Nova capital do Egito aguarda primeiros habitantes
27 de dezembro de 2022O Governo egípcio deverá começar 2023 já nas novas instalações. Da sobrelotada cidade do Cairo, onde vivem 20 milhões de habitantes, passará para uma cidade periférica, a 60 quilómetros de distância, denominada "Nova Capital Administrativa", localizada no meio do deserto e concebida para receber seis milhões e meio de habitantes.
São atualmente as maiores obras do Egito. Trabalham aqui dezenas de milhares de funcionários. Vinte edifícios do futuro bairro comercial e financeiro já estão concluídos.
O jovem engenheiro civil Hany Mohamed não esconde o entusiasmo: "A capital administrativa será o farol da vida aqui no Egito. Todos gostarão de cá vir, nem que seja só por um dia. Será maravilhosa."
O edifício mais alto do continente
Hany Mohamed está no ponto mais alto das obras, onde em breve deverá estar concluída a "Iconic Tower" - a Torre Icónica. É assim que se chama o arranha-céus mais alto da nova capital administrativa, com 385 metros de altura, que também passará a ser o edifício mais alto de África.
Já em 2023, empresários e turistas poderão ficar alojados no hotel de 5 estrelas da Torre Icónica ou comprar o seu próprio apartamento - a preços a partir de 350.000 euros.
Do topo, no 78º andar, veem-se os edifícios da super-cidade. A seus pés, o novo Parlamento, com o mastro de bandeira mais alto do mundo. Ao lado, duas dúzias de enormes edifícios onde ficarão instalados os ministérios, ao longo da larga avenida. Além da nova mesquita, a Catedral da Natividade de Cristo - a maior do mundo árabe - e, sobretudo, filas intermináveis de apartamentos - com seis, oito ou até dez andares de altura - que se estendem até ao horizonte, no meio do deserto. Um dia, deverão viver aqui seis milhões e meio de pessoas.
"Cidade de sonho" já com problemas
Para o engenheiro civil Hany Mohamed, é uma cidade de sonho: "Quem não viver na Nova Capital Administrativa no futuro, sentir-se-á como se não estivesse sequer no Egito."
Mas, por enquanto, a nova capital continua a ser uma cidade-fantasma: sem lojas, sem restaurantes e centros comerciais vazios. O vento do deserto sopra areia e poeira pelas fachadas.
No bairro residencial denominado R 3 já vivem os primeiros cinco residentes - apesar de os elevadores ainda não estarem a funcionar. Mas provavelmente este é apenas um dos muitos problemas.
Um dos novos residentes filma as deficiências do seu novo apartamento e publica os vídeos na Internet: "Aqui o esgoto corre pelo porão porque os canos estão mal isolados", diz a voz no vídeo. "E quando regam o jardim lá fora, a água infiltra-se nas paredes."
Críticas à porta fechada
"O que se deveria esperar com tanta corrupção?", pergunta no vídeo o novo residente, cujas críticas lhe podem trazer problemas com a polícia.
Afinal de contas, a nova capital é o projeto de prestígio do Presidente Abdel Fatah Al-Sisi. Diz-se que o Egito investiu o equivalente a 60 mil milhões de euros na nova capital - a maior parte a crédito.
Uma soma que não poderia ter sido utilizada para construir novos apartamentos no Cairo, onde milhões de pessoas vivem em bairros de lata? - perguntam muitos cidadãos.
Perguntas que só podem ser feitas à porta fechada no Egito, já que os cidadãos devem orgulhar-se da sua nova capital administrativa, mesmo que a maioria das famílias egípcias não tenha meios para comprar um apartamento lá.