O legado de Obama em África
20 de janeiro de 2017Multidões em êxtase encheram as ruas de Accra, capital do Gana, durante a primeira visita de Barack Obama ao continente africano como Presidente dos Estados Unidos, em 2009. No Parlamento, o Presidente norte-americano, filho de pai queniano, lembrou as suas raízes. Obama pediu aos africanos que tomassem as rédeas do seu destino, eliminassem a corrupção e exigissem responsabilidade aos seus líderes.
Avisos vão perdurar
Para Alex Vines, que dirige o programa africano no instituto de pesquisa britânico Chatham House, este foi "um discurso muito influente naquele momento particular”.
"Alguns desses pensamentos e avisos vão perdurar, mesmo que neste momento não estejam tão em voga”, acrescenta Vines.
O entusiasmo não abrandou. Barack Obama continuou a arrastar grandes multidões nas visitas que se seguiram ao continente. Ainda assim, muitos africanos estão desiludidos com o seu desempenho. Sentem que Obama não cumpriu muitas das promessas que fez nos seus discursos.O analista político queniano Martin Oloo relativiza: "De zero a dez, dou-lhe um seis. Seis, porque ele percebeu os problemas de África”. O analista considera ainda que o Presidente americano esteve também "constrangido” por outras questões do continente, como "a falta de prestação de contas, a má governação e os desafios da liderança”. "Uma liderança que não é recetiva”, acrescenta Oloo.
Mais atenção para África depois de 2012
Com uma crise económica latente nos Estados Unidos, o aumento do desemprego e os focos de problemas externos como as guerras no Afeganistão e no Iraque, Barack Obama nem sempre teve tempo para África nos primeiros anos de governação. Mais tarde, tentou redimir-se.Em 2012, lançou uma nova estratégia africana, classificando o continente como uma potencial história de sucesso económico. Um ano depois, foi ao Senegal, à África do Sul e à Tanzânia. Em 2015, visitou finalmente o Quénia, a terra do seu pai. Foi também o primeiro Presidente dos Estados Unidos a discursar na União Africana.
Durante este período, o Governo norte-americano enviou também forças especiais a África em busca do "senhor da guerra” ugandês Joseph Kony. Destacam-se também as intervenções na crise do Sudão, especialmente para salvar o referendo à independência do Sudão do Sul, em 2011.
Obama foi igualmente alvo de críticas por parte das organizações de defesa dos direitos humanos, condenando a cooperação dos serviços secretos norte-americanos com países como o Sudão e a Etiópia. Ao mesmo tempo, continuou a levar a cabo ataques com drones contra alegados extremistas islâmicos na Somália, tal como o seu antecessor, George W. Bush.
Cimeira Estados Unidos - ÁfricaEm agosto de 2014, Barack Obama foi anfitrião da primeira cimeira Estados Unidos-África que juntou cerca de 50 líderes africanos em Washington. Na ocasião, o líder norte-americano enalteceu África como um continente de oportunidades e anunciou um pacote de investimento de 31 mil milhões de euros. Este foi, defende Alex Vines, um sinal de viragem.
"Este apoio foi uma mudança do foco da política norte-americana, do humanitarismo e do contraterrorismo para o ênfase em África como um continente do futuro, mas também de comércio e crescimento”, afirma.
Para Vines, é clara a parte do legado de Obama que será lembrada em África: o comércio, mais do que o apoio ou a segurança.
*Artigo publicado a 17 de janeiro, atualizado a 20.01.2017