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As vidas exorbitantes dos filhos de Filipe Nyusi

4 de junho de 2021

Os filhos do PR de Moçambique não se coibem de exibir vidas faustosas, de origem inexplicável, enquanto os seus compatriotas vão empobrecendo cada vez mais em Cabo Delgado e não só. A indignação toma conta do povo.

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Parte da família Nyusi durante uma visita ao papa Francisco no Vaticano, em 2018. (Foto ilustrativa)Foto: Getty Images/AFP/A. Pizzoli

Indignam e dão que falar nas redes sociais as imagens do ostentoso casamento do filho mais velho do Presidente da República (PR) de Moçambique, Jacinto Ferrão Filipe Nyusi. Parte da cerimónia, restrita, terá acontecido no Consulado de Moçambique no Dubai e a outra parte, mais sumptuosa, num hotel luxuoso, onde a diária mais barata ronda os mil euros e a festa de um casamento custa cerca de 250 euros a cabeça. O descendente de Filipe Nyusi disse o "sim" num lugar idílico, numa imensidão de flores brancas que de plástico não devem ser... Uma celebração que terá iniciado nas caríssimas Ilhas Maldivas.

A celebração sumptuosa acontece numa altura em que país vive uma guerra em Cabo Delgado e o Governo não tem meios suficientes para acabar com ela e nem para assistir condignamento os deslocados de guerra, dependendo de apoio externo.

Em abril, numa entrevista à DW sobre o terrorismo no norte do país, o pesquisador português Fernando Cardoso colocou o dedo na ferida, afirmando que "[os governantes] preocupam-se com os maseratis dos filhos, com as festas dos filhos e com eles próprios. Isto afasta a população do Governo. E estamos perante uma população em Cabo Delgado, que por um lado, vê uns a cortarem os pescoços e os outros a não quererm saber deles para nada. E se querem saber é para lhes pagarem meios tostões para sairem das terras que cultivavam ou das áreas onde pescavam para a mineração e depois para as comissões, etc."

Os desmandos e a impunidade

A população mais carenciada ficou mais pobre devido às limitações causadas pela pandemia de Covid-19 e também por causa das dívidas ocultas, um processo manchado por corrupção em que o nome do Presidente aparece envolvido.

Contudo, até hoje o "empregado do povo" não esclareceu ao seu "patrão" sobre as alegações. Segundo o Centro de Integridade Pública (CIP), "dois milhões de moçambicanos foram empurrados para a pobreza absoluta, de 2016 a 2019", por causa do maior escândalo financeiro do país, que envolve cerca de dois mil milhões de euros.

Os filhos do Presidente há anos que atingem os moçambicanos não apenas com a ostentação, mas principalmente com o desrepeito pelas leis e regulamentos do Estado.

Ainda em abril passado, o filho recém casado, Jacinto Ferrão Filipe Nyusi, deu uma faustosa festa em Moçambique, com direito a estrelas da praça local, e, supostamente, até com direito a guarda paga pelos impostos do cidadão, num claro desrespeito ao confinamento determinado pelo PR. Isso causou revolta, afinal a mensagem que se passa é de que as leis são apenas para o povo.

O PR tem ainda um filho que já habituou os moçambicanos aos seus desmandos, Florindo Nyusi, sendo os rallys de carros de alta cilindrada pela cidade de Maputo os mais conhecidos. A polícia é desautorizada e se deixa evidente a impunidade.

Por outro, não estão justificadas as origens dos bens que o clã Nyusi exibe. Com menos de 40 anos, os filhos não terão tido a oportunidade de acumular o que ostentam. 

Por exemplo, em finais de 2019, o CIP revelou que "Jacinto Ferrão Filipe Nyusi, filho do Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, em julho de 2014, adquiriu uma vivenda localizada num bairro da elite, em Cape Town, avaliada em mais de 245 mil euros, e em Outubro de 2017, vendeu o mesmo imóvel". 

Discrição e bom senso importam?

"O que os olhos não vêem o coração [partido] não sente", diz o adágio popular. Alguns moçambicanos indignados nas redes sociais são apologistas da discrição e do bom senso, mesmo que as vida luxuosa que ostentam seja de origem lícita. Mas estarão eles interessados nisso?

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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