Nos jornais alemães, pirataria na África vai de leste a oeste
A pirataria no Oceano Índico, no litoral do chamado Corno de África, está diminuindo, relata uma matéria publicada nesta quinta-feira (27.12) no jornal Süddeutsche Zeitung.
A (boa) notícia, no entanto, não tarda a ganhar contornos negativos: ao mesmo tempo em que se registra queda na pirataria no leste, a costa ocidental africana registra um aumento de assaltos a navios - mais precisamente no Golfo da Guiné.
O jornal lembra que, a 23.12, piratas tomaram um navio petroleiro diante do litoral nigeriano, fazendo quatro tripulantes de refém, incluindo três italianos. Navios da marinha nigeriana conseguiram recuperar o navio - mas não há pistas nem dos piratas, nem dos sequestrados.
"Faz tempo que a indústria petrolífera no Delta do Níger é vulnerável a ataques de bandos militantes", diz o texto do Süddeutsche Zeitung. "Mas, agora, observa-se que os locais dos assaltos no mar se alastram entre a Nigéria, os Camarões, a Guiné Equatorial, o Togo, o Benin e também no litoral das ilhas de São Tomé e Príncipe".
O Süddeutsche Zeitung cita também uma análise do International Crisis Group, que diz que os piratas aprenderam rápido que "o cinturão tropical da África ocidental está se transformando numa das áreas marítimas mais perigosas do mundo" e que os países afetados "pouco têm a fazer contra a tendência, porque têm marinhas fracas e principalmente porque a corrupção das redes criminosas transnacionais cria condições ideais para a pirataria". Desta forma, descreve o jornal, os grupos de piratas conseguem "comprar informações sobre os objetos futuros dos ataques e, ao mesmo tempo, escapar dos controles militares e policiais por meio de suborno".
Roubo de petróleo em grande estilo
Assim, o "tráfico de drogas e a lavagem de dinheiro" se espalham pela África. "O roubo de petróleo em grande estilo derrama milhares de milhões de dólares em canais obscuros, gângsteres do sequestro transformam o Delta do Níger numa zona extremamente perigosa".
Ao mesmo tempo, os "bandidos somalis" não têm as mesmas facilidades de antes, constata o Süddeutsche Zeitung. Em 2011, segundo o diário alemão com sede em Munique, os ataques piratas a navios no litoral do Corno de África somaram "três vezes mais que em 2012", ano em que os piratas "só conseguiram dominar cerca de uma dúzia de navios".
A razão para essa queda na pirataria no Oceano Índico, é, por um lado, "das patrulhas marinhas internacionais", que estaria conseguindo pelo menos coibir parte da atividade pirata na região - esta, por outro lado, ainda é "um bastião pirata".
Na África Ocidental, o presidente do Benin já tinha antevisto o perigo da pirataria e pediu ajuda às Nações Unidas numa carta oficial endereçada ao secretário geral da organização, Ban Ki-moon. "Mas pirata não é igual a pirata", diz o Süddeutsche Zeitung. "Muitos dos assaltos [no oeste da África] acontecem próximos à costa, onde os próprios países teriam de intervir. [Mas] Os piratas somalis viajam milhares de quilômetros pelo mar - e não existe um país que possa agir contra eles", afirma o texto.
Sudão e Sudão do Sul continuam disputas
Na semana em que o primeiro-ministro etíope Hailemariam Desalegn viajou tanto a Cartum, capital do Sudão, quanto a Juba (Sudão do Sul) para fazer avançar o processo de paz entre os dois países, o governo russo exigiu do Sudão do Sul uma rápida investigação para o abate, a tiros, de um helicóptero russo da Organização das Nações Unidas (ONU). "O incidente trágico mostra como o governo sul-sudanês em Juba é impotente diante dos conflitos no jovem Estado [que se tornou independente do Sudão em julho de 2011]", escreve o jornal suíço em língua alemã Neue Zürcher Zeitung.
A queda do helicóptero matou quatro tripulantes russos na última sexta-feira, 21.12, no Estado sul-sudanês de Jonglei, na fronteira com a Etiópia. A região é palco de confrontos entre o governo e rebeldes da etnia minoritária dos Murle, mas há vários anos conflitos entre várias etnias assolam a área.
"Há cerca de um ano, milícias da etnia Lou-Nuer invadiram a região de Pibor. Segundo a ONU, mais de 900 pessoas da etnia Murle foram mortas e dezenas de milhares deslocadas. Milícias do povo Murle retaliaram contra os Lou-Nuer e os Dinka, vistos como cúmplices do primeiro gurpo. O exército governamental tentou aplacar os confrontos com uma medida policial disfarçada de ação de desarmamento - mas a medida acabou numa onda de violências sexuais e corporais contra civis - especialmente Murle", lembra o jornal.
O governo de Juba, em vez de aceitar as críticas internacionais, "procura abrigo na repressão de grupos independentes e internacionais de defesa dos direitos humanos".
Em abril deste ano, uma nova rebelião liderada pelo Murle David Yau Yau, que teria o apoio de uma milícia criada durante a guerra civil em Cartum, capital do Sudão. Cartum, segundo o Neue Zürcher Zeitung, estaria dando apoio a Yau Yau.
"Novos massacres no Quênia"
Titula o mesmo jornal, Neue Zürcher Zeitung, em matéria do último sábado (22.12), apontando para a região de Tana River, naquele país oriental africano. Na sexta-feira (21.12), um "incidente sangrento" ocorreu no vilarejo de Kipau, quatro meses depois de uma disputa entre agricultores da etnia Pokomo e criadores de gado Orma.
O "incidente" mais recente teria sido protagonizado por agressores "aparentemente Pokomo", que atacaram Kipau e mataram dezenas de habitantes do vilarejo. "Entre as 30 vítimas fatais, estariam nove agressores - o que indica que o vilarejo esperava o ataque e que os cidadãos se defenderam".
Desde agosto, quando ocorreram os primeiros ataques, o governo queniano enviou vários funcionários para Tana River, mas "de uma maneira ainda não explicada", as forças de segurança "não atuaram". De acordo com o Neue Zürcher Zeitung, uma possibilidade para o novo massacre é uma relação com as eleições quenianas que ocorrerão em março de 2013. "Não são eleições apenas legislativas e presidenciais, mas também autárquicas. É bem possível que aconteça em Tana River algo parecido com o que ocorreu em Samburu: políticos locais adotam medidas de 'limpeza' étnica para enfraquecer o número de apoiantes dos rivais eleitorais".
África do Sul, entre segurança e desigualdade
Enquanto a edição dominical (23.12) do diário Die Welt publicou uma entrevista com o ministro sul-africano, Marthinus van Schalkwyk, sobre a segurança de um país que - desde o Mundial de futebol de 2010 - se tornou um "simpático destino de viagens aos olhos do mundo", a edição dominical do Frankfurter Allgemeine Zeitung deu destaque à desigualdade que reina na África do Sul ainda no rescaldo do congresso do partido no poder, ANC - no dia 18.12, o presidente do país, Jacob Zuma, foi reeleito à liderança da formação.
Para o ministro do Turismo, Marthinus van Schalkwyk, a África do Sul beneficiou do Mundial de 2010 entre outros porque o torneio conseguiu "melhorar a imagem do país no exterior, também no que diz respeito à capacidade de realizar novos grandes eventos".
Para dar conta dos 15 milhões de turistas que deverão ir anualmente à África do Sul até 2020, van Schalkwyk aposta nos objetivos "mais diversificados" dos viajantes, que querem "ligar certos valores às férias. Por isso, estamos a desenvolver cada vez mais produtos de lifestyle (estilo de vida), como ofertas de compras, comida e vinho". Um departamento de "congressos" no ministério do Turismo também deverá dar conta dos viajantes de negócios.
Sobre a segurança no país, o ministro comparou Joanesburgo com Washington ou Nova York - "existem áreas que é melhor não visitar". Para combater a taxa de criminalidade ligada ao desemprego, Marthinus van Schalkwyk também afirmou na entrevista que "estamos interessados em dar emprego especialmente aos mais jovens. Pela primeira vez, o turismo faz parte do nosso plano de desenvolvimento. É o setor que mais cresce na nossa economia, contribui com cerca de 9% com o nosso Produto Interno Bruto. Há um enorme potencial de criação de empregos - ao mesmo tempo, essa criação é barata".
Autora: Renate Krieger
Edição: António Rocha