Nigéria: Boko Haram jura lealdade ao Estado Islâmico
9 de março de 2015Numa mensagem áudio divulgada através da conta do Twitter do Boko Haram, o líder do grupo nigeriano, Abubakar Shekau, anunciou este sábado (07.03) fidelidade ao movimento jihadista, que atua na Síria e no norte do Iraque.
No mesmo dia, uma série de novos atentados na Nigéria mataram pelo menos 58 pessoas e feriram outras 139, segundo o mais recente balanço da polícia.
A nova aliança entre o Boko Haram e o Estado Islâmico era este fim-de-semana o assunto mais comentado na capital do país, Abuja. "Agora que declararam o seu apoio a terroristas internacionais, acho que está na altura de o Governo da Nigéria juntar forças, incluindo de países vizinhos, para lutar contra os insurgentes", desafiou um cidadão nigeriano.
Desde o início da insurgência do Boko Haram, em 2009, já morreram mais de 13 mil pessoas morreram e cerca de um milhão e meio estão desalojadas.
Ofensiva militar
Os exércitos do Chade e do Níger lançaram este domingo (08.03) uma grande ofensiva militar contra o grupo radical Boko Haram no norte da vizinha Nigéria. A decisão de iniciar a ofensiva surgiu depois de o movimento islamista radical ter jurado lealdade ao Estado Islâmico.
A operação culminou com a recuperação da cidade de Damask ao Boko Haram. Morreram perto de 200 militantes do grupo radical e dez soldados do Chade de acordo com a agência de notícias AFP.
Milhares de soldados estão posicionados perto das fronteiras com o Níger e o Chade há mais de um mês. Desde o início da ofensiva regional, o Boko Haram já perdeu várias posições no norte da Nigéria.
Alguns analistas consideram que esta nova aliança mostra que o grupo nigeriano está cada vez mais sob pressão e, por isso, quer mostrar força.
Intercâmbio terrorista
Nos últimos meses já tinha havido sinais de estreitamento de laços entre o grupo nigeriano e o Estado Islâmico. Para se comunicar com o mundo exterior, o Boko Haram começou a emitir vídeos semelhantes aos produzidos pela organização jihadista.
Para o especialista em segurança Ryan Cummings, da consultora sul-africana red24, a curto prazo, a aliança entre o Boko Hraam e o Estado Islâmico é "mais simbólica" do que operacional. Mas isso não significa que esses laços não possam ser estabelecidos num futuro próximo.
"O Boko Haram não é o primeiro grupo africano a jurar lealdade ao Estado Islâmico. Houve juramentos semelhantes na Argélia, na Líbia e no Egito", lembra.
"O que é preciso ter em conta é que há grupos no continente africano que obviamente estão a operar como mandatários do Estado Islâmico, o que poderá servir para formarem algum tipo de aliança, que inclua troca de recursos e intercâmbio de combatentes."
O intercâmbio de informação e de combatentes entre grupos terroristas está, de facto, a intensificar-se. "Há ligações estreitas entre os diversos grupos terroristas. E não apenas por causa das crenças comuns", contou Ali Hassan, um antigo membro da milícia islâmica somali Al Shabaab, numa entrevista à DW África no final do ano passado:
Segundo Hassan, "muitos membros influentes do Boko Haram foram treinados em campos na Somália. Combatentes da Al Shabaab também viajam sempre para treinos no Iémen e vice-versa. Há muitas ligações deste género."