No Egito Presidente e oposição não manifestam interesse em dialogar
O encontro foi adido, mas ainda sem data marcada. A Comissão Eleitoral egípcia decidiu que a votação se vai realizar em duas fases, dia 15 de dezembro, como estava previsto, e adicionalmente no dia 22 do mesmo mês.
Enquanto isso, a oposição continua a manifestar-se nas ruas porque não confia na Irmandade Muçulmana, o partido do Presidente Mohamed Morsi.
Dos partidos da oposição só os religiosos moderados, como Abdel Moneim Abul Fotuh, parecem advogar o referendo sobre a nova Constituição, mas Fotuh admite que votaria contra o documento.
Nem mesmo a anulação do decreto do Presidente, que lhe dava poderes presidenciais reforçados, fez com que a oposição sossegasse. As manifestações na praça Tahrir continuam.
Oposição aproveita-se da boa vontade de Morsi
Elijah Zarwan, cientista no Conselho Europeu para Relações Exteriores no Cairo, diz que
quando Morsi faz decretos que indignam a oposição e depois cancela um, parece que ele está disposto a fazer compromissos.
Situação que leva o cientista a concluir que "isso faz com que a oposição pareça especialmente teimosa. Mas, entretanto os outros decretos mantém-se."
Elijah Zarwan lembra que a oposição já protestava contra a Constituição a ser votada, antes mesmo do decreto sobre o reforço dos seus poderes.
Foi isso que levou todos os membros não-islamicos a abandonarem a Assembléia constitutiva e na altura o decreto que dava mais poder a Morsi ainda não existia, remata o cientista político.
Manifestação, ainda é palavra de ordem da oposição
Abdul Bar Zahran, membro fundador do Partido dos Egípcios Livres, encorajou e continua a encorajar as manifestações do povo egípcio e protesta: "O Egito não merece um projeto de Constituição deste género porque o povo não aprova o seu conteúdo. Só foi apoiado pela Irmandade Muçulmana."
Como motivo adicional para o boicote do referendo, o político da oposição aponta a violência exercida pelo exército recentemente contra manifestantes pacíficos: "Pelo que vivemos e vemos, não se pode confiar mais neles. Nós vimos nas imagens [de vídeos das manifastações] e também vimos nas ruas como as milícias da Irmandade Muçulmana atacaram as pessoas."
Também a maioria dos manifestantes em volta do palácio presidencial no Cairo partilha da opinião de que, entretanto, a Irmandade Muçulmana atirou pela janela o resto da confiança que o povo poderia ter na formação política.
Falsas impressões, duvidosas reações
Num país em que o Presidente foi eleito livremente, as manifestações pacíficas deveriam ser permitidas, sem se correr o risco de se ser atacado, segundo Abdul Bar Zahran. Por isso para ele, sem observadores internacionais, o referendo é impensável.
O cientista político Elijah Zarwan acredita que a atual situação no Egito pode ser resumida da seguinte forma: "O que os motiva é a impressão de que a Irmandade e Morsi estão a abusar do mandato que receberam nas eleições."
Zarwan acrescenta que é um desejo de mostrar à Irmandade que eles podem estar no governo,.Contudo Zarwan refuta: "Mas isso não lhes dá o direito de fazer simplesmente o que querem."
Autor: Matthias Sailer/Carla Fernandes
Edição: Nádia Issufo/António Rocha