O passado negro e ainda silencioso da SWAPO no sul de Angola
A província da Huila, situada no sul de Angola, registou nos seus anais a sua presença na luta de libertação do país vizinho, a Namíbia. Nos finais da década de 70, a Organização dos Povos do Sudoeste Africano (SWAPO) procurou bases no exílio para a luta contra o regime racista da África do Sul, que na altura administrava a Namíbia.
A África do Sul não ficou passiva e interveio na guerra civil angolana, apoiando a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), lutando contra o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que tinha boas relações com a SWAPO.
Perante esta perseguição do exército sul-africano, instalou-se um clima de medo em Angola, com a SWAPO a perseguir os seus próprios membros, como supostos espiões do regime sul-africano. A SWAPO instalou várias prisões no sul de Angola onde encarcerou um número até hoje não conhecido de pessoas, sem nenhum processo jurídico a decorrer.
Acusações sem provas
O professor reformado Custódio Alfredo João, hoje com 63 anos, pertenceu na altura às Forças do Governo do MPLA de Angola, as Forças Armadas de Libertação de Angola (FAPLA). Afirma que muitos inocentes foram acusados como informadores do exército racista sul-africano, apesar de não existerem quaisquer provas.
Muitos foram assim torturados, tanto na cidade do Lubango, como na localidade de Jamba, também no sul de Angola. "A delegação da SWAPO é aqui onde está a polícia económica", revela Alfredo João. "São essas duas casas principais da direção e únicas, aqui no Lubango", precisa.
Eram muitos os espaços de tortura da SWAPO, como o munícipio da Jamba, a zona do Luyovo ou o Polígono, todos na cidade do Lubango. Contudo, era essencialmente na delegação da SWAPO, situada no bairro da Lage, onde funciona atualmente a sede da polícia económica, que os incidentes aconteciam. Custódio Alfredo João conta que muitos inocentes morreram "porque quando a informação não era do seu agrado, aconteciam desgraças." Explica que "eram torturados e muita gente desapareceu".
Outro ex-integrante das Forças governamentais angolanas, Armando José Chicoca, diz que na sequência dos acontecimentos nem a sede foi poupada. "A logística da SWAPO está mesmo a escassos cem metros da minha casa", conta Armando Chicoca, que diz ter visto tudo com alguns amigos. Relata que "morreu ali muita gente no bairro de Mandume".
Chegou a hora do pedido de desculpas
Armando José Chicoca advoga que chegou o momento de a SWAPO pedir desculpas aos namibianos pelos inúmeros erros que cometeu tanto em Angola como no território da Namíbia. "O continente africano gosta de guardar coisas para o futuro e isto é muito mau", lamneta.
"Era bom que as pessoas que viveram os acontecimentos namibianos começassem já a revelar os factos. Podemos mentir, mas as coisas serão reveladas amanhã", sublinha. Acrescenta que a SWAPO não pode ter a ousadia "de pensar que a Namíbia é do Governo da SWAPO. Não, a Namíbia é dos namibianos".
Segundo Chicoca, a Namíbia deveria seguir o exemplo da Africa do Sul. "Eu penso que no contexto da Namíbia devíamos fazer o que a África do Sul fez: uma comissão da verdade. Falar a verdade, haver um perdão. Se não fizerem isto, vão deixar a carga negativa para as futuras gerações", conclui Chicoca.