Nigéria anuncia enterro coletivo de vítimas de repressão
24 de julho de 2023As autoridades estaduais de saúde de Lagos anunciaram que 103 corpos, que ficaram nas morgues de Lagos desde os protestos de outubro de 2020 e não foram reclamados por familiares, serão enterrados em breve num "enterro coletivo".
A secção nigeriana da organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional exigiu esta segunda-feira (24.07) que as autoridades "abandonem estes planos" e que, em alternativa, sejam realizadas "autópsias transparentes" para que as identidades das 103 vítimas possam ser publicadas e as circunstâncias das suas mortes reveladas.
"É chocante que o governo do estado de Lagos nem sequer tenha mencionado que tem guardado os corpos de 103 vítimas do #EndSARS desde outubro de 2020", disse o diretor da organização, Isa Sanusi.
Os protestos de 2020
As manifestações de 2020 contra a violência das forças de segurança foram as maiores do género na história moderna da Nigéria. As principais cidades do país foram palco de protestos antigovernamentais, integrados no movimento #EndSARS ("acabar com a SARS"), o nome de uma unidade especial da polícia acusada de extorsão, tortura e assassínio.
A 20 de outubro de 2020, o Exército e a polícia dispararam contra os manifestantes do #EndSARS na portagem de Lekki, em Lagos. O governo estadual rejeita as acusações, mas a Amnistia Internacional afirmou que as forças de segurança mataram pelo menos 10 pessoas nesse dia, em Lagos, e muitas outras noutros pontos do país. Testemunhas viram as forças de segurança a levar os corpos em carrinhas.
Um painel de investigadores disse que a repressão em 2020 correspondeu a um "massacre".
Segundo as autoridades locais, os 103 corpos que ficaram nas morgues de Lagos não estão relacionados com a manifestação em Lekki. Teriam sido recolhidos noutras zonas.