Myanmar: 18 mortos em manifestações pró-democracia
28 de fevereiro de 2021Equipas de resgate e um ex-deputado apontavam inicialmente para a morte de seis manifestantes, este domingo (28.02), em Myanmar (antiga Birmânia) por forças de segurança, quando estas dispersaram com violência manifestações pró-democracia. Horas mais tarde, a ONU atualizava o balanço: pelo menos 18 pessoas morreram e 30 ficaram feridas devido à repressão policial e militar.
Os manifestantes perderam a vida em novas manifestações contra o golpe militar de 1 de fevereiro. Myanmar está a viver mais um dia de manifestações em massa, após a violência policial de sábado, quando 479 pessoas foram detidas sob a acusação de "protestos contra o Estado".
Apesar da repressão violenta, milhares de birmaneses voltaram às ruas este domingo para rejeitar o golpe militar de 1 de fevereiro e exigir a libertação dos políticos eleitos detidos, incluindo a líder deposta e Prémio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi.
A polícia em Rangum, a antiga capital e cidade mais populosa de Myanmar, voltou a responder duramente, numa tentativa de dispersar a multidão e silenciar a dissidência contra os militares.
ONU condena repressão
As Nações Unidas já condenaram veementemente a repressão violenta da junta militar no poder contra os protestos em Myanmar, que provocaram pelo menos 18 mortes e mais de 30 feridos nas últimas horas.
"Condenamos veementemente a repressão cada vez mais violenta sobre os protestos em Myanmar e pedimos aos militares que parem imediatamente de usar a força contra manifestações pacíficas", disse Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU, num comunicado.
Nas últimas horas, houve um aumento acentuado da violência contra os manifestantes, com o uso de balas de borracha, canhões de água e gás lacrimogéneo, para além de munições reais, matando pelo menos 18 pessoas e fazendo mais de 30 feridos em várias cidades, incluindo Rangum, Dawei, Mandalay, Bago e Pokokku.
Com os níveis de violência a aumentar, a comunidade internacional manifestou a sua preocupação com a situação em Myanmar e, hoje, o Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações Unidas repetiu o apelo ao abandono de métodos violentos por parte das autoridades de segurança.
"Hoje, em várias partes do país, a polícia e os militares têm usado a força, às vezes letal, para dispersar protestos pacíficos. (...) O povo birmanês tem o direito de se reunir pacificamente para exigir o retorno à democracia. Esses direitos fundamentais devem ser respeitados pelos militares e pela polícia", diz o comunicado da organização.
Polícia usa "o mínimo de força", diz junta no poder
Até sábado, oito pessoas tinham morrido em resultado da violência desencadeada após o golpe, três delas mortas a tiro pela polícia, segundo dados da Associação de Assistência aos Prisioneiros Políticos na Birmânia, tendo sido detidas desde o início da revolta 854 pessoas, das quais 83 já foram libertadas.
A junta militar, chefiada pelo general Min Aung Hlaing, acusado de genocídio por alegadamente ter orquestrado a campanha de violência contra o grupo étnico rohingya em 2017, no oeste do país, afirmou que a polícia utiliza o mínimo de força contra as manifestações.
Os militares justificam o golpe de estado alegando fraude eleitoral cometida nas eleições legislativas de novembro, nas quais a Liga Nacional para a Democracia, partido de Suu Kyi, venceu por esmagadora maioria.
Tanto os observadores internacionais como a comissão eleitoral deposta pela junta militar após a tomada do poder negaram a existência de irregularidades, apesar da insistência de alguns comandantes do Exército, cujo partido detém 25% dos lugares no Parlamento.
A comunidade internacional tem anunciado sanções contra os líderes do golpe militar, incluindo o general Min Aung Hlaing, presidente do Conselho Administrativo de Estado e autoridade máxima em Myanmar.