"Não falta dinheiro para o desenvolvimento da agricultura em Angola", diz chefe do IFAD
17 de março de 2014Após a sua primeira visita oficial a Angola, no início de Março, o presidente do Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura (IFAD), Kanayo Mwanze, já tem uma convicção.
"Atualmente, somente 2% do orçamento de Angola é aplicado em programas para o desenvolvimento da agricultura. Diante dessa falta de investimento, não surpreende que mais de 50% dos alimentos consumidos em Angola sejam importados", afirma.
O chefe do IFAD diz que não falta dinheiro em Angola para o desenvolvimento da agricultura. Para ele, a desigualdade social que hoje assola o país é consequência parcial da guerra.
"[O baixo investimento na agricultura] reflete diretamente nos contrastes sociais, com preços inflacionados que fazem de Luanda uma das capitais mais caras e desiguais do mundo", afirma o nigeriano.
Problema identificado
Ele ressalta que existem recursos para transformar essa realidade. Faltaria capacitação. Basta lembrar, conforme Nwanze, a vocação rural que Angola tinha antes da guerra.
"O governo reconhece a importância da agricultura. E quer usar os recursos que estão sendo gerados por meio da indústria extrativista - petróleo e diamantes - para financiar a agricultura", diz o presidente do IFAD.
Nwanze acrescenta que o mais importante é o poder público incentivar "capacitação para instituições e pessoas, além de promover investimentos maciços para o desenvolvimento rural", afirma.
Antes da guerra, Angola era quase auto-suficiente na alimentação. Mantinha produções importantes de cassava e coco. A guerra não somente destruiu todas as plantações, mas também resultou em uma grande migração das zonas de plantio para as cidades.
Segundo Nwanze, se o país conseguisse revitalizar esses sistemas alimentares, ao menos seria capaz de reduzir as despesas de importação.
"Penso que isso é essencial. Mais importante do que a competitividade no mercado internacional é a produção de alimentos suficientes para que a agricultura não seja somente de subsitência, mas que os agricultores possam alimentar suas famílias e comercializar o excedente", opina.
Capacitação disponível
Ele insiste que, se houver investimento de massa na agricultura, em 10 anos, Angola terá mudado, mas é preciso manter uma visão de longo prazo para que isso aconteça", adverte.
Nwanze diz que ouviu durante encontros com representantes do Banco para o Desenvolvimento de Angola (BDA), que "dinheiro não é problema."
"Angola tem dinheiro, não há dúvidas sobre isso. Minha discussão com o diretor executivo do BDA foi para saber como se pode capacitar o banco para que consiga avaliar propostas, ter pessoas para planejar e supervisionar os projetos."
O IFAD poderia atuar exatamente nesta área, segundo Nwanze. Poderia proporcionar "treinamento ao pessoal no próprio país ou em Roma para ajudar a criar as instituições nacionais", diz.
Atualmente, o IFAD apoia o desenvolvimento da agricultura em Angola, junto com o Banco Mundial, na chamada "Agricultura Familiar Orientada ao Mercado". O financiamento do programa é de 50 milhões de dólares, dos quais 9 milhões provêm do fundo internacional.
A partir de Setembro deste ano, um novo projeto voltado à pesca artesanal deve entrar em vigor, mas ainda depende de financiamento.