O grande problema do lixo em Kinshasa
4 de dezembro de 2018Quem chega a Kinshasa depara-se com lixo por todo o lado. Na estação central de comboios da capital congolesa, os transeuntes são obrigados a serpentear por entre pilhas de entulho. Ao passar, os carros levantam nuvens de poeira, sacos de papel e plástico.
Muitas pessoas ficam agoniadas com tanto lixo: "O lixo mete-me nojo. Não percebo porque é que as pessoas atiram garrafas vazias e plástico para as ruas, em vez de porem no contentor", diz uma cidadã congolesa em entrevista à DW. "Parece que nós, congoleses, não gostamos do nosso país. Se gostássemos, não permitiríamos que as cidades afundassem em lixo", acrescenta outra.
Riscos para a saúde
Jules Mulimbi trabalha no departamento para o Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Conselho Municipal de Kinshasa e mostra-se preocupado com o estado da cidade. "Acho que um ambiente saudável é um direito humano fundamental", afirma. Mas na República Democrática do Congo este é um direito que é pouco respeitado. Segundo Mulimbi, o problema não tem só a ver com a ineficácia na recolha do lixo. Os habitantes de Kinshasa também não ajudam: "A solução parte de cada cidadão e de cada família. Se todos colocassem o lixo à porta de sua casa, teríamos resolvido parte do problema", diz.
Antes, Kinshasa era famosa pela sua beleza. Agora, é conhecida pelo lixo. "É um problema que acarreta grandes riscos para a saúde", comenta Jeanne, uma jovem habitante de Kinshasa. No seu bairro, "muitas das calhas estão entupidas com sacos e garrafas de plástico. A água não escoa, quando chove. Na época das chuvas, a maior parte dos bairros pobres fica inundada." No bairro de Pakajuma, a cerca de três quilómetros da estação central de comboios, há pilhas de lixo por todo lado, onde crianças e animais andam à procura de alimentos. Água escoa das pilhas, está calor e há um cheiro agoniante a lixo no ar. Aqui, latrinas são consideradas um luxo.
Megacidade sem gestão de resíduos
"Olhe só como as pessoas vivem! Não admira que haja tantos casos de cólera nesta zona", afirma Mimi Mututu, coordenadora adjunta da organização não-governamental "Logos Premier", que está a tentar ajudar a limpar o bairro de Pakajuma. "As pessoas usam água imprópria para consumo, seja para se lavarem, seja para beber ou cozinhar."
O lixo é colocado nas ruas - um perigo para a saúde, explica Mututu: "As pessoas vivem num ambiente sujo. Por isso, há casos de malária, febre tifóide, cólera e outras doenças."
A população de Kinshasa cresce exponencialmente. A capital congolesa é a terceira maior cidade de África, depois do Cairo e de Lagos, com 17 milhões de habitantes. Estima-se que, todos os dias, são produzidas na cidade 9.000 toneladas de lixo. Mas não parece haver uma estratégia de gestão de resíduos sólidos em Kinshasa. Até 2015, a União Europeia apoiou a cidade a gerir os resíduos, mas a ajuda foi suspensa e o problema do lixo piorou.
A solução está ao alcance da cidade: é necessário, por exemplo, construir um sistema de canalização para escoar as águas residuais nos bairros pobres. É preciso ainda o recolher o lixo em contentores apropriados e, depois, queimá-lo ou prepará-lo para ser reciclado. O lixo podia tornar-se um negócio lucrativo, comenta o especialista Jules Mulimbi, do Conselho Municipal de Kinshasa. "O processamento e a reciclagem do lixo são, de facto, um grande desafio para as autoridades. O problema é que não é algo que se possa resolver só a nível local, é preciso haver uma cooperação com as províncias."
Mimi Mututu, da organização não-governamental "Logos Premier", diz que há muitas oportunidades por explorar: "O lixo é valioso. Tem materiais preciosos, que podem ser reciclados. O Governo deveria fazer o máximo possível para reconhecer o valor do lixo e tirar proveito dele. Antes, quase só se reaproveitava o ferro. Mas agora tentamos também separar o plástico duro. Acho que vamos ganhar esta guerra. Temos de sensibilizar as pessoas. Primeiro que tudo, é preciso informá-las sobre os perigos do lixo."
Segundo as autoridades congolesas, serão precisos 12 milhões de dólares por mês para resolver a situação do lixo, um montante que deverá ser financiado através de novos impostos. Até lá, os habitantes de Kinshasa continuarão a ter de serpentear por montes de lixo, arriscando a saúde.