenagem às faltas de luz, que também podiam ser criativas".
Mais justiça social e liberdade de expressão
Ondjaki defende mais respeito pelo direito de manifestação em Angola, país onde se têm registado atos de repressão policial a cidadãos que protestam contra as injustiças sociais e por uma melhor distribuição da riqueza. "Eu associo-me à ideia de que é preciso ouvir as pessoas, quer seja a pessoa que escreve no jornal, a pessoa que faz uma reclamação na rádio, ou a que vai participar numa manifestação. É normal: em qualquer país do mundo, a população reage em função das suas insatisfações".
Mas, acrescenta Ondjaki, "é preciso muito cuidado com a maneira como, às vezes, alguns manifestantes são detidos". Na opinião do escritor, as detenções têm de ser justificadas: "O advogado tem de ter acesso ao detido, e se este é menor, temos de ver o lugar onde está detido. A minha preocupação é essa: ver se as coisas acontecem no espírito que a lei prevê".
Todos os angolanos, sem excepção, aspiram a uma Angola melhor, frisa, para depois se referir ao caso de Nito Alves, jovem de 17 anos detido desde setembro por supostamente ter difamado o Presidente angolano, Eduardo dos Santos.
"Eu neste momento não sei onde está o Nito Alves e isto, por exemplo, é um erro. A polícia ou o Governo deve explicar: se há uma interrogação acerca do paradeiro de um cidadão que ainda por cima tem 17 anos, a polícia tem o dever de informar porque é que está detido", adianta, ao acrescentar que todos os cidadãos detidos, independentemente da idade, têm direitos.
Ondjaki concorda que os escritores angolanos têm vindo a dar a sua contribuição para a correção das desigualdades sociais e para a conquista de uma maior liberdade no seu país. Para o escritor, além do lado lúdico da ficção, "a escrita aponta sempre uma ou outra preocupação e, às vezes, consegue apontar uma ou outra solução". A dúvida é saber "quantas pessoas depois querem aplicar algumas das ideias que nos surgem nos livros", reflete.
O romancista acredita numa Angola mais justa. "Eu tenho esperança que Angola seja mais interessante, um lugar mais calmo para se viver. Acho que é isso que todos os angolanos querem".
Prémio Saramago 2013 "é de todos os angolanos"
Com vários títulos publicados, entre poesia, conto, novela, romance e teatro, Ondjaki diz que não escreve a pensar no impacto ou nas influências que os seus livros vão ter na sociedade ou junto dos leitores. Um dos seus romances, "Os Transparentes" - publicado em 2012 pela Editorial Caminho - mereceu a distinção da Fundação Círculos de Leitores. Com esta obra venceu o Prémio Saramago 2013, entregue esta terça-feira (05.11) na Casa dos Bicos, em Lisboa. Distinção que lhe atribui maior responsabilidade. Decidiu, por isso, dedicar o Prémio ao seu país e concidadãos. "É um prémio tão grande que eu me senti na obrigação e tive o prazer de o dividir com Angola", justifica.
O Prémio Saramago 2013, no valor de 25 mil euros, foi instituído há 15 anos pela Fundação Círculos de Leitores para distinguir e incentivar jovens escritores de língua portuguesa. Ondjaki, pseudónimo literário de Ndalu de Almeida, é o primeiro escritor africano a receber este Prémio, que já vai na oitava edição.