O medo do fundamentalismo no Egito
4 de fevereiro de 2011Centenas de milhares de manifestantes protestam nas ruas do Egito desde o dia 25 de janeiro, exigindo a demissão do presidente Hosni Mubarak, que governa o país desde 1981. Os países ocidentais defendem oficialmente a passagem para a democracia no país, mas temem uma tomada do poder pelo principal movimento da oposição egípcio, a Irmandade Muçulmana, e a transformação do país numa república islâmica.
Mubarak - a "garantia" contra o fundamentalismo
No Ocidente, Mubarak, foi considerado, durante muito tempo, a garantia de que os fundamentalistas permaneceriam longe do poder. A revolta popular despertou no Ocidente o medo de uma islamização do país. Um temor que carece de fundamento, diz o especialista em questões islâmicas, Lutz Rogler, salientando a profunda transformação que o movimento da Irmandade Muçulmana atravessou nos 80 anos da sua existência: "Não é um grupo puramente militar. Dentro do movimento existem diferentes gerações e correntes. “Além disso, a Irmandade já se abriu a princípios democráticos e à cooperação com outras forças da oposição."
A Irmandade Muçulmana foi criada em 1928 pelo professor egípcio Hassan Al-Banna como movimento de reforma. O objetivo era formar uma sociedade orientada pelos valores muçulmanos. Só depois da Segunda Guerra Mundial é que a Irmandade se transformou num movimento de massas no Egito. Em 1954, quando o grupo levou a cabo uma tentativa de golpe de estado contra o então presidente, Gamal Abdel Nasser, o movimento foi dissolvido e muitos dos seus membros executados.
Maior força da oposição - a Irmandade Muçulmana
No final dos anos 70, o movimento regressou à cena política. Desde então, ganhou grande peso como força de oposição. Além do trabalho político, o movimento construiu hospitais e criou serviços sociais, o que fortaleceu a sua posição, sobretudo junto dos mais cadenciados. Continuou proibido como partido. No entanto, desde 2005 detém um quinto dos assentos na assembléia nacional, através da eleição de candidatos nominalmente independentes, mas próximos da Irmandade. E nos últimos dias, o movimento juntou-se aos protestos em prol da liberdade e da democracia, sem que, de acordo com a sua posição oficial, isso seja entendido como revolução islâmica.
Entretanto o movimento foi acusado de simplesmente esperar pelo momento certo para tomar o poder. Na passada sexta-feira, 4 de fevereiro, o guia supremo da Irmandade no Egito, Mohammed Badie, declarou estar pronto a dialogar com o vice-Presidente, Omar Suleiman, depois da saída do Presidente Hosni Mubarak. E Hilmi Djasar, uma das personalidades mais importantes da irmandade, rejeita a acusação de expediente político: "A Irmandade Muçulmana quer ter a oportunidade de ser eleita pelo povo – tal como todos os outros partidos", disse Djasar, acrescentando que o mundo verá então "um exemplo de democracia, na qual a Irmandade Muçulmana também participa e não domina."
Apesar dos esforços da Irmandade de se apresentar como partido democrático moderado, o Ocidente teme um vazio no poder depois da queda de Mubarak. A ausência de liderança política, dizem muitos, poderá ser aproveitada por islamistas como meio de chegar ao poder. Uma preocupação que o perito em questões islâmicas, Lutz Rogler, não partilha, já que, como diz, mesmo que sejam realizadas eleições livres, ainda não é certo que a Irmandade obtenha a maioria dos votos. Afinal, para os jovens manifestantes, o programa da Irmandade continua pouco atrativo. E o movimento muçulmano, por seu lado, não se identifica com as exigências dos protestantes.
Autor: Nader Alssaras/Cristina Krippahl
Revisão: Marta Barroso