Namíbia: Povo Nama e o legado do genocídio
10 de maio de 2017O genocídio na Namíbia fez com que os antepassados de Johannes Matroos ficassem sem as suas terras. Matroos é um dos líderes tradicionais do povo Nama. Nasceu em Heiraxabis, no entanto, e por "causa do genocídio", os terrenos que o seu clã detinha há um século já não lhe pertencem.
Em 1904, os povos Herero e Nama revoltaram-se contra o Governo colonial alemão, e as tropas germânicas dizimaram os revoltosos. Estima-se que, até 1908, tenham morrido mais de 75.000 hereros e namas. Outras fontes falam inclusive em 100 mil mortos. Só há cerca de dois anos atrás é que o governo alemão se referiu a estes crimes, e pela primeira vez, como "genocídio".
Para o clã de Matroos, a guerra terminou em 1906, altura em que assinou um acordo de paz com o exército colonial alemão. No entanto, a paz teve consequências que se prolongam até aos dias de hoje.
Como conta Johannes Matroos, "depois do tratado de paz, em que entregámos as armas, fomos forçados a sair daqui, de Heiraxabis, para Warmbad e Heibxabis. E perdemos as nossas terras". Hoje, as terras do local onde nasceu Matroos são propriedade da Igreja Católica. A maior parte é explorada por agricultores comerciais.
O Governo da Namíbia tem tentado comprar os terrenos para distribuir por quem não os tem. Mas o processo é moroso. O líder do povo Nama não esconde o seu ceticismo. "Esta questão das terras ainda não foi discutida - nós queremos as nossas terras de volta. Mas o Governo só fez este programa de reassentamento, que não serve para nós, porque não recuperámos terras", afirma.
Povos esperam compensações
Alguns líderes tradicionais dos povos Herero e Nama apresentaram queixa contra a Alemanha num tribunal em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América, exigindo uma indemnização pelo genocídio da era colonial. Ainda não se sabe se o pedido foi aceite. Johannes Matroos espera que sim, para conseguir comprar as terras e criar uma base de sustento para a sua comunidade. "Esperamos ser bem sucedidos no caso das compensações com o Governo e o Executivo alemão, para podermos ter terras e desenvolver o nosso povo", reitera.
Outro representante dos Nama, Salomon David Isaack, diz que o Governo namibiano também deve prestar contas. Isaack apela a um diálogo entre os proprietários das terras, o Governo e os sem-terra. Segundo Isaack, "há cidadãos sem terrenos que têm direito a eles" e que "pedem ao Executivo que encontre soluções". "Sem a participação de todos, não haverá um desfecho amigável", assevera.
Isaack espera também que a Alemanha desempenhe um papel importante em relação à questão das terras. Até porque, segundo ele, o atraso económico de muitas comunidades deve-se às expropriações forçadas durante o tempo colonial. Isaack não diz, em concreto, o que a Alemanha pode fazer. Diz apenas que "é preciso que leve esta questão a sério e que ajude a resolver este problema".